por Marcelo Costa
Começando mais uma série de duas cervejas por cervejaria com a Invicta, de Ribeirão Preto, que marca seu retorno ao site com a Boss, uma Imperial IPA de 8% de álcool e 115 IBUs. De coloração âmbar acastanhada com creme bege clarinho, quase branco, de excelente formação e retenção, a Invicta Boss apresenta um aroma com destaque para a combinação de malte caramelo com notas herbais intensas, leve cítrico e muita percepção resinosa. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque que se abre ainda com bastante caramelo até abrir um pequeno espaço para a presença de um leve herbal. O amargor é uma porrada, mas 115 IBUs é exagero: dá pra fechar ali pelos 70, que ainda são intensos, mas soam mais reais. Dai pra frente, uma Caramel IPA de responsa, pois abre espaço para o herbal, que adentra o ambiente de forma tímida, mas ajuda a construir uma grande cerveja. No final, doçura e amargor. No retrogosto, caramelo e pinho suave.
De Ribeirão Preto para Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, com a primeira de duas Way Beer especiais para o Clube do Malte: a número 1 é a Holy Amburana, uma Imperial Brown Ale que recebe adição de sementes de amburana (também utilizada em um dos primeiros grandes hits da cervejaria paranaense, a Way Amburana Lager). De coloração âmbar de leves tons escuros e belo creme bege de excelente formação e retenção, a Way Holy Amburana apresenta um aroma que entrega os 9.6% de álcool sem intimidar o bebedor, além de amburana, toffee e caramelo tostado na base. Na boca, toffee rápido no primeiro toque e uma paulada de amburana na sequencia, que atropela tudo que vê pela frente, de maneira saborosa, sem dar muito espaço para outras nuances. Mas, sim, o álcool aparece com delicadeza e o caramelo surge de maneira sutil. A textura é suave com discreta picância (bastante discreta pelo nível alcoólico). Dai pra frente, uma Imperial Brown Ale deliciosamente entortada pela amburana, que domina o conjunto. No final, caramelo tostado embebido em álcool. No retrogosto, amburana e toffee. Uma boa surpresa.
Do Paraná para o bairro da Pompéia com duas cervejas da Trilha. A primeira é a Paz Interior, uma Juicy IPA com os lúpulos Citra, Mosaic e Hull Melon que integra o pack do clube Ultrafresco do mês de junho de 2020. De coloração amarela, turva tal qual um suco de abacaxi, a Trilha Paz Interior apresenta um aroma delicioso que traz sugestão de frutas amarelas com abacaxi no comando mais melão e lichia além da condimentação derivada da levedura. Na boca, doçura e picância praticamente juntas no primeiro toque seguidas de leve perfil de frutas amarelas e sutil percepção dos 7% de álcool. O amargor é presente, mas comportado. A textura é picante tanto devido à levedura quanto ao álcool. Dai pra frente mais uma boa NE da Trilha, daquelas que eles fazem com uma mão amarrada nas costas, ou seja, sem muito esforço. No final, picância e leve harsch. No retrogosto, frutas amarelas, harsch sutil e refrescancia.
Da capital paulista para a Fazenda Santa Terezinha, em Paraisópolis, com a segunda mineira a passar por aqui, a Zalaz Basil, uma Sour Ale que recebe adição de manjericão selvagem, resultado de um blend de cerveja maturada em barricas e cerveja acidifica no tanque. De bonita coloração amarelo palha com creme branco de baixa retenção (típica do estilo) e duração, a Zalaz Basil apresenta um aroma com manjericão presente, mas não de maneira excessiva, e sim perfeitamente dosado na paleta aromática, que ainda deixa revelar leve acidez e até uma sugestão discreta de caju. Na boca, doçura discreta no primeiro toque que dura um milésimo de segundo e abre caminho para uma pancadinha leve de acidez, temperada com manjericão e suave presença de barril. A textura é levemente frisante e, dai pra frente, uma Sour majestosa e apaixonante, que cairia maravilhosamente bem na companhia de uma pizza marguerita. No final, acidez leve, abacaxi e caju discretos. No retrogosto, manjericão.
