introdução por Rafael Donadio
faixa a faixa por Flavio Barossi
Poeta, músico e compositor, o paulistano Flavio Barossi compôs dezenas, talvez centenas de músicas, durante 20 anos no mais completo anonimato. Os textos e canções ficavam restritos aos amigos e familiares. Mas agora, com 32 anos de idade, Flavio divulga para o mundo o primeiro trabalho da carreira, “agoraoculto” (2020), que conta com oito faixas compostas entre os anos de 2000, quando ele tinha apenas 12 anos, e 2018, quando começou a trabalhar o disco em estúdio, já com 30 anos de idade.
As músicas transitam por curvas suaves e sobrevoam partes da história de Flavio, como a despedida do pai, na faixa título, ou o término com a primeira namorada, ainda adolescente, em “Sem Rancor”. Mas o artista também traz a metalinguagem, críticas ao mundo digital e político, poesias e homenagens ao álbum.
A vivência que teve no sítio da família durante a vida toda foi importante para o rapaz de São Paulo (SP) enxergar a área urbana com uma sensibilidade diferente. Da mesma forma, o olhar do menino acostumado com a terra, os animais e a natureza deu uma percepção de mundo singular a Flavio. São com esses olhares e percepções que Flavio faz uma mistura pouco comum de influências: Noel Rosa, Tom Jobim, Led Zeppelin, Pena Branca & Xavantinho, Cat Power, Lô Borges, Radiohead, Caetano Veloso, Sebastian Bach, Los Hermanos e Joy Division.
“agoraoculto” foi gravado no estúdio BRC, de Bruno Cardozo, que também tocou piano. O acompanhamento fica a cargo do guitarrista Lello Bezerra (Siba, Mestre Anderson Miguel, Alessandra Leão, Karina Burh, Isaar e Beto Montag) e Rui Barossi ao contrabaixo acústico. Paula Mirhan entra com voz e presença feminina em “A Marcha e o Câmbio”. Flavio Barossi assina a composição de todas as faixas, a parte gráfica e a produção. A mixagem foi feita por Bruno Cardozo em parceria com Flavio. Por fim, Brendan Duffey assina a masterização e Rico Manzano a direção artística.
Abaixo, Flavio fala um pouco sobre cada uma das oito faixas do disco:
01. agoraoculto – Essa música foi feita na época em que eu estava gravando, e o Bruno gostou. Eu gravei ela no piano, mas ele sugeriu de gravarmos ao vivo, com ele tocando piano. Eu acabei cantando de um jeito quase falado, como se estivesse dizendo o poema para o meu pai. Compus em casa, quando ainda morava com a minha mãe, e ela falou para eu fazer para o meu pai, porque ele tinha morrido há dois anos e eu nunca tinha feito nada para ele. Ela faz menção direta à morte.
02. Nirvana – É um loop na guitarra e fui fazendo a harmonia em cima. A harmonia pega muitas notas, muda muito. Eu fiz quando comecei a gravar, porque eu tinha pego emprestado um pedal de loop. A gravação que eu fiz, quando compus, ela tem uns ruídos e a “sujeira”, que me lembram um pouco das músicas da banda Nirvana. Ao mesmo tempo, no momento que eu fiz eu estava meio que em um estado de nirvana.
03. Ficar Comigo – Foi durante um ano que morei no México, em 2012. Eu estava entrando no Facebook, estava achando uma merda. Foi uma espécie de crítica que eu fiz sobre o que eu estava pensando sobre a publicidade e esse novo lugar que a gente estava se colocando de viver no mundo virtual.
04. A Marcha e o Câmbio – Eu estava estudando música e ouvindo muitos podcasts sobre canções. Em um dos programas, falaram sobre o “Samba de uma nota só”, que ele meio que descreve a melodia. Eu estava bem nesse negócio de teoria da canção e pensei em escrever uma música com essa temática, mas em vez de escrever a melodia, escrever sobre a harmonia. Aí escrevi uma harmonia em que a primeira marcha é dó e a segunda marcha é ré. A terceira marcha é mi, quarta é fá e assim por diante, vou descrevendo.
05. Sem Rancor – Essa música foi bem rápida, quando a minha primeira namorada terminou comigo. Fiz direto, sem nem pensar muito.
06. Sambão – Foi uma música mais trabalhada também. Um amigo meu veio com essa ideia de “fiz um samba pra você” e aí fiz a música. Foi na época que eu estava no México e eu tinha um repertório muito grande, porque eu treinava, tocava em casa e tocava em bares, ao vivo. Eu tinha muito samba “na mão”, então pensei em fazer um samba bem completo, que reivindicasse o espírito do samba mesmo.
07. Januário – Ela é de 2013, quando já tinha voltado do México. Era uma época em que o Eduardo Cunha tinha começado a causar muito, com vários escândalos, que só está piorando. Tem uma música do Noel Rosa, que chama Seu Jacinto e fala sobre um trambiqueiro. Então pensei em fazer a música para o Cunha com esse mesmo mote. Eu acabei sendo mais direto que Noel Rosa, mas não falei o nome dele.
08. Poesia Alheia – É uma música bem mais antiga, eu estava na escola ainda, 2003 ou 2004. Era época que eu ouvia bastante Los Hermanos e a letra é do Flávio Império, que é arquiteto também, estudou na mesma faculdade que eu, mas era um comunista da arquitetura, largou a profissão e foi virar artista. Meus pais já trabalharam para ele como montadores.
– Rafael Donadio (Facebook: rafael.p.donadio) é jornalista maringaense.