entrevista por Homero Pivotto Jr.
Abraçar as próprias contradições pode ser uma maneira de manter a integridade. Bem como saber conviver com o diferente, com o que destoa do tido normal e até com possíveis controvérsias que venham a surgir pelo caminho. Exercitar a tolerância com opostos, ao passo que se preserva convicções, é uma arte que o Napalm Death domina tão bem quanto fazer música agressiva de gabarito. O lançamento do décimo sexto álbum, “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism”, em setembro de 2020, reforça tal percepção. É um disco de sonoridades extremas, como é de se esperar do grupo inglês pioneiro do grindcore, porém não óbvias.
Não chega a ser novidade, mas o Napalm Death segue como antítese. Principalmente neste momento, em que parte da cena pesada parece tender ao conservadorismo — musical, estético e de ideais. O contraponto se faz, justamente, pela busca de diversidade nas influências e pela escolha de temas que expõem o quão mesquinho o ser humano pode ser.
No instrumental, o Napalm faz barulho ao misturar gêneros que sempre estiveram entre suas referências, mas que agora ganham destaque e ajudam a distanciar, ainda mais, a banda de princípios sonoros puristas. Liricamente, trabalha temáticas inclusivas em vez dos tradicionais assuntos do cancioneiro heavy. Mesmo que seja complexo entender o que é vociferado em meio à zoeira de baixo, bateria e guitarra, tenha ciência de que ali existe uma mensagem. E não é sobre algo fantasioso. Pelo contrário, são observações da vida real, das mazelas que afligem qualquer um com disposição para perceber que o mundo não vai bem. No caso específico do registro mais recente, o tema principal, em linhas gerais, é o outro. Ou melhor: o tratamento nem sempre igualitário dado ao semelhante que, porventura, possa ser diferente.
É fato que o conjunto de Birmingham não é o único a expressar percepções de injustiça por meio das composições que produz. Mas agrega relevância por seguir com essa prática contestadora desde cedo na carreira. Em alguns momentos dos seus quase 40 anos de serviços prestados à música brutal e não ortodoxa (a fundação foi por volta de 1981), o Napalm até flertou com tendências. Mas sempre soube como perseguir a própria identidade.
Trata-se de uma banda que aproveita o antagonismo da existência em que habita como ímpeto criativo. Mark ‘Barney’ Greenway (voz), Shane Embury (baixo, que lançou um disco de seu projeto solo Dark Sky Burial neste ano) e Danny Herrera (bateria) — juntos desde a primeira metade dos 1990 — nunca tiveram vergonha de mostrar apreço pelo que é menos notório. Até 2014, o trio ainda contava com a parceria do guitarrista Mitch Harris (que também entrou para o grupo no início da última década do século passado), afastado desde então para cuidar de questões familiares. Mitch segue longe das atividades com o Napalm, mas gravou as seis cordas do novo material, embora não tenha contribuído com nada autoral.
As dualidades que cercam o fazer artístico, e nos rondam como indivíduos, foram tema da entrevista a seguir, feita por Skype com Barney. O papo também teve como assunto governos autoritários, o gosto de Lemmy Kilmister (Motörhead) por artigos militares, Bad Religion e os espasmos de alegria que as pequenas realizações são capazes de proporcionar. The world keeps turning!
Como o novo álbum “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” tem “o outro”, ou o “tratamento do outro”, como tema principal, em um contexto amplo, vou tentar trazer isso para a nossa conversa. Ao mesmo tempo, gostaria de misturar a pauta com mais um assunto: as contradições, na falta de uma palavra melhor, que todos nós experimentamos como seres humanos. Talvez antagonismo possa ser aplicado aqui. Por exemplo: em todas as suas entrevistas que vi ou li, você é muito gentil e educado. Algumas pessoas podem pensar que não é o tipo de atitude que teria um cara tão frenético e intenso quando grita com sua banda. Como você percebe isso?