De Minas Gerais voltamos com a segunda cervejaria paranaense da série, a Bodebrown, que retorna ao site com a Augustus, uma Grape Ale, estilo hibrido entre cerveja e vinho que, no caso dessa Augustus, nasce de uma base Dry Stout com mosto de uvas ( Tannat, Cabernet Franc e Petit Verdot) fermentadas com levedura cervejeira Kveik. O resultado na taça é de tom de ameixa com creme bege espesso de boa formação e retenção. No nariz, predomínio de café com percepção de caramelo tostado e uvas vermelhas num conjunto que levemente remete a xerez e vinho. Na boca, suco de uva no primeiro toque abrindo com mais intensidade na remissão a uvas vermelhas, mas trazendo ainda sugestões de chocolate ao leite, café, tosta e xerez. Não há sensação de amargor e a textura é leve (com muita percepção de uva sobre a língua). Dai pra frente, uma Grape Stout interessante, que não traz o melhor dos dois mundos, mas soa com uma interessante curiosidade, que vale sim experimentar. No final, caramelo tostado, uva e café, que acabam se estendendo para o retrogosto. Curiosa.
A segunda cerveja da Invicta é a Hell Beirão Pills, uma German Pilsner que homenageia o calorão da cidade que abriga a cervejaria, Ribeirão Preto. De belíssima coloração dourada com creme branco espesso de ótima formação e retenção, a Invicta Hell Beirão Pills apresenta um aroma em que o herbal se destaca com sugestão de grama cortada sobre uma base de cereais remetendo a casca de pão francês. Há, ainda, leve percepção floral. Na boca, herbal suave no primeiro toque seguido de cereais num conjunto altamente refrescante, que segue na sugestão de grama cortada e casca de pão frances, com amargor baixo, 35 IBUs que mostram sua cara com a leveza que o estilo pede. A textura é leve e, dai pra frente, segue-se uma German Pils bastante saborosa, com herbal e cereais delicadamente combinados num conjunto que preza a refrescancia do freguês nos dias de calor. No final, herbal mais pegado com sugestão de pinho e amargor levezinho. No retrogosto, herbal e refrescancia. Boa.
De Ribeirão Preto novamente para Curitiba com a segunda da Way para o Clube do Malte, a Uh! Cumaru, uma Imperial Porter que recebe adição de sementes de cumaru, conhecida como “baunilha brasileira”. De coloração marrom bastante escura, quase preta, com creme bege escuro espesso de boa formação e retenção, a Way Uh! Cumaru apresenta um aroma bastante intenso, com notas que juntam álcool (10.1& sutis, mas facilmente perceptíveis), adocicado embebido em álcool (caramelo tostado e muito cumaru) além de leve remissão a madeira e a derivados de torra, como café (aqui com leite). Na boca, cumaru bombando desde o primeiro toque num conjunto que sugere levemente cappuccino com suave sugestão de madeira. Apesar de acusarem 68 IBUs, o amargor não parece chegar a 30, o que é algo bem comportado. Já a textura é suave, meladinha. Dai pra frente, uma bela Imperial Porter, que não esconde sua pancada alcoólica, mas, sim, a caramela com cumaru. Fica bão. No final, cumaru e leve amargor. No retrogosto, cumaru, doçura e tosta. Boa.
A segunda da cervejaria paulistana Trilha, do bairro da Pompéia, é a Celestial Kiss, uma New England IPA de coloração amarela, turva, juicy tal qual um suco de laranja exprimido na hora (4), com creme branco de boa formação e retenção. No nariz, frutado remetendo a toranja em primeiro plano com leve presença de notas que remetem a abacaxi na base, coco distante, herbal e tropicalidade presente. Na boca, doçura herbal no primeiro toque seguida de grapefruit, picância, resina suave e amargor moderado, algo na casa dos 40 IBUs, comportados, mas presentes. A textura é suave, mas nem tanto, com cremosidade deliciosa. Dai pra frente, uma New England IPA ariscazinha, mas extremamente deliciosa, com nuances herbais e frutadas, fechando com leve resina e toranja. No retrogosto, mais toranja e refrescancia. Excelente.
