texto por Luciano Ferreira
“Já assistiu ‘Invincible’? É melhor que ‘The Boys’!”. Foi com essa frase comparativa que fomos levados à essa nova série de heróis, também do canal Amazon Prime Video. A comparação pareceu esdrúxula já que os formatos utilizados são diferentes: em “The Boys” são atores, “Invincible” é uma animação. De semelhantes, ambas são adaptação dos quadrinhos de história de heróis. Deixadas essas comparações de lado, pode-se afirmar que “Invincible” é uma das melhores séries de heróis de 2021.
Criada por Robert Kirkman (aquele mesmo de “The Walking Dead”) com ilustrações de Cory Walker e Ryan Ottley, o volume 1 da HQ “Invincible” foi lançado pela badalada Image Comics (casa de nomes como Todd McFarlane, Whilce Portacio, Erik Larsen e Jim Valentino, entre outros) em janeiro de 2003 e, junto com “The Walking Dead” (cuja primeira edição saiu em outubro do mesmo ano), foi responsável por revitalizar a editora, que estava mal das pernas, ao mesmo tempo em que provocava uma guinada nas histórias em quadrinhos, ao trazer batalhas sangrentas e morte de heróis.
A série, que leva o mesmo título dos quadrinhos (com 144 edições até fevereiro de 2018), tem o nome de Kirkman na produção e roteiro, e mantém a característica primordial da HQ intocada, trazendo também para a animação uma violência gráfica extrema, o que em muitos momentos remete ao gore, com cada episódio expondo na tela muito sangue, vísceras, cérebros esmagados, olhos saltando da órbita e ossos quebrados – não à toa, a classificação etária da produção é para maiores de 18 anos.
A trama acompanha o adolescente Mark Grayson (Steve Yeun), de 17 anos, às voltas com situações típicas dessa fase da vida: problemas na escola, primeira paixão e um emprego de meio período numa lanchonete. É inevitável não lembrar de Peter Parker ao acompanhar os dramas vividos por Mark. De atípico, Mark é filho de Nolan Grayson (J.K. Simmons), alter-ego do Omni-Man, o herói mais poderoso do planeta, e Debbie Grayson (Sandra Oh), e segue às voltas com o que o pai considera um atraso para que seus poderes se manifestem. Com os poderes vindo à tona, Mark segue pela fase de aperfeiçoamento, com o pai ajudando ao longo do processo, que vem acompanhado de aventuras, pancadaria, surras e o surgimento do protagonista da série, Invincible.
Não há como não perceber similaridades entre os poderes e personagens criados por Kirkman e os da DC Comics, seja do Omni-Man, que tem muito do Super-Homem, incluindo a origem extraterrena (ele é do planeta Viltrum), ou do grupo de heróis conhecido como Guardiões, uma espécie de homenagem a Liga da Justiça: Imortal, Asa Negra, Mulher Marcial, Vulto Verde, Vento Vermelho, Aquarus e Marciano. E é um acontecimento de consequências trágicas, numa das batalhas mais sangrentas (na série e na história de heróis) envolvendo esses personagens, que servirá de trama principal para essa primeira temporada, de oito episódios .
Com um conjunto de novos heróis e vilões, e diversas subtramas acontecendo ao longo dos episódios, “Invincible” reserva surpresas e mantém o clima de expectativa até o episódio finale, que não deixa por menos e apresenta uma batalha sangrenta e ao mesmo tempo repleta de emoções. Por sinal, emoção e doses dramáticas é o que não falta na série, que tem a cidade de Chicago como pano de fundo.
Ao mesmo tempo em que choca o nível intenso de violência, “Invincible” impressiona com a carga dramática que consegue construir. É poderosa a cena em que, após bater em um prédio e provocar seu desmoronamento, o personagem de Invincible falha ao tentar ajudar uma mãe e sua filha; ou na carnificina de uma “batalha” que se desenrola dentro de um metrô cheio de passageiros. São cenas que surgem de forma ligeiramente diferente da história original, e ajudam a dar mais força à narrativa da série e envolver o espectador, e funcionam muito bem.
Toda a base da história dos quadrinhos é mantida, mas Kirkman fez várias alterações na série, e todas elas são acertadas. Uma delas traz representatividade e novos olhares para a história: a personagem Amber, namorada de Mark, que nos quadrinhos é loira, na série é negra e trabalha ajudando pessoas em situação de vulnerabilidade. Não se preocupe: mesmo para quem não leu os quadrinhos pode acompanhar e entender todo o arco narrativo da série.
Além de uma trama envolvente, personagens bem construídos e efeitos sonoros incríveis, a série traz também um time estrelado que dá vida e características únicas aos personagens. Além dos já citados personagens principais, há ainda: Zazie Beetz, Zachary Quinto, Mark Hamill, Mahershala Ali, Jon Hamm, Seth Rogen, Lauren Cohan, Djimon Hounsou e Ezra Miller, só pra citar alguns.
De volta à comparação com “The Boys”, cuja terceira temporada pode estrear a qualquer momento (mas, mais provável, ressurga no final do ano), ambas são entretenimento adulto, mas enquanto “The Boys” apresenta heróis de personalidade degenerada, “Invincible” trata de prestar homenagem a esses seres e seus poderes, mantendo-os sempre dentro do limite da honra, da moral e da ética, tendo na figura do personagem Invincible a personificação desses valores, que lhe trarão um peso enorme e pelos quais ele lutará nessa primeira temporada e, por certo nas vindouras – que não demorem.
Ps: A trilha sonora da série também é muito boa…
– Luciano Ferreira é editor e redator na empresa Urge :: A Arte nos conforta e colabora com o Scream & Yell.