entrevista por Luiz Mazetto
Mais conhecido por ter produzido verdadeiros clássicos do grunge como “Bleach” (1989), disco de estreia do Nirvana, “Screaming Life”, primeiro trabalho do Soundgarden, e “Superfuzz Bigmuff” (1988) e “Mudhoney” (1989), ambos do Mudhoney, entre outros discos históricos da Sub Pop (Tad, Screaming Trees, Mark Lanegan… a lista completa imensa está aqui), Jack Endino possui uma carreira bastante extensa e ampla, com mais de 600 álbuns produzidos em cerca de 35 anos, e que vai muito além de Seattle.
O currículo de Endino, traz, por exemplo, trabalhos com nomes importantes do rock alternativo como Afghan Whigs e L7, pesos pesados do metal, como Bruce Dickinson e High on Fire, e ainda registros com pioneiros do som pesado dos EUA, como Blue Cheer e Sonics. Isso sem contar as inúmeras viagens ao Brasil por conta de sua longa parceria com os Titãs, com quem produziu trabalhos como “Titanomaquia” (1993), “Domingo” (1995) e “A Maior Banda de Todos os Tempos da Última Semana” (2001) e “MTV ao Vivo” (2005) – no currículo “Brazil” ainda há trabalhos com Nando Reis, Baba Cósmica, Water Rats, 7 Kinds Of Monkeys e Mad Sneaks, entre outros.
Para além de sua carreira como produtor, o guitarrista norte-americano também fundou e tocou na cultuada banda Skin Yard, que encerrou as atividades em 1992, e desde então mantém uma sólida carreira solo, cujo quarto disco, o intenso e pesado “Set Myself on Fire” (2021) foi lançado no final do ano passado pela Capacitor Records. Gravado ao longo de vários anos e com diferentes músicos, incluindo seu parceiro desde os tempos de Skin Yard, Barrett Martin (Screaming Trees / Nando Reis) na bateria em muitas faixas, o álbum traz Endino provavelmente em seu auge como compositor e bastante à vontade como vocalista.
Na entrevista abaixo, feita por videochamada nos momentos finais de 2021, um falante e extremamente simpático Endino relembra todo o processo até o lançamento de “Set Myself on Fire”, fala sobre a importância de “Bleach”, do Nirvana, em sua vida, destaca sua constante proximidade com o metal e comenta sobre a sua longa e bem-sucedida parceria com os Titãs e Nando Reis. Confira abaixo!
Você acaba de lançar o seu quarto disco solo, “Set Myself on Fire” (2021). Queria saber por que o álbum demorou tanto tempo para ficar pronto – o seu full anterior é de 2005, mais de 15 anos atrás, além de um EP de 2013 intitulado “Rumble”? Pelo que vi, com exceção de “Earthworm” (1993), os seus outros trabalhos solos, “Permanent Fatal Error” (2005), produzido entre 1993 e 2005, e “Angle of Attack”, produzido entre 1982 e 1987, também levaram algum tempo para ficarem prontos. Você costuma ser mais perfeccionista com os seus trabalhos, ou foi mais uma questão de timing mesmo?
As duas coisas. Sou muito perfeccionista com o meu material. O problema é que as minhas referências são todas as bandas com quem trabalhei. Preciso comparar a minha música com algumas das bandas incríveis com quem trabalhei. E isso é difícil (risos). É complicado, porque coloquei a barra lá no alto para mim mesmo. Trabalhei com algumas pessoas incríveis e não quero fazer um disco que seja apenas ok. Sou muito duro comigo mesmo por conta do que sei que é possível. E tenho pessoas boas tocando comigo, isso não é um problema. Conheço tantos músicos e já estive em tantas bandas que há pessoas que posso chamar para tocar bateria, adicionar trechos de guitarra, o que for preciso. Mas a chave é ter as músicas. E eu não sou um compositor muito produtivo, então me leva algum tempo. O disco quase foi lançado em 2012. Eu tinha um disco finalizado, e uma gravadora com a qual tinha assinado, eles se chamavam Thin Records. Eles lançaram um EP com três músicas, um vinil de 12 polegadas. Mas por alguma razão, o dono da gravadora decidiu que gostava de um cover que eu tocava de “Rumble”, do Link Wray, que é uma música instrumental de 1958, e colocou essa versão no Lado A do single. E esse single seria a prévia antes do lançamento do álbum completo. Bom, a gravadora faliu, a esposa se divorciou do dono da gravadora, e de repente ele não tinha mais dinheiro, o que acabou com tudo isso. Enquanto tudo isso acontecia, eu montei uma banda, porque imaginava que teria um disco sendo lançado. Então montei uma banda, que era uma nova versão da Endino’s Earthworm, que era uma banda que tive nos anos 1990, com alguns amigos mais novos. Começamos a fazer muitos shows e comecei a escrever material novo. Em pouco tempo, tinha músicas novas, e de qualquer maneira não estávamos tocando muitas músicas do álbum que não foi lançado. Então pensei que deveria começar de novo e escrever um disco novo. No fim das contas, foi isso que aconteceu. E então foi uma questão de finalizá-lo. Foi preciso uma pandemia para eu conseguir finalizar o disco.