Retornando à Fazenda Santa Terezinha, em Paraisópolis, casa da sensacional cervejaria ZalaZ, com a segunda cerveja dos mineiros nessa série, a ZalaZ & Cia Dos Fermentados – Festival ZalaZ 2019 – Da Fazenda Ao Copo, uma Wild Ale de base Farmhouse que passa por fermentação primaria em barricas de madeira com leveduras da Serra da Mantiqueira e adição de mandioca orgânica da própria fazenda e kombucha de mate da Cia dos Fermentados. De bonita coloração levemente turva com creme branco espesso de bela formação e retenção, a ZalaZ & Cia Dos Fermentados – Festival ZalaZ 2019 – Da Fazenda Ao Copo apresenta um aroma bastante rústico, com traços tradicionais de Saison (remissões à fazenda e pegada campestre), acenos cítricos e acéticos (limão siciliano, uva verde, tangerina) além de madeira bem suave. Na boca, limão siciliano (incrível) no primeiro toque seguido de uva verde, madeira, acidez, azedinho, campo, fazenda, serra e mate bastante sutil. A pegada Sour é bastante digna, e apaixonante. A textura é frisante, com muita adstringência. Dai pra frente, uma Saison Sour maravilhosa, brasileira e deliciosa. No final, limão e adstringência suave. No retrogosto, mais salivação, limão, uva verde e acidez. Uou!
Fechando a série em Curitiba, casa da Bodebrown, com a Hair Of The Bode, versão base da Barrel Aged Carmenere que passou por aqui ano retrasado. Trata-se de uma Barley Wine que descansa na garrafa por 12 meses, colaborativa entre a Hair of the Dog (EUA) e a Bodebrown, que a lançou oficialmente em garrafa no final de 2015. Aqui, a versão 2019 apresenta uma coloração marrom acobreada com creme bege que se forma bem e desaparece rapidamente. No nariz, doçura maltada intensa salta à frente e remete a caramelo tostado e melado. Há, ainda, leve sugestão de biscoito, ameixa e sutil percepção (dos 11.7%) alcoólica e de vinho do Porto. Na boca, doçura melada no primeiro toque abrindo com mais doçura de caramelo tostado, calda de ameixa suave e vinho do Porto. Não há amargor e a doçura marcante consegue encobrir a pancada de álcool. A textura, por sua vez, é melada, licorosa. Dai pra frente, uma American Barley Wine caprichada, que entrega os principais atributos do estilo, de maneira elegante, adocicada e alcoólica. No final, caldinho de ameixa e caramelo. No retrogosto, calor e caramelo.
Invicta Boss
– Produto: Imperial IPA
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 8%
– Nota: 3.35/5
Way Holy Amburana
– Produto: Imperial Brown Ale
– Nacionalidade: Pinhais, PR
– Graduação alcoólica: 9.6%
– Nota: 3.41/5
Trilha Paz Interior
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.61/5
Zalaz Basil
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Paraisópolis, MG
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 4.00/5
Bodebrown Augustus
– Produto: Grape Stout
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 6.1%
– Nota: 3.39/5
Invicta Hell Beirão Pils
– Produto: German Pilsner
– Nacionalidade: Ribeirão Preto, SP
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 3.42/5
Way Uhu! Cumaru
– Produto: Imperial Porter
– Nacionalidade: Pinhais, PR
– Graduação alcoólica: 10.1%
– Nota: 3.45/5
Trilha Celestial Kiss
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3.96/5
ZalaZ & Cia Dos Fermentados – Festival ZalaZ 2019 – Da Fazenda Ao Copo
– Produto: Sour
– Nacionalidade: Paraisópolis, MG
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 4.20/5
Bodebrown Hair of The Bode
– Produto: American Barley Wine
– Nacionalidade: Curitiba, PR
– Graduação alcoólica: 11.7%
– Nota: 3.88/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)