Eu não entendo muito bem. Porque o que os seres humanos desejam é ser singular em sua abordagem das coisas. Acho que o que você está tentando dizer é que, porque eu grito e berro no Napalm Death, que tem um som confrontacional e agressivo, é assim que eu deveria ser como pessoa. Ou que deveria ser esse o caso. Sou um ser humano e tenho capacidade de muitas emoções diferentes. Claro, tenho momentos em que fico realmente irritado com as coisas. Mas se eu estou conversando com alguém que está sendo gentil o suficiente para falar sobre seu interesse na música e nas ideias do Napalm Death, então eu terei uma conversa amigável. Para mim, é apenas o jeito natural das coisas. Percebo que as pessoas veem a diferença de tom, obviamente, entre a expressão que fazemos especificamente no Napalm Death, na qual criamos nossa arte e música. Mas não vou gritar com ninguém no telefone, não é necessário.
A própria identidade musical do Napalm tem sua dicotomia, por ser um som extremo, mas com letras sobre temas humanitários ou relacionados a questões sociais. Como você lida com esse dualismo?
Gosto disso. Acho que é uma coisa positiva. Porque somos uma banda, mas em um sentido mais amplo, somos uma expressão de arte. Às vezes na vida, as coisas podem ser um pouco previsíveis quando tudo vai na mesma direção. De um jeito bom em algumas situações, mas não menos previsível. A arte é capaz de ficar monótona assim. Então, se você consegue ter uma contradição, uma entrega agressiva, mas com ideias promovendo paz e tolerância, me parece ótimo. Conseguir isso é bem positivo, não é um problema para mim. Pessoas fora da Napalm Death talvez tenham suas próprias opiniões sobre isso, e eu respeito totalmente.
Outra “contradição” que sempre me chamou a atenção no Napalm é que, apesar de a banda estar relacionada com o lado mais extremo da música, nunca teve vergonha de mostrar apreço por artistas menos pesados. Como na foto interna no encarte do “Utopia Banished” em que você está vestindo uma camiseta do Bad Religion, por exemplo. Atitudes assim meio que permitiram a mim, e acredito que a outras pessoas, curtir grupos fora do espectro mais brutal. É o oposto da ideia de verdadeiro metal ou outros pensamentos elitistas. Você percebe o quão interessante foi dar visibilidade a essa diversidade de gostos musicais e como ela tem poder de influenciar as pessoas a expandir pensamentos?
É o seguinte: o cenário geral da música é um microcosmo da vida. E pode ser tão ruim em termos de aplicação de estereótipos quanto qualquer outro. Então, sempre achei um pouco ridículo todo esse ideal de “se você quer ser metal, você tem que ser metal, você tem que ser pesado”. Quem se importa? Basta ser você mesmo. Se você quer se conformar com aquelas imagens tradicionais do suposto metal, tudo bem, faça. Mas se você não quiser, porque não é você, você não sente aquilo, então não precisa. Voltando às referências do Bad Religion, lembre que tudo vem de algum lugar. Nós somos grindcore, é o que o Napalm Death é, tornou-se amplamente conhecido e aceito. Mas efetivamente, de onde veio o Napalm Death em primeiro lugar, as origens, é a cena punk. E o Bad Religion é uma banda punk. O Bad Religion é uma banda de punk hardcore no sentido agressivo das coisas? Não sei bem sobre qual subdivisão do estilo eles se enquadram, mas o Bad Religion veio, eu diria, do lado mais direto do punk. As conexões estão lá. Não acho nada estranho olhar para mim mesmo usando uma camiseta deles. Além disso, o álbum “Suffer” (1988), do Bad Religion, é um ótimo disco até hoje. É um clássico.
Falo disso porque no novo disco do Napalm essa gama de referências de vários subgêneros musicais parece mais evidente. Esse ecletismo sempre existiu no som da banda, com certeza. Mas agora parece se destacar. Como essas influências de bandas fora do metal e do hardcore funcionam para vocês e como isso afeta a musicalidade?
“Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” é nosso décimo sexto álbum. A ideia de ser uma cópia de nós mesmos é algo que não nos interessa, porque é a maneira mais fácil de fazer nosso trabalho. Não estou interessado nisso. Qual é o objetivo? Isso não seria apenas prestar um desserviço a nós mesmos, mas também a uma grande parcela das pessoas que seguem o Napalm. Acho que os estaríamos enganando. Há certo grupo de fãs que realmente adoraria que fizéssemos um álbum de 20 ou 25 faixas com 20 segundos. Podemos fazer isso com as mãos amarradas nas costas. Mas, de certa forma, essa é a saída fácil. Ainda temos esses elementos do nosso primeiro álbum. No Napalm esse lado ainda existe 100%. Mas há muitos outros aspectos do nosso som, como noise rock, industrial, pós-punk. Não é menos extremo do que aquilo que se pode pensar sobre uma banda característica do metal extremo ou da cena hardcore. É apenas extremo com um som diferente. É isso que fazemos e continuaremos a fazer. Eu entendo, já que os dois últimos álbuns em particular deram alguns passos adiante no jogo, que isso não seja para todos. Há algumas pessoas que prefeririam que não tivéssemos ido tão longe, mas temos que ir. Nossa paleta de extremidades é realmente ampla. Se esse tipo de motivação está dentro de nós, devemos segui-la. E no fim das contas, se as pessoas não gostarem, temos de conviver com isso.
Alguns de seus álbuns subestimados dos anos 1990 têm uma vibe Killing Joke que também pode ser percebida em “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism”. Mencionei Killing Joke, mas sempre houve referências às bandas barulhentas e alternativas em sua música, como Swans, Einstürzende Neubauten, Sonic Youth e Cocteau Twins. Mas agora as pessoas parecem entender isso mais do que no passado, considerando que o novo álbum tem sido elogiado, ao contrário de outros como “Diatribes” (1996) e “Inside the Torn Apart” (1997). O que você acha?
É engraçado. Se você juntar 10 pessoas diferentes que tenham algum tipo de interesse ou conhecimento no Napalm Death, tocar o novo álbum para elas e dizer “me dê uma descrição disso baseado em trabalhos anteriores do Napalm”, há uma grande chance de que uma porcentagem significativa dará respostas completamente diferentes. Porque é isso que a música é: subjetiva. Durante as entrevistas que tenho feito já me disseram “esse é o disco mais rápido e mais louco que vocês fizeram em anos”. Também já ouvi comentários como “é o seu álbum mais experimental, além do mais rápido feito em anos”. Não é constante, é sempre diferente. Acho que esse novo álbum — se você comparar com, digamos, “Diatribes” ou “Inside the Torn Apart” — tem melhor acabamento relacionado à composição e um foco melhor. Eu sugeriria, e você esperaria isso depois de muitos trabalhos juntos, esse aprimoramento. E também pense na ambiência, o som do disco está mais furioso do que talvez em “Inside the Torn Apart”. Hoje em dia, as gravações têm uma ambientação espacial de verdade, elas são realmente furiosas, mas com uma distribuição mais ampla e adequada dessa brutalidade no som. Não só no que escrevemos, mas também na sonoridade. Aprendemos muito, porque você sempre aprende quando toca música. Aprendemos como projetar a intensidade da música. Claro, com a ajuda inestimável de Russ Russell, nosso produtor. Eu compararia o disco novo diretamente com o “Fear, Emptiness, Despair” (1994)? Não, porque acho que em alguns aspectos é mais furioso e feroz. Em outros, é mais experimental. Então, eu não compararia diretamente com nenhum dos álbuns dos anos 1990. Eu acho que “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” é, na falta de uma frase melhor, um álbum bem 2020.
Voltando ao tratamento do outro como tema: houve algum acontecimento específico que o levou a escrever com esse tópico em mente?