Mas então o disco é uma mistura das duas encarnações da sua banda, com músicas das duas fases?
É isso mesmo. Há muitas músicas no disco que gravei com o Barrett Martin em 2010. E então algumas músicas que são mais antigas que não consegui usar em outros discos. E então, não sei, acho que umas 6, 7 ou 8 músicas que são mais recentes, com os novos integrantes da banda. O desafio foi unir tudo de uma forma que soasse como um álbum coerente. E acho que consegui fazer isso.
Sim, realmente parece mesmo. Essa era uma das minhas perguntas, aliás. Porque o disco foi gravado ao longo de diversos anos, com diferentes músicos. Qual foi o segredo, vamos dizer, para manter essa visão coerente? Todas as músicas foram escritas apenas por você?
Todas as músicas foram escritas por mim, com exceção de algumas músicas, acho que duas, em que o baixista, Sam McDonald, trouxe linhas de baixo muito fortes, que pensei que valiam créditos de composição. E há outra faixa no disco que meu amigo Dan Matthews faz os vocais principais, e dei créditos de composição para ele nessa música. E o motivo é que eu tinha uma faixa instrumental que precisava de vocal e eu simplesmente não conseguia pensar em uma letra para ela. O Dan é um amigo antigo, ele é o dono da Capacitor Records, a gravadora que está lançando o álbum, e também toca em uma banda chamada The Black Clouds, com a qual já trabalhei em três discos. Acho que o conheço há mais de 10 anos. E eu sei que ele é bom, ele toca guitarra e canta, é um bom músico. Ele já ia lançar o disco de qualquer maneira, então falei “Ei, você conseguiria escrever a letra dessa música? É a única que preciso para finalizar o disco”. E ele cantou de uma maneira que eu nunca faria, eu não consigo cantar como ele, ele tem um tipo de voz mais gritada, crua, uma voz poderosa, que é muito diferente da minha.
E como você lida com o fato de ter músicas mais antigas no disco? Porque há pessoas que se cansam rapidamente das suas músicas e acabam sempre ficando mais animadas apenas com as coisas mais novas. Quando escuta o disco hoje em dia, chega a pensar algo como “Ah, gostaria de ter gravado outras músicas”?
Não, estou completamente feliz com o disco como ele está. Eu não desperdiço material. Se tenho uma música, ela será usada, vou usá-la eventualmente se puder encontrar um lugar para ela. A música mais antiga do disco é uma curta música instrumental chamada “Groove Suction”, que na verdade é dos anos 1980, da época da minha banda antiga, o Skin Yard. É uma música instrumental divertida porque o Skin Yard costumava tocá-la no bis quando ficávamos sem músicas para tocar e o nosso vocalista, Ben (McMillan), já estava sem voz, e as pessoas se recusavam a ir para casa. Você está no palco e as pessoas ficam “Mais uma, mais uma” e então nós pensávamos “Não temos mais músicas e nosso vocalista está acabado, cansado”, então tocávamos essa curta música instrumental punk, que tem cerca de um minuto, apenas para nos despedirmos. E nunca tinha encontrado um lugar para essa música até esse disco (risos). Tentei colocá-la no álbum anterior, mas ela não se encaixava em lugar nenhum (risos). Então nada é desperdiçado se for bom. Mas a maior parte do material é mais recente, é dos últimos 10 anos, o que na minha vida é recente (risos).
Já que você mencionou o Skin Yard agora, gostaria de saber como você vê o legado da banda hoje em dia, tanto tempo depois, quase 30 anos desde o fim do grupo? Tem algum disco favorito com a banda? E pensa que deveriam ter ficado juntos por mais tempo ou mesmo se reunido quando muitas bandas dos anos 1990 voltaram a tocar juntas, no início dos anos 2000…
Não, o nosso vocalista, o Ben, faleceu, nós o perdemos em 2008. Então não teremos uma reunião do Skin Yard. A banda fez o que se propôs a fazer, a nossa missão. Acho que o termo aqui é “missão cumprida”. Fizemos cinco discos e cada um é muito diferente do outro. Então estávamos sempre mudando e seguindo em frente. E penso que quando terminamos em 1992, nós já tínhamos feito o bastante, todos precisávamos fazer outras coisas. Eu fui e me tornei um produtor de discos. Ben McMillan formou o Gruntruck. O Barrett Martin entrou para os Screaming Trees. Na verdade, eu recebi uma ligação de um dos caras do Screaming Trees, em janeiro de 1992. Era o Van Conner, baixista da banda. Ele estava me ligando porque tinha ouvido falar que o Skin Yard iria acabar e queria ter certeza. Ele explicou que o Screaming Trees precisava de um baterista e eles estavam interessados em falar com o Barrett, mas não queriam acabar com o Skin Yard. Então ele me ligou para saber se estava tudo bem ele ir falar com o nosso baterista, e eu disse para ele ir em frente porque a banda tinha acabado: “Vá em frente, ele é seu. Divirta-se com ele, você vai ter bons momentos com esse cara” (risos). Então o Barrett tocou com o Screaming Trees a maior parte dos anos 1990, se não me engano, até eles acabarem (Nota: A banda encerrou as atividades em 1997). Então todos nós fomos fazer coisas maiores e melhores, na verdade. O Daniel, que era nosso baixista, passou anos à frente da C/Z Records. Tudo acabou dando certo. Sobre o legado da banda, isso é interessante. Como nós não éramos da Sub Pop, a não ser por um EP 7 de polegadas, fomos um pouco deixados de lado na época. Mas esse não parece mais ser o caso, já que muita gente parece ter descoberto a banda. Temos muitos streamings agora, as pessoas estão escutando as músicas. E fico feliz com isso, sou muito feliz com os discos que fizemos.
