Introdução por Marcelo Costa
“O Império da Lã é uma banda sem repertório nem formação fixa!”, avisa o release no Facebook. “É uma junção de artistas para farrear e trabalhar, que se recusa a adotar a reforma ortográfica da língua portuguesa por pura simpatia com a trema!”, completa o texto, que não conta que a banda, formada em 2007 e desde 2014 coexistindo como bloco de carnaval nas ruas de Porto Alegre, tem, sim, um imperador: Carlinhos Carneiro.
Seguindo o texto da rede de Mark Zuckenberg, “A premissa básica é: O Império da Lã é uma banda sem repertório nem formação fixa!” – mas eles já lançaram três discos, e o terceiro, “Toco Maravilhoso”, saiu em 2019. “Essa proposta livre acabou se transformando nos palcos e na nossa cabeça num lance bem mais aberto. É uma ‘banda – instalação – readymade anti-totalitarista, pró-álcool – festa – e- libertinagem’ portanto uma obra de arte por si só”, completa o texto.
Em (uma) entrevista (imperdível) ao Scream & Yell, Carlinhos contou que o Império da Lã “é uma cooperativa divertida, a gente está combinando de ir pra praia e inventar pela primeira vez tudo junto, de uma vez, já pra ser diferente”. E falando em ser diferente, a banda convidou nove artistas para reinventarem as faixas do “Tôco Maravilhoso”, “e o transformaram em algo novo, e ainda mais doido e divertido”, eles avisam.
Produzido pelos líderes desse bando sem formação, repertório ou estilo fixos, o Imperador Carlinhos Carneiro e o Primeiro Ministro Chico Bretanha, “Tôco Remexido” “é uma brincadeira de quarentena que virou disco. Começou com um remix, lá no comecinho do isolamento social, e foi chegando mais um e mais um, e virou o disco todo”. Abaixo, Carlinhos fala sobre os responsáveis pelos remixes e as respectivas faixas em que trabalharam:
Faixa a faixa por Carlinhos Carneiro
Ccccchaves – O Ruffles conseguiu deixar a nossa “A Crise Chegou à Classe Média (Transei)” ainda mais transante. Um delicioso perigo pros solteiros quarentenados, agora “Transei” borrifa feromônios pelo ambiente com um flow moderno, jóvem, e abre o álbum com uma sonzeira animal – que teve ainda o dedo do mestre Marcelo Fruet, que ajudou na masterização dela.
Flu – O encontro do Caribe com Cidreira, de “Louca Pra ir Pra Praia”, ficou ainda mais divertido ao ser recriado pelo mestre Flu – nosso ídolo máximo, no que se refere a bonvivantismo. Esse manifesto de libertação, cantado pela Baronesa Adriana Deffenti, ficou anárquico e engraçado, como não era antes.
Julio Porto – O ragga/dancehall “Impune”, que fizemos em parceria com o grande Fabão, pedia um dub, e o Nêgo Ruivo, com seu estúdio Marmita, cheio de delay de fita, e anos de estudo da cultura reggae, mergulhou o som na loucurada e na catêga. O final da faixa, em que ela viaja num instrumental quase free jazz, pra mim, é um dos grandes momentos do álbum todo.
Fredi Chernobyl – Essa “Dançando no Giroflex” é a faixa que deu origem ao álbum. O Fredi foi a primeira pessoa com quem falamos a respeito da ideia de refazer o “Tôco” em remixes, bem antes do Coronga. E bem no comecinho da quarentena ele nos apresentou essa maravilhosa versão funk de “Giroflex”. Foi aí que saímos falando com o resto do pessoal, para completar o álbum. Tivemos que controlar a ansiedade e guardar essa versão a sete chaves, por meses. Chernobyl é o nosso Merlin do Funk, um Mago Imperial do balanço.
Jojô – Coube ao membro fundador do Império, Jojô Lalá, agora residente em São Paulo, atuando enquanto Adido de Briques Imperiais, a tarefa de deturpar a música mais séria do disco, “Meia Parcela (Seu Governador)”, e transformá-la em algo que, palavras suas, “ela tá numa darkzêra, depois vem um house doente e depois um lo-fi house mais doente ainda”. E fez todo sentido!
Fu_k the Zeitgeist – Foi meio sem querer que o Valmor Pedretti Jr, o nome por trás do Fu_k The Zeitgeist, ficou justamente com a nossa versão para “Lucina”, dos Superguidis, para trabalhar. Logo ele, que faz parte do Coletivo 4’33” ao lado do Andrio Maquenzi, um dos compositores da música. Mas ele acabou fugindo (ainda) mais que a gente da sonoridade original da música, e ainda contou com guitarra maravilhosamente alucinada de Carlos Ferreira, do Quarto Sensorial, no arranjo.
Pederneiras – Outros dos membros fundadores do Império, Pedro Petracco é o típico “chuta escanteio e cabeceia”. Faz de tudo, e bem demais! Ainda mais quando incorpora seu alter ego one man band, o Pederneiras. Para fazer sua versão do clássico “Plim Plim – As Pintas São Tudo Uns Cocô”, do saudoso Flávio Chaminé, que regravamos como “o único rock” do “Tôco Maravilhoso”, o Píter acionou o modo festinha e transformou todo o astral do som.
Graxaim – A faixa título do “Tôco Maravilhoso” é o nosso desatino conceitual, onde colocamos o pessoal do grupo de whatsapp imperial pra participar, em uma colagem de áudios. Pro novo álbum, chamamos o dedo gordo do produtor Guilherme Ceron pra rebagunçar a zoeira e a levar pra passear em outras paragens. O resultando é uma espécie de viagem de sálvia sonora – se é que me entendem.
Marcelo Granja a.k.a. DJ Tierruca – Um dos produtores do “Tôco Maravilhoso”, Marcelo Granja reaparece no finzinho do “Tôco Remexido” como DJ Tierruca, para transformar a marchinha carnavalesca/frevo “As Pessoas Fazem Merda” num pop reggae que finaliza a festinha lá em cima.
E para dar cara a essa coisa toda, foi convocado o Cavaleiro Imperial Fábio Alt, responsável por toda a programação visual do “Tôco Maravilhoso”, para remixar sua obra nessa nova capa, adicionando uma futricada digital no que era “analógico”, assim como estava acontecendo com o som. No visu do novo álbum, as fotos de maquetes com bonequinhos, ovelhinhas e cenários são manipuladas e ilustram um novo quadro.
E o Fábio também preparou um “remix” do clipe de Dançando no Giroflex, fundindo imagens não utilizadas no clipe da versão oficial com imagens do lyric vídeo (ambos dirigidos por ele), para lançar a versão funk que o Chernobyl fez para o novo álbum, que você pode assistir abaixo:
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.