texto de Renan Guerra
Pra começar, o novo “Pânico” (2022) se chama apenas “Pânico”, mesmo que grande parte do público siga chamando-o de “Pânico 5”, já que esse é o quinto filme da franquia iniciada por Wes Craven e Kevin Williamson nos anos 90. Há uma explicação dentro do filme para essa escolha que é melhor explicado lá do que aqui. Feito esse aviso inicial, é importante voltarmos um pouco no tempo.
Quando Craven e Williamson lançaram “Pânico” (1996), o mercado de filmes de terror era outro: os filmes slasher estavam em suas muitas sequências e grande parte dos títulos iam direto para as locadoras. O longa que abre a franquia “Pânico” era uma sátira ao próprio universo de filme de terror e foi um sucesso tão grande que criou uma onda de novos filmes com adultos interpretando adolescentes em fuga de assassinos mascarados – e até uma série de filmes sátiras, “Todo mundo em Pânico”, que teve cinco sequencias (não se surpreenda se a sexta chegar logo mais aos cinemas).
Da série “Pânico”, foram três filmes em poucos anos completando a trilogia com “Pânico 2” (1997) e “Pânico 3” (2000). “Pânico 4”, de 2011, trazia de novo a dupla Wes Craven e Kevin Williamson buscando criar novas logísticas para essa série de filmes num mundo em que o cinema de terror já passava por outras lógicas e universos. O resultado lá era extremamente satisfatório, com o mesmo humor ácido e sagaz do início da série. Porém, Craven faleceu em 2015 e, de lá pra cá, Williamson assumiu a frente de produtor executivo no que seria o novo longa “Pânico”. Dessa vez, ele deixou o roteiro por conta de James Vanderbilt e Guy Busick, e a direção na mão de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett.
Normal que os fãs fiquem com o pé atrás: o que esperar de um longa que não tem a direção de Wes Craven e que não quer se chamar “Pânico 5”? Agora já podemos dizer que o público pode realmente esperar um filme que honra o legado de Craven e que coloca a série “Pânico” novamente em seu eixo temático tão bem definido nos anos 90: um slasher sanguinário e surpreendente, que gosta de brincar com as regras do gênero e que abusa da metalinguagem para ser irônico com a própria indústria cinematográfica e com o universo do horror.
Porém há um tempero extra nesse novo “Pânico”, que chega agora às salas de cinema nacionais em distribuição da Paramount Pictures. A nova equipe de roteiristas adiciona um importante eixo temático ao filme: o universo de fãs de terror na internet e como isso interfere na indústria. Fandoms, fóruns de internet, fanfics e reviews de youtubers entram na lista de piadas do filme, com um olhar extremamente afiado sobre questões atuais que só existem a partir da internet, como as reações mais rápidas aos lançamentos e os debates a cerca de tópicos modernos, como o pós-horror.
De todo modo, para além de ser uma divertida peça metalinguística que irá deixar os fãs de terror excitados, esse não deixa de ser um slasher clássico da série e, por isso, pode ser uma interessante porta de entrada para consquistar novos fãs: sangue, sustos e violência continuam formando o coração do filme e, até nisso, eles ainda conseguem nos surpreender. Para dar conta disso, entra em cena um elenco jovem e carismático, com nomes como Melissa Barrera (“Em um Bairro de Nova York”), Mason Gooding (“Love, Victor”), Jenna Ortega (“A Irmã do Meio”), Jack Quaid (“The Boys”), Dylan Minnette (“13 Reasons Why”) e a excelente Jasmin Savoy Brown (“The Leftovers”).
Para os fãs antigos, óbvio que a cereja do bolo é o retorno do trio clássico: Dewey Riley (David Arquette), Gale Weathers (Courteney Cox) e, claro, Sidney Prescott (Neve Campbell). Além disso, há outros atores dos longas anteriores que reaparecem, como Marley Shelton e Heather Matarazzo – em pontas. Outro ponto de nostalgia são as inúmeras piadas e menções aos filmes anteriores, criando essa sensação de reencontro com antigos amigos.
Essencialmente, o novo “Pânico” é divertido e isso é talvez a sua maior qualidade: o público vibra a cada nova morte e a cada aparição do Ghostface. O longa se reafirma como um slasher a todo momento e não busca esse patamar de filme sério, pelo contrário, “Pânico” deixa claro que não se leva à sério e que segue sendo uma saborosa farra para os fãs de filmes de terror. E isso é complicado, pois coloca as expectativas em alta: será que temos aqui o início de uma nova franquia? Vamos ter que aguardar, mas por enquanto esse filme já é uma nova peça maravilhosa no quebra-cabeça de Woodsboro.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Faz parte do Podcast Vamos Falar Sobre Música e colabora com o Monkeybuzz e a Revista Balaclava.