Mesmo com um som talvez menos punk do que outras bandas de Seattle da época, já que tinham menos ligação com o punk e mais com o metal e o hard rock, vocês tiveram uma atitude bastante punk, vamos dizer, quando decidiram acabar a banda para não virar um negócio porque vocês não queriam assinar com uma grande gravadora ou algo do tipo. Por isso, queria saber se foi uma decisão difícil na época, de decidir pelo fim da banda?
Não foi uma decisão difícil. Havia grandes gravadoras de olho na gente. Mas pessoalmente nós estávamos meio que cansados um dos outros. Falando por mim, eu pensei “Eu passei 7 anos com esses caras. Quero passar outros 7 anos com eles?” Você precisa fazer essa pergunta a si mesmo. O nosso vocalista já tinha uma outra banda, o Gruntruck, como um projeto paralelo, que tinha assinado com a Roadrunner. Então eu acabei gravando um disco deles, “Push” (1992), que se saiu muito bem na Roadrunner. Foi o momento certo para terminarmos a banda. Eu não estava interessado em estar em uma grande gravadora porque realmente não gostava do que estava vendo com os meus amigos que estavam assinando com grandes gravadoras. Havia muita burocracia, muito comportamento corporativo estranho. E algumas pessoas realmente não se deram bem ao assinar com uma grande gravadora: elas assinaram com uma major e suas carreiras meio que pararam. Talvez eles fizessem um disco e as gravadoras não sabiam como promover essa música. Uma boa parte dessa música deveria ter permanecido com as gravadoras independentes, porque as pessoas à frente das gravadoras independentes sabiam como divulgar essa música – e as grandes gravadoras não. Então, foi uma época estranha o início dos anos 1990, sabe? Muitas bandas independentes tiveram a chance de fazer um disco com uma grande gravadora e a maioria não chegou a lugar algum. Algumas das bandas voltaram a ser independentes e ficaram totalmente felizes com isso – como o Melvins, o Mudhoney. Eles fizeram alguns discos com grandes gravadoras e então disseram “É, não precisamos disso, podemos nos sair melhor por conta própria”. Então o Skin Yard talvez tenha desviado de uma bala, penso que saímos na hora certa. Porque logo depois que a banda terminou as coisas ficaram muito loucas. Acho que terminamos a banda logo quando o “Nevermind” (1991) estava chegando ao topo das paradas. E foi quando a minha carreira como produtor de discos realmente começou a decolar. Gosto de colocar as coisas dessa maneira: ficou óbvio para mim que o mundo estava mais interessado em mim como um produtor do que como um guitarrista. No entanto, eu não consegui parar e foi por isso que continuei lançando discos e tocando em bandas durante todo o tempo. Mas não finjo que serei um rock star ou algo assim. Eu faço isso porque eu gosto.
Voltando ao seu disco novo, “Set Myself on Fire”. O álbum me pareceu ainda mais pesado e agressivo do que seus trabalhos anteriores. Por isso, queria saber se essa leva mais nova de músicas foi influenciada de alguma maneira pela pandemia? E também se o fato de nos anos 2000 você parecer estar trabalhando mais com bandas de metal, como High on Fire, Windhand, Therapy, Black Tusk, Toxic Holocaust, sem contar o Zeke, teve alguma influência nesse sentido, de ter um disco mais pesado?
Não, eu sempre tive essa influência. O problema com o Skin Yard nos anos 1980 e 1990 é que o pessoal da Sub Pop achava que a gente era muito metal – ou muito progressivos. A gente não era punk o bastante para eles. Sou um cara de riffs, gosto de riffs de guitarra, de rock barulhento – sou um cara da guitarra. A pandemia não influenciou o disco porque a maioria das músicas… Na verdade, acho que todas as letras foram escritas antes da pandemia. É um disco liricamente pesado porque tenho pensado muito sobre a mortalidade nessas músicas. Porque estou ficando mais velho e estou perdendo mais e mais amigos, que foram ficando pelo caminho, seja por problemas médicos, com drogas ou acidentes. As pessoas morrem e a minha vez vai chegar. Então isso estava na minha cabeça. E quando a pandemia veio, quase pareceu que as letras eram sobre a pandemia. Eu não sei, acho que é uma coincidência – ou talvez eu estivesse pressentindo algo chegando.
Nos anos 1990, você produziu um dos meus discos favoritos, que é o “Skunkworks”. (1996), do Bruce Dickinson. Infelizmente, muita gente não concordou com isso na época do lançamento e o Bruce acabou voltando para o metal em seguida, o que foi ótimo, mas sempre me pareceu como uma oportunidade desperdiçada. Por isso, queria saber se acha que o disco foi ignorado de alguma forma? E também saber como foi para você produzir esse disco? Você era fã ou curtia o Iron Maiden de alguma forma?
Bom, eu não era um grande fã do Maiden, mas gostava muito dos três primeiros discos deles. Na verdade, dos quatro primeiros discos porque sou muito fã do “Piece of Mind” (1983), acho que é um álbum incrível. Então eu conhecia bem esses primeiros trabalhos da banda. Mas sobre o disco com o Bruce, a forma como aconteceu foi a seguinte: eu estava gravando uma banda da Irlanda chamada Kerbdog, que na época estava na Polygram do Reino Unido e era empresariada pela Sanctuary (Nota: empresa que empresaria o Iron Maiden há décadas – e na época também a carreira solo de Bruce Dickinson). Então o Bruce Dickinson escutou o disco (do Kerbdog) um ano depois e me ligou. Imagina só você receber uma ligação do Bruce Dickinson. Depois que me certifiquei de que era ele mesmo, nós conversamos e, no fim das contas, temos mais ou menos a mesma idade e coleções de discos muito parecidas. Então tínhamos muito sobre o que falar. Acabei passando mais de três meses no Reino Unido trabalhando nesse disco com o Bruce. Foi muito agradável e divertido. Tínhamos um bom orçamento, bons estúdios, me diverti muito fazendo o disco. O problema com o disco é que o Bruce não estava mais em uma grande gravadora, ele estava em uma gravadora independente. E, antes de o disco sair, a gravadora independente faliu e foi comprada por uma outra gravadora. Então o lançamento do álbum foi um pouco complicado. O que aconteceu é que ele foi não realmente muito bem promovido. E acho que ninguém nem sabia da existência do álbum nos Estados Unidos. Voltei para casa e ninguém sabia sobre o disco, o que foi lamentável. Acho que foi bem no Brasil, se não me engano alguém lançou o álbum por aí. O disco podia ter feito mais barulho na época. Acho que ele acabou se tornando o que seria chamado de um disco cult. Acho que muita gente não sabia que o disco existia, acho que não fez muito pela carreira do Bruce na época – ou para a minha carreira, já que ninguém sabia que eu tinha produzido o disco, mas eu escuto mais e mais sobre o disco agora.
O interessante sobre o disco é que o Bruce me ligou e disse “Eu quero fazer um disco que não soe como o Iron Maiden”. Ele disse que era um grande fã de algumas das bandas de Seattle com quem eu tinha trabalhado. Ele amava o Soundgarden, conhecia o Alice in Chains, todas as coisas de Seattle, o Nirvana, o Mudhoney. Na época ele tinha um programa de rádio na BBC, em que tocava discos – então estava sempre em contato com o que estava acontecendo, conhecia tudo sobre Seattle e sobre o que eu tinha feito. E ele me disse que queria fazer um disco moderno de rock pesado que não se parecesse com a sua antiga banda. E eu disse “Ótimo! Eu faço isso, me parece ótimo.”. Foi algo parecido com o que os Titãs me falaram quando fizemos “Titanomaquia” (1993), foi meio que a mesma missão: “Vamos fazer um disco de rock pesado moderno, com guitarras” e eu falei “É o que eu faço”. Então foi divertido fazer esse disco com o Bruce, mas no final das contas não funcionou para ele, já que para o disco seguinte ele arrumou uma outra banda, trouxe o Adrian Smith, ex-guitarrista do Iron Maiden, e fez um disco que soava mais com o Iron Maiden do que o próprio Iron Maiden na época, em que estavam com o outro vocalista (Blaze Bailey), e depois acabou voltando para o Iron Maiden. Mas esse disco, o “Skunkworks”, é algo completamente único, não soa como nenhum outro disco do Bruce. Gosto dele, acho que é um disco de metal, mas um tipo diferente de disco de metal.
Muitos dos discos que você gravou, especialmente no seu início de carreira com as bandas de Seattle, acabaram tornando-se muito importantes, como álbuns do Nirvana, Mudhoney, Soundgarden, TAD, Mark Lanegan, Screaming Trees, Green River. Além disso, mais recentemente você trabalhou com outras bandas importantes locais como U-Men e Sonics. Por isso, eu queria saber se há alguma banda de Seattle com a qual você ainda gostaria de trabalhar, mas nunca teve a chance?