Pensei que era absolutamente urgente falarmos sobre isso. Você tem que lembrar que a marginalização das pessoas sempre existiu, então não é nada novo. Está aí há gerações. A diferença agora é que temos governos muito poderosos neste mundo que usam essa linguagem. Que adotam essas táticas para prejudicar as pessoas marginalizadas. Bolsonaro é um exemplo clássico. Não apenas pelas coisas que ele faz em relação a assuntos como o meio ambiente, isso é particularmente problemático para o resto do mundo também. Sigo Bolsonaro antes mesmo de ele ser eleito, então conheço sobre ele. Quando o cara foi questionado sobre o que ele faria se o filho fosse gay, a resposta foi vergonhosa. Se vamos ter governos, teremos líderes. Mas alguém demonstrar desrespeito com pessoas que nunca fizeram nada com ele… Simplesmente acho desumano, basicamente. Esse é apenas um exemplo, temos governos na Europa que estão usando táticas semelhantes também. Claro que há o caso óbvio do outro lado do Atlântico — não é preciso nem dar o nome. Então, considerei muito importante falarmos sobre o assunto. Você tem que se lembrar disso: na Europa, nos anos 1930, tínhamos pessoas muito carismáticas que usavam esse tipo de artifício para solidificar o próprio poder. E isso levou, especialmente na Alemanha, ao assassinato em massa de pessoas marginalizadas que não fizeram nada a ninguém exceto existir. Achei que era muito importante abordar isso porque essas coisas estão ficando mais fortes. Pelo que nos cabe como banda, apesar de o Napalm Death ser uma gota no oceano, não quer dizer que temos de ficar calados sobre temas sensíveis. É importante lidarmos com isso em particular. Obviamente, também sei que situações semelhantes ocorreram na América do Sul, o Brasil viveu uma ditadura, o que é inacreditável. Bolsonaro e seus apoiadores, que pensam de forma muito semelhante em algumas formas de retorno aos anos de ditadura, são uma loucura de merda. Pensei apenas nos aspectos de marginalização, que é uma tática comum nesse tipo de regime. Acho que precisamos conversar sobre isso. E, claro, o Napalm se posicionar pelo que vale como antítese. Dizer: não, não é aceitável! São seres humanos semelhantes, isso não é aceitável.
Pegando o título do novo álbum: você acha que vivemos em tempos de derrotismo? Num sentido de que as pessoas são forçadas a se sentirem abatidas porque vivem bombardeados com propaganda vendendo felicidade que não se pode comprar, o mundo está ficando mais competitivo a cada dia e a solidão e o egoísmo estão crescendo?
Honestamente, esse não é um fenômeno novo. Isso sempre esteve lá. O mundo sempre foi uma merda tortuosa. Você pode voltar nos séculos e perceber que sempre tem algo ruim acontecendo. Vou compensar dizendo que o mundo também pode ser um lugar maravilhoso. Há muitas coisas boas para experimentar na vida. Mas também pode ser uma merda, como disse. Não estou apenas atacando esses temas porque é um alvo fácil. Mas a ascensão do populismo, nacionalismo, esse tipo protecionismo no qual se pensa “este é o meu país e farei o que for melhor para ele, foda-se todo o resto desde que meu país esteja bem”. Isso meio que cria esse tipo de isolamento. Porque as pessoas passaram por uma lavagem cerebral para pensar que precisam proteger seu pequeno quadrado de terra contra o invasor estrangeiro, seja ele quem for. Esse sentimento de solidão e isolamento é uma consequência natural disso de várias maneiras. Precisamos fazer uma virada 360º absoluta para nos focarmos um pouco como seres humanos e entendermos que, se a raça humana é para ser sustentável, não podemos continuar nos tratando assim. E, acima e além disso, precisamos dar uma olhada em como o mundo realmente funciona. O fato de termos comida suficiente para alimentar o planeta inteiro e não conseguirmos… Sei que no Brasil tem gente acordando, uma porcentagem significativa de pessoas, tentando saber se vão comer naquele dia. Como pode? Se todos os supostos avanços da civilização, como as pessoas às vezes gostam de dizer, se somos tão avançados e aprendemos tantos caminhos, mas não podemos alimentar a todos, há algo errado. Não é um conceito novo, já foi falado muitas vezes, mas é necessária uma redistribuição de riqueza. Não é possível que uma pequena porcentagem do mundo se beneficie realmente de tudo e uma grande parcela de pessoas tenha menos do que nada. Isso não está certo.
Você pode escolher suas músicas favoritas de “Throes of Joy in the Jaws of Defeatism” e nos contar sobre as respectivas referências musicais e líricas?
