entrevista por Pedro Salgado, de Lisboa
Zeca Baleiro criou um estilo pessoal com base numa hábil mistura entre os ritmos tradicionais brasileiros e elementos do rock, pop e música eletrônica, que se refletiram favoravelmente nos discos “Por Onde Andará Stephen Fry?” (1997), “Vô Imbolá” (1999) e “Pet Shop Mundo Cão” (2002). Respeitado e acarinhado no Brasil e em Portugal pela sua obra, Baleiro sempre apreciou o desafio de gravar autores diferentes e merecem destaque as suas parcerias composicionais com Chico César, Lobão, Wado, Arnaldo Antunes, Lenine e Zeca Pagodinho, entre outros.
A paixão pela música portuguesa começou a tomar forma por via de uma fita cassete que lhe foi oferecida nos anos 80 e que incluía canções de Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho e Zeca Afonso. Outro passo decisivo para efetivar a sua jornada portuguesa ocorreu na década seguinte, quando recebeu e encantou-se pelo disco “Viagens” (1994), de Pedro Abrunhosa, com o qual dividiria o palco em São Paulo no evento “Navegar é Preciso’ (1998), concebido para promover encontros entre artistas brasileiros e portugueses.
Seguir-se-ia uma atuação com Sérgio Godinho na Festa do Avante (2001), um show no SESC Pompeia na companhia da banda Clã (2009), que seria retribuído em Lisboa, parcerias com o grupo Ala dos Namorados e a cantora Susana Travassos e a participação memorável no Rock In Rio Lisboa ao lado de Jorge Palma (2010). Em disco, entre outras colaborações, destacam-se o dueto que fez com Sérgio Godinho na faixa “Coro das Velhas” (do álbum de Godinho “O Irmão do Meio”, de 2003, e presente na coletânea “Lado Z”, de Zeca, no Brasil) e uma gravação de “Frágil” (de Jorge Palma), que foi editada em 2006 como faixa-bônus do CD “Baladas do Asfalto e Outros Blues” lançado em Portugal (disponível em streaming na versão brasileira do álbum).
O seu mais recente trabalho, “Canções d’Além-Mar” (nas plataformas digitais desde de 10 de Julho e com edição física prevista até ao final do ano), é definido pelo próprio como “um recorte afetivo do cancioneiro português feito por um músico brasileiro, numa homenagem sincera e apaixonada”, e concretiza uma ideia que Baleiro tinha há vários anos e na qual transporta o seu afeto para um patamar superior. O objetivo primordial do álbum reside na tentativa de despertar a curiosidade do público brasileiro por cantores e compositores portugueses renomados mas, também, colocar a marca interpretativa e musical de Zeca Baleiro nas canções. A releitura de “Às Vezes O Amor”, de Sérgio Godinho, sobressai pelo frescor pop, “Ali Está A Cidade”, de Fausto, surge renovada com tons jazzísticos e em “Bairro do Amor”, de Jorge Palma, Baleiro assina uma interpretação emotiva. Nas 11 versões apresentadas, onde também se incluem temas de Zeca Afonso, António Variações, Pedro Abrunhosa, Rui Veloso e Carlos Tê, Ornatos Violeta, João Gil e João Monge, Vitorino e José Cid, emerge uma visão artística simultaneamente classicista e exploratória.
Durante esta entrevista, Zeca Baleiro demonstrou conhecer bem a cultura de Portugal e revelou um genuíno interesse pela música dos novos e velhos compositores (possui uma coleção de discos portugueses diversificada). Por entre questões históricas e a sua ligação ao álbum “Canções d´Além-Mar”, passando pelas afinidades artísticas, perspectivando um eventual interesse do público brasileiro ou desafiando os músicos lusitanos a efetuarem um investimento pessoal, para alcançar um público receptivo, Zeca Baleiro deixou no ar a hipótese de fazer um segundo volume que poderá contemplar artistas e bandas que admira e ficaram de fora como José Mário Branco, Luís Represas, Clã, Deolinda, Xutos & Pontapés ou Rádio Macau. Como obra, “Canções d´Além-Mar” assume um papel muito importante no contexto das relações culturais luso-brasileiras. Dir-se-ia que é um pequeno passo, mas seguro, que justifica novas audições e favorece a descoberta da música portuguesa. De São Paulo para Lisboa, Zeca Baleiro conversou com o Scream & Yell. Confira:
Zeca Baleiro comenta faixa a faixa as 11 músicas de “Canções D’Além-Mar”
É longa a sua ligação à música portuguesa. Como você materializou esse gosto num disco que se apoia em composições de autores portugueses?