Essa é uma pergunta difícil. Talvez o Pearl Jam. Sempre senti que poderia fazer um bom disco de rock com eles, se eu apenas fizesse o que costumo fazer. Mas eles se saíram bem sem mim, então não posso realmente reclamar (risos). Obviamente eles se saíram muito bem, não precisam da minha ajuda. Mas trabalhei com esses caras antes, quando estavam em outras bandas (nota: Green River e Soundgarden). Seria interessante trabalhar com o Alice in Chains. Mas, mais uma vez, os discos deles são incríveis, eles não precisam da minha ajuda. Essa é uma boa pergunta, mas na verdade não tenho uma resposta. Já trabalhei com quase todo mundo em algum momento.
No início da sua carreira, você costumava trabalhar com bandas que estavam começando, mas o Titãs já era uma banda estabelecida no Brasil, com disco de ouro e tudo, quando você começou a trabalhar com eles em 1993, tendo inclusive já passado por diferentes fases em termos de som. Como foi essa experiência de trabalhar com eles na época, chegar ao Brasil em 1993, ainda mais com as letras em um idioma diferente do seu?
Foi realmente divertido, me diverti muito. Foi muito divertido porque eles me trataram como um rei. Fiquei num hotel legal no Rio…apesar que não me lembro onde gravamos o “Titanomaquia”, talvez não tenha sido no Rio (Nota: O disco foi gravado no lendário estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro). É difícil lembrar, fiz cinco discos com esses caras – às vezes em São Paulo, às vezes no Rio, às vezes um pouco em cada cidade. E é claro que o último disco que fiz com eles, o álbum ao vivo (“MTV ao Vivo”), foi feito em Florianópolis – esse também foi um disco divertido. Sempre me diverti muito trabalhando com o Titãs. Eles sempre me tratavam bem, a comida era ótima, tinha sempre alguém para me levar e buscar no estúdio. Eles são ótimos caras, apenas divertidos de estar perto. E era tudo sobre a música, foi o melhor trabalho imaginável, de verdade. Porque sou um workaholic, talvez um pouco mais do que eles. Eu trabalhava alguns dias bastante longos e eles me perguntavam: “Por que você está trabalhando tanto? Pegue um pouco mais leve” e eu falava “Não, nós temos um disco para fazer”. Sou um produtor americano louco que gosta de diárias de 10 horas no estúdio, ninguém mais faz isso. E eles podem se dividir em turnos. Mas mesmo depois que eles fossem embora para casa, eu ficava no estúdio editando ou algo assim. Me diverti muito trabalhando com o Titãs, todos são muito legais, conheci as famílias deles. Foi uma experiência incrível, realmente gostei de estar no Brasil e com eles.
E pensa que o fato de que, pelo menos no início da sua parceria com o Titãs, vocês estarem buscando coisas diferentes ajudou a fazer com que a sua parceria durasse tanto tempo? Por exemplo, no início você estava querendo sair um pouco de todo o lance de Seattle e eles estavam querendo alguém de fora do círculo deles para buscar sons diferentes.
Sim, acho que foi exatamente isso: eles estavam buscando por algo novo, eu estava buscando por algo novo. Acho que é uma boa observação da sua parte, não tinha pensado nisso dessa maneira. Quando eles falaram comigo pela primeira vez, eles disseram “Nós queremos fazer um disco de rock. Nós somos uma banda de rock. Quando estamos no palco, temos guitarras e soamos como uma banda de rock. E não sentimos que os nossos discos realmente capturaram isso”. E eu disse “É o que eu faço, vamos fazer isso!”. É interessante, porque eu gosto desses discos antigos deles (Titãs), gosto do “Õ Blésq Blom” (1989), do “Cabeça Dinossauro” (1986) e do “Jesus” (Nota: aqui Jack se refere ao disco “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987). Há ótimas músicas nesses discos, mesmo com a produção soando muito “oitentista”. Sabe o que quero dizer? A forma como eles soam. Especialmente “Õ Blésq Blom”, que é um disco muito oitentista, quase soa como…não sei, mas é um disco muito anos 1980. E você tem uma música como “Flores” nesse álbum, que é uma música incrível. Há tantas músicas incríveis, mesmo com a produção mais anos 1980. Eles são bons compositores. O “Titanomaquia” foi interessante porque veio depois de “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” (1991), que foi um disco que meio que dividiu os fãs. Não sei, não tenho certeza, porque foi o primeiro disco dos Titãs que eles mesmos produziram. Ele não soa tão bem, sempre quis remixá-lo. Apenas para ver como ele soaria se eu fizesse a mixagem, porque as músicas são boas. A Warner Bros deixou eles produzirem a si próprios em um disco, e depois falou “Por que vocês não buscam um produtor?”. O interessante é que quando fizemos “Titanomaquia”, a gravadora meio que nos deixou sozinhos, algo como “São os Titãs, eles já fizeram muitos discos, deixem eles fazerem o que quiserem”. Mas no final do processo, quando o disco estava pronto, tivemos uma reunião com a Warner para apresentar o disco para eles, para tocar as mixagens finais do disco todo. Era tipo uma pequena festa, eles colocaram uns alto-falantes. Nós tocamos o disco inteiro para eles e foi um pouco estranho, porque os caras dos Titãs estavam sorrindo, mas o pessoal da gravadora estava com um olhar um pouco estranho. Acho que se você perguntar a algum dos caras dos Titãs, eles provavelmente se lembrarão disso. Porque não acho que a gravadora estava esperando esse disco de rock pesado vindo do Titãs. Não sei se eles sabiam muito bem o que pensar disso (risos). Me lembro de pensar “Ok, fizemos o que nos propusemos a fazer, espero que tudo saia bem”. Acho que você sabe o que aconteceu, algumas pessoas gostaram do disco, outras não. Mas acho que olhando para o disco agora, é um álbum muito bom.
E você tem um disco favorito entre os que gravou com os Titãs?
“A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana” (2001). Para mim, esse foi o disco mais importante que fiz com eles. E também o mais difícil porque perdemos o Marcelo (Fromer, guitarrista da banda, que faleceu em Junho de 2001 após ser atropelado) um dia antes de entrarmos no estúdio. Então tudo precisou ser adiado por uma ou duas semanas. Eu fui ao funeral e foi pesado, muito pesado. Todo mundo ficou completamente chocado. As músicas estavam prontas, nós estávamos prontos para fazer o disco. E então a banda se reuniu e disse para mim “Nós precisamos seguir e fazer esse disco. Porque se pararmos, talvez a gente não consiga começar de novo. Não sabemos. Isso é o que o Marcelo gostaria que nós fizéssemos.” E o Tony (Bellotto, guitarrista da banda) falou para mim “Jack, talvez seja a hora de você tocar guitarra em um disco dos Titãs”, e eu disse “Oh, Ok”. Então aprendi algumas das partes de guitarra do Marcelo a partir das demos que nós tínhamos. E eles também chamaram outro guitarrista para tocar no disco, o Emerson Villani. Nós, eu e o Emerson, tocamos a maior parte das guitarras do Marcelo no disco. Foi difícil, foi um período sério e pesado no estúdio, não houve muitos sorrisos no estúdio enquanto estávamos fazendo esse disco. Mas realmente gosto das músicas, é um ótimo disco. É o último disco com o Nando (Reis, ex-baixista e vocalista da banda). Foi uma missão muito difícil e sinto que nós conseguimos cumpri-la. Gosto desse disco, há ótimas músicas nele. Realmente gosto da faixa-título, a letra dela em especial é muito divertida, é muito a cara dos Titãs, “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana” (nota: num cabra cega para o Scream & Yell, Ian McCulloch, do Echo and The Bunnymen, elogiou muito essa música). Mas depois que o Marcelo faleceu, eu sabia que a banda ia começar a… O Marcelo era meio que a cola, ele mantinha tudo junto. Depois eu sabia que o Nando acabaria saindo, era óbvio. E depois acabei fazendo discos com o Nando.
Aliás, há alguns anos você ganhou um Grammy Latino com o Nando Reis, pelo disco “Jardim Pomar” (2015). Você já tinha imaginado que não apenas iria ganhar o Grammy um dia, mas o Grammy Latino com um disco todo cantado em português?
É ótimo, adoro isso! Acho que nunca vou ganhar um Grammy nos EUA porque os discos em que trabalho aqui são muito undergrounds, independentes. Não vou ganhar um Grammy com o High on Fire, o Windhand ou o Zeke, não é muito provável que isso aconteça. É realmente estranho porque eu digo que sou um cara do pop: as minhas referências são toda a história da música pop, adoro os Beatles, adoro música pop, adoro Neil Young, Grateful Dead e todo o rock clássico com o qual cresci – Santana, Zeppelin, Cream, tudo. Todos esses discos são muito próximos de mim. Sou um grande fã do James Brown, adoro o Curtis Mayfield – isso é algo que eu e o Nando temos em comum. Todos esses álbuns incríveis de R&B, funk. Há muitas coisas que posso citar como referência, mas sou principalmente conhecido por causa daqueles quatro ou cinco anos da época do grunge, por causa do Nirvana. É nisso que as pessoas pensam quando pensam em mim, é nessa época. Mas eu fiz muitos discos de muitos estilos. E os discos mais bem-sucedidos que já fiz que não são discos de rock pesado provavelmente são os álbuns que eu fiz no Brasil. Então é algo que me deixa muito feliz o fato de ter ganhado um Grammy Latino, porque sinto que alguns dos discos que fiz com artistas brasileiros são alguns dos melhores trabalhos de toda a minha carreira – os discos com o Titãs e com o Nando. Sinto que eles estão entre os meus melhores trabalhos como produtor. E a maioria das pessoas aqui nos EUA nunca irá escutar esses discos. Mas tudo bem, sou feliz com esses álbuns, e se as pessoas que são fãs desses artistas gostam deles, então o meu trabalho foi bem-sucedido.