Diria ‘Backlash Just Because’, o primeiro lançamento do disco. É uma música foda pra caramba! O baixo de Shane no começo soa como uma porra de uma escavadeira. No Napalm gostamos desse som do baixo meio trator, é uma espécie de tática favorita nossa. Quando Shane toca o trecho de abertura, isso simplesmente me coloca no chão. E acho que acelera toda a música, atacando do início ao fim com um tipo de riff no final que é realmente ótimo. Isso realmente dá uma sensação boa e elétrica. Eu também citaria “Amoral”, também música do Shane, que é bem Killing Joke. Muitas pessoas perceberam. É uma ótima composição na qual eu e Shane compartilhamos os vocais. A dinâmica em termos de vozes funciona muito bem em conjunto. A letra de “Backlash Just Because” aborda o populismo e coisas assim. Por exemplo: no jornal você pode ler “todos esses imigrantes de merda fizeram isso ou aquilo”. A reação está aí e as pessoas enlouquecem tentando desacreditar pessoas assim (imigrantes). E isso se torna uma onda de reação como um rolo compressor. Acho que se você perguntasse para maioria das pessoas com essa postura (xenofóbica) se elas entenderam por que estão dizendo aquilo, o que estão dizendo, muitas não seriam capazes de dar uma resposta. Em outras palavras, a reação existe só porque você quer. Nenhuma base de realidade, eu sugeriria. Com “Amoral”, a letra do Shane é sobre onde estamos como seres humanos, eu acho. Estamos neste ponto em que ninguém realmente dá a mínima para os outros. Ou parece que é assim na maior parte do tempo. A faixa é questionadora dessa coisa toda: onde, por que e como estamos nessa situação? Não aprendemos nada com milhares de anos registrados da chamada civilização.
Isso não tem nada a ver especificamente com o Napalm, mas é uma polêmica que me deixa curioso sobre o que as pessoas pensam. Vi uma entrevista na qual você disse que o Motörhead foi uma grande referência na música. Até acho que você tem uma tatuagem do snaggletooth (mascote do Motörhead) na panturrilha. O que você pensa da coleção militar de Lemmy, incluindo objetos nazistas e uso de imagens que podem estar relacionadas a isso?
Não conhecia o Lemmy muito bem. Eu o encontrei algumas vezes. Dito isso, como ser humano, pelo menos com o tempo limitado que tive com ele, o cara era uma pessoa fantástica. Um ser muito humano. Todas as coisas militares e nazistas eram um fascínio para ele. Ele era atraído pela psicologia disso. Da mesma forma que eu leio muitos livros sobre ditaduras e coisas assim. Sou completamente oposto a isso, claro. Mas também fico fascinado pela psicologia de como esses sistemas funcionam. Não vou dizer nada positivo ou apoiar, mas certamente vou aprender algo sobre isso. Um dos erros que as pessoas cometem — e eu uso a palavra “erros” livremente na vida — é que elas apenas se concentram e procuram ver conhecimento nas coisas que as deixam confortáveis. Não tentam aprender sobre assuntos dos quais discordam ou que são obviamente prejudiciais à continuação da raça humana. Com Lemmy e sobre o que você está falando, acho que era realmente algo que despertava o interesse dele. Ele certamente não endossou a prática. Se você olhar qualquer entrevista com Lemmy sobre isso, ele foi questionado diretamente sobre nazismo muitas vezes, e dizia que era a pessoa mais antifascista que há. Era uma forma de ele se expressar em entrevistas dizendo essa frase, mas pelo que eu sei do Lemmy por ser um seguidor do Motörhead ao longo dos anos, ele era o menos nazista ou simpatizante entre muitas outras pessoas que conheço. Sugerir que imagens que o cara usava tinham qualquer conexão com isso, não acho que seja correto.
E como ter um pouco de alegria no meio deste mundo que nos oprime diariamente?
Eu sempre busco alegria, você tem que procurar. Porque o resultado final desejado por bandas como o Napalm, que promovem a paz e a tolerância, é que a raça humana seja feliz no final. Conforme falamos sobre alegria, o Napalm lida com muita negatividade porque é o ideal, basicamente, expor algumas situações deste mundo e menos como elas deveriam ser. O resultado final desejado, como eu disse, é termos um mundo feliz. Eu procuro a felicidade na vida. Tenho muita sorte, moro a dois minutos de bicicleta do litoral, da praia. Gosto de realizações simples, como estar na praia em um dia de tempestade quando você pode ver os trovões nas nuvens e o oceano com uma aparência doida. Isso para mim é positivo. É realmente um ponto brilhante para mim na vida. Tenho grande prazer com as coisas bem simples. Não sou uma pessoa materialista. Não preciso de acúmulo de bens para fazer minha existência valer a pena ou para me fazer sentir melhor comigo mesmo. Não necessito dirigir um carro rápido, não preciso do dispositivo mais moderno. Eu só preciso obter felicidade nas coisas simples.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.