Ao vivo: Em noite com poucas máscaras entre o público, Jungle celebra a música e o (re)encontro em São Paulo

Texto por Renan Guerra
Fotos por Fernando Yokota

Donos de uma deliciosa mistura de R&B, disco e soul, o duo inglês Jungle havia se apresentado por aqui no Lollapalooza Brasil 2016 e, depois, em 2019. Agora, como parte da turnê de seu disco “Loving in Stereo” (2021), a banda fez shows em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na semana que antecedeu as apresentações, teve um certo burburinho na internet de gente dizendo “nossa, nem sabia que teria esse show no Brasil”, mas o fato é que a apresentação de sexta-feira, dia 18, lotou grande parte dos 3 mil lugares da Audio, em São Paulo, em uma noite cheia de energia.

Antes de falarmos de Jungle, vamos falar do evento como um todo. Na divulgação do show, falava-se sobre uma after party organizada pela equipe da festa Selvagem, isso e nada mais. De todo modo, o evento tinha como show de abertura uma apresentação do produtor carioca Carlos do Complexo. Carlos é um dos nomes mais interessantes da atual cena de música eletrônica brasileira e lançou no final do ano passado o disco “Torus”. Essa foi a primeira apresentação do disco para o público e foi uma espécie de presente não-avisado para quem chegou cedo.

Durante a apresentação de Carlos, o público foi se aproximando e quando o show do Jungle estava prestes a acontecer, a casa foi se enchendo. E o clima era de show de arena: a cada pequena movimentação que se dava no palco, dando a entender que o show iria começar, o público se ouriçava. Repetidas vezes, gritos em coro pediam a entrada da banda no palco. E quando a dupla subiu ao palco foi aquela catarse geral que elevou a energia do local para outro nível.

O centro do Jungle é a dupla Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson, porém no palco eles se tornam uma banda robusta, com 7 integrantes no total, o que traz essa experiência grandiosa para o público. Antes da pandemia estávamos começando a ver alguns shows internacionais que traziam suas produções reduzidas para o Brasil, com mais bases pré-gravadas e quase nenhuma banda – um exemplo foi o show de St. Vincent em 2019. Por isso mesmo, nesse cenário de retomada de eventos, dá um ânimo a mais ver um show com palco cheio e com clima de festa.

Falando no tópico retomada de eventos, o show do Jungle aconteceu na semana em que o Governo Estadual de São Paulo definiu que as máscaras não são mais necessárias em ambientes fechados, por isso havia esse clima mais forte de retomada real dos eventos. É ainda um momento nebuloso e o uso de máscara se tornou uma escolha cada vez mais individual, por isso dentro do ambiente o que se viu foram poucas pessoas ainda usando a proteção.

Voltando ao show, o Jungle focou o set list da apresentação no disco mais recente, lançado em agosto do ano passado. E o que se presenciou foi mais uma prova daquela máxima de que não há público igual ao brasileiro: as pessoas cantavam a plenos pulmões e sabiam a maioria das canções na ponta da língua. Músicas como “Keep Moving”, “All Of The Time” e “Romeo” provaram a força da banda ao vivo, em um clima de balada, com luzes brancas marcadas e muito gelo seco que quase dificultavam a visão da banda no palco. De todo modo, isso só criava ainda mais essa ambiência de uma grande festa.

O hit “Casio”, do disco “For Ever”, de 2018, foi aparecer no bis e foi momento de catarse, para encerrar a apresentação de forma icônica. Foi praticamente uma hora e meia de show com a energia lá no alto, uma celebração da música e do (re)encontro, trazendo de novo aquela sensação única que apenas um show ao vivo consegue transmitir. Para encerrar a noite pós-show, a festa Selvagem trouxe para o palco os DJs Ney Faustini e Mary Olivetti – ela é um dos nomes no line-up eletrônico do Rock in Rio desse ano. No final da noite, a Audio ganhou esse clima de after party e a pista seguiu cheia madrugada adentro.

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava
– Fernando Yokota é fotógrafo de shows e de rua. Conheça seu trabalho: http://fernandoyokota.com.br/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.