Você mencionou há pouco o High on Fire, e eles acabaram ganhando o Grammy há alguns anos com o disco mais recente deles, o “Eletric Messiah” (2018). Mas na minha opinião você produziu o melhor disco da banda, que é o “Death is This Communion” (2007). Sinto que você conseguiu capturar de forma perfeita a mistura de Motorhead, Slayer e Venon do som deles nesse disco. Gosto de todos os discos da banda, mas esse me parece a obra-prima. Como foi para você trabalhar com eles em um disco tão diferente e pesado? E você já os conhecia? Foi o Matt Pike que procurou você?
Esse não foi o meu primeiro disco de metal, já trabalho com bandas de metal desde… Há um lado da minha carreira que as pessoas não conhecem, sempre trabalho com algumas bandas de metal. Trabalhei com o The Accüsed nos anos 1980 e 1990. Obviamente também tem o disco do Bruce Dickinson. A Relapse, que é uma gravadora de metal importante, eles são independentes, mas são importantes, eles me “jogam” alguns discos a cada par de anos. E também havia uma gravadora chamada Volcom, eles não existem mais, mas eles tinham uma banda chamada Valient Thorr, com quem gravei um disco. Sempre houve discos de metal em que trabalhei. Mas aqui vai a conexão (com o High on Fire): o baixista do High on Fire, Jeff Metz, costumava tocar no Zeke. Eu tinha feito uma gravação com o Zeke em 2005, para um disco deles chamado “Til the Living End” (Nota: Na verdade, o disco foi lançado em 2004). E na época o High on Fire tinha um manager, ou talvez fosse um booking agent, que era o Todd Cote, da Leafy Green Booking. E eu o conhecia desde a época do Skin Yard, porque o Skin Yard fez alguns shows com ele nos anos 1980. Então o Todd era um velho amigo e ele estava trabalhando com o High on Fire. E o baterista da minha banda na época, a Earthworm, conhecia o Matt Pike da época em que viveu na Califórnia e tudo mais. Então eu tinha todas essas conexões com a banda. Essa foi uma das poucas em que eu realmente fui atrás do trabalho, porque eu queria trabalhar com o High on Fire. E apenas espalhei isso por meio dessas conexões que eu tinha e acabou acontecendo. Me diverti muito, eles são ótimas pessoas. Foi um disco divertido de fazer, tivemos o tempo suficiente para fazê-lo da maneira certa. E penso que esse também foi um caso de “missão cumprida” em relação ao que nos propusemos a fazer. E esses caras estão se saindo muito bem. Vi o Jeff recentemente, a família dele é de Seattle, então o Jeff estava aqui há alguns meses para visitar a família e foi ótimo encontrá-lo.
Por favor, me diga três discos que mudaram a sua vida e porque eles fizeram isso.
Precisam ser discos que eu não produzi?
Não, não, pode ser qualquer disco, não importa se você produziu ou não.
Então diria o “Bleach” (1989), do Nirvana, obviamente. Porque não gastamos muito tempo produzindo o disco, mas olha o que aconteceu. O “Bleach” obviamente mudou a minha vida. É o presente que nunca acaba. Porque eu não ganhei muito dinheiro com o disco, não era sobre isso naquela época. Nós não gastamos quase nada, eu não tenho direito a royalties, mas todo mundo acabou escutando e tenho sorte de ele soar tão bem. Porque foi bem no começo da minha carreira. Eu era bom, mas ainda estava apenas começando a pegar o jeito de produzir discos. Agora discos com os quais cresci que mudaram a minha vida… Provavelmente o quarto disco do Led Zeppelin, o “Led Zeppelin IV” (1970), que é um disco que continua a vender. Porque ele é como uma “escola de produção” se você o escutar com cuidado, a forma como as músicas foram montadas. Se não me engano, eles tiveram de mixar esse disco duas vezes para conseguir acertar. Lembro de ler sobre isso e pensar “Hmm, Ok”. Eu era realmente um grande fã de produção. Acho que outro disco que realmente me influenciou foi o “Who’s Next” (1971), do The Who, que também acho um disco sensacional. Também incluiria o “Abbey Road” (1969), do Beatles. Mas quanto a discos que mudaram a minha vida, acho que seriam eles. E esses foram dois dos primeiros discos que comprei, do The Who e do Zeppelin. Eu sou velho, comprei eles quando era um adolescente – na verdade, acho que nem era um adolescente ainda, mas era jovem. Esses foram discos que não apenas fizeram eu me interessar pelo rock, mas, mesmo ainda tão jovem, eu queria saber como esses discos tinham sido feitos, quais foram as porcas e os parafusos apertados. Quem fez eles e como eles foram feitos, como aquele som foi criado. Eu era meio que um nerd de ciências, era um tipo de cientista maluco mesmo quando era criança. Eu tinha um laboratório de ciências no meu porão, tinha um kit de química. Eu tinha um tanque de galvanoplastia, quando era adolescente fazia as minhas próprias cromagens, fazia baterias, apenas coisas malucas. Ser um cientista maluco dos sons parecia uma coisa totalmente lógica. Então esses discos dos anos 1970 que foram realmente muito bem produzidos na época me inspiraram a querer ser um produtor de discos – e também a me tornar um músico. É claro que um desses trabalhos paga mais do que o outro (risos).