No Brasil, durante os anos 70, ouvia-se muito fado nas rádios, da mesma forma que passavam música italiana, especialmente os grandes crooners, mas também Serge Gainsbourg. Depois disso, tudo o que se escutava de Portugal veio pelo folclore de Roberto Leal, que era um artista bastante querido no Brasil, com quem eu faria uma parceria, mas poucos meses depois morreu. O filho dele convidou-me para colaborar, disse-me que o Roberto era meu fã e eu fiquei feliz, porque admirava a sua trajetória mas, infelizmente, esse trabalho não se concretizou. Considero que ele fez um grande serviço e um desserviço também, porque passou a ideia de que a música portuguesa se resumia ao folclore, algo que já é muito comum entre os brasileiros. Ainda assim, faltava esse conhecimento de uma sonoridade mais pop e contemporânea, o equivalente à música popular brasileira, que surge na década de 60. Eu tomei contato com essa realidade através de uma cassete que duas amigas me deram nos anos 80, uma delas chama-se Laurinda, mora em Oliveira de Azeméis e é casada com um português. Elas presentearam-me com uma gravação que tinha Fausto e Vitorino e no outro lado da k7 estavam músicas de Sérgio Godinho, Zeca Afonso e alguns artistas de que não me recordo. Foi a minha primeira convivência com essa música mais nova de Portugal. Posteriormente, recebi o disco “Viagens”, de Pedro Abrunhosa, conheci as colaborações dos Xutos & Pontapés com os Titãs e na cena rock familiarizei-me com os Delfins. Mas, o meu encantamento maior foi com a geração equivalente à do Edu Lobo, João Bosco e Chico Buarque, que está na linha do Sérgio Godinho e do Zeca Afonso, embora as idades não sejam iguais. Fiquei encantado com a qualidade musical, poética e política desse repertório e pensei: “Um dia vou gravar isso num disco”. Só que eu não queria fechar-me numa determinada época e houve um amigo que me aconselhou a escolher temas recentes. Eu escutei Salvador Sobral, Virgem Suta e Capitão Fausto, mas o meu afeto tinha que passar pela geração anterior. É um pouco como se um português fizesse um disco de música brasileira e não incluísse Chico Buarque ou Gilberto Gil.
Neste trabalho, você reuniu a orquestra de cordas russa St. Petersburgo Studio Orchestra e diversos músicos portugueses e brasileiros. Você pretendia uma abordagem diversificada para as canções ou tinha em mente uma sonoridade específica de conjunto?
É um disco de intérprete, de cantor. Quando interpreto músicas de outros compositores, tento trazer essas canções para o meu universo e pretendo que os temas se pareçam comigo. Já fiz isso noutros trabalhos e gravei vários autores. Poderia ter feito o álbum com uma banda lusitana, mas acho que é mais interessante colocar esse tempero da musicalidade brasileira nas canções portuguesas. Achei por bem convidar três músicos de Portugal (Manuel Paulo, Pedro Jóia e Nathanael Sousa) para trazerem a sua arte e eu queria esse ingrediente. Mas, também gostava que fosse gravado por músicos brasileiros. A St. Petersburgo Studio Orchestra já tinha sido usada num disco anterior e o Sasha, um amigo arranjador que trabalha muito com eles, deu a dica. São cordas de cinema e o custo-benefício é muito razoável. É quase o mesmo valor do que gravar cordas no Brasil, sem esquecer a qualidade das orquestras russas.
A escolha do repertório de “Canções d´Além-Mar” contemplou as últimas décadas e privilegiou diversos artistas consagrados, entre os quais Sérgio Godinho, Fausto, Jorge Palma ou Pedro Abrunhosa. Sentiu que eles estavam mais próximos de si musicalmente ou foi apenas uma questão afetiva?
Eu coloquei-me menos como um parceiro e mais como fã e ouvinte. A parte bonita das parcerias musicais é que admiramos aquilo que não temos e vice-versa. São temas que eu poderia ter feito se fosse capaz para tal. Por exemplo, escutei muitas músicas maravilhosas do Jorge Palma como é o caso de “Estrela do Mar” ou “Dá-me Lume”, no entanto acabei por me identificar com o disco “Bairro do Amor”, que é antológico. Nos arranjos das canções tentei imprimir a minha marca e a escolha do repertório revelou-se difícil, mas sinto que foi uma questão de admiração.
“Às Vezes o Amor”, de Sérgio Godinho, foi a sua aposta para primeiro single. Quando selecionou esta música, tinha em mente uma eventual adesão popular?
Adoro o estilo do Sérgio Godinho e até tentámos fazer uma música juntos, mas não deu certo. Ele tem canções muito emblemáticas: “Com Um Brilhozinho nos Olhos”, “O Primeiro Dia”, “Salão de Festas” ou “Lisboa Que Amanhece”. Mas, rendi-me ao frescor fm e radiofônico que a faixa “Às Vezes o Amor” representa.
Li numa entrevista sua que sente o disco como “uma missão de fazer a ponte entre as duas margens do Atlântico e assim trazer para o público brasileiro, músicas como “Canção do Engate” de António Variações (que integra o seu repertório nos shows), entre outras”. Acredita que este álbum, em função do público que você tem no Brasil, poderá despertar o interesse pelo cancioneiro português?
Curiosamente, isso já está acontecendo. Avaliando a repercussão do disco nas redes sociais (como não vamos ter shows tão cedo), tenho visto que as pessoas estão encantadas com um repertório que ignoravam. Quando me mostraram esse trabalho dos compositores portugueses, sempre achei que era uma pena o público brasileiro não o conhecer. O Sérgio Godinho, quando atua no Brasil, toca num espaço chamado Casa de Portugal, que é bastante restrito e o grande público não conhece. Por isso, sempre tive vontade de fazer um projeto em que eu fosse o mestre de cerimônias de alguns desses autores. Mas, isso tem um custo muito alto e é deveras complicado de operacionalizar. O álbum é apenas uma primeira amostra e é possível que surja no futuro o segundo volume desse trabalho, relendo outra época ou apostando numa vertente atualizada. No meu entender, Fausto, Sérgio Godinho e os outros músicos portugueses deviam fazer concertos no Brasil regularmente