E alguns desses discos te fizeram querer pegar uma guitarra ou foram mais uma influência direta para você querer produzir discos?
Foi o Zeppelin que me fez querer tocar guitarra, talvez o Black Sabbath. Mas definitivamente o Zeppelin. E depois especialmente bandas como Budgie, The Groundhogs e Hawkwind. Se você olhar aqui atrás vai ver que tenho um pôster do Budgie na minha parede (risos). Isso é o quanto eu sou um geek. O meu negócio de fã musical foi o que me fez querer tocar guitarra, mas o lance técnico desses discos sempre ficou no fundo da minha cabeça. Eu era fã de bandas, mas também era fã de produtores de discos. Eu pegava um disco e olhava “Hmm, quem fez isso? Ah, foi o Glyn Johns. Vou comprar isso, provavelmente é bom”. Ou então “Ah, o Martin Birch produziu isso, eu deveria escutar para ver o que ele fez”. Quando o Iron Maiden surgiu, eu já conhecia o Martin Birch por causa dos discos do Deep Purple. E lembro de pensar “Uau, eles pegaram o produtor do Deep Purple. Ótima ideia, caras”. E aí vem o Martin Birch produzindo o Iron Maiden (Nota: Birch, que faleceu em 2020, produziu os principais discos do Maiden nos anos 1980, além de ter trabalhado em álbuns clássicos do Deep Purple, Rainbow e Black Sabbath). Lembro de ver o primeiro disco do Motörhead quando foi importado aqui para os EUA – porque não foi lançado por aqui – e pensar “Ah, o Lemmy do Hawkwind, ele tem uma banda nova agora. Preciso comprar isso”. Então eu apenas era fã de todas essas coisas. Então o segundo disco do Motörhead foi produzido pelo Jimmy Miller e pensei “Uau, esse é o cara que produziu o ‘Sticky Fingers’ (1971), dos Rolling Stones. Como isso vai soar?”. E esse era o “Overkill” (1979), que é um disco incrível. Você olha para o primeiro disco do Motörhead, que soa muito mal (em termos de produção), e então olha para o segundo disco, o “Overkill”, que foi produzido pelo Jimmy Miller e tem um som incrível. Lá estou eu, com 20 anos de idade, apenas pensando “Uau, produtores são muito importantes. Quero ser um deles”. Me desculpe, essa era apenas a história que precisava contar (risos).
Você já gravou mais de 600 discos como produtor, além dos álbuns com as suas bandas. Por isso, queria saber do que você tem mais orgulho na sua carreira?
Bom, estou muito feliz com o meu novo disco, porque fiquei muito bom em gravar. E melhorei muito como vocalista. Por isso, estou muito feliz com a minha voz, as letras, o pacote completo. É o disco que eu precisava fazer e o fato de ter saído durante uma pandemia é apenas um acidente, de verdade. Mas é o disco certo para o momento atual. Também gosto muito do primeiro disco do Mark Lanegan, “The Winding Sheet” (1990), que eu produzi. Pude tocar baixo nele, o que foi divertido, porque sou um baixista bastante decente, mas não há muitas evidências gravadas disso. Na verdade, toquei baixo em muitas bandas. Também gosto muito do disco com o Bruce Dickinson. Adoro o disco com o High on Fire. Tem o último disco que produzi com o Windhand, pude produzir os últimos dois discos deles e me diverti muito. A cada par de anos, recebo um disco de metal para produzir, o que é divertido, porque posso ter o meu lance meio Black Sabbath. Tudo que pude fazer para a Relapse foi divertido. O Black Tusk foi outra banda, o Valient Thorr. Não sei, há tantos discos que não consigo…é difícil escolher. Posso escolher muitos dos discos antigos que gravei e pensar algo como “Ah, poderia fazer versões muito melhores deles hoje em dia”. E sabe do que gosto muito? Da minha remixagem do “Ultramega Ok” (1988), do Soundgarden. Eu não produzi esse disco, não tive nada a ver com ele. Fiz as demos, mas não fiz o disco. Mas tive a chance de remixá-lo e sinto que, mais uma vez, foi uma situação de “missão cumprida”. Ele soa como deveria ter soado na época. Com o Soundgarden, você precisa levá-los a sério. E essa foi uma das últimas coisas que o Soundgarden fez como uma banda. Contei com o envolvimento completo – bom, por e-mail, mas ainda tive o envolvimento total de todos os integrantes, o Chris Cornell e o Matt Cameron me enviavam e-mails sobre as remixagens e todos estavam animados. É difícil para eu escolher, são muitos discos (risos).
– Luiz Mazetto é autor dos livros “Nós Somos a Tempestade – Conversas Sobre o Metal Alternativo dos EUA” e “Nós Somos a Tempestade, Vol 2 – Conversas Sobre o Metal Alternativo pelo Mundo”, ambos pela Edições Ideal. Também colabora coma a Vice Brasil, o CVLT Nation e a Loud! A foto que abre o texto é de Miklós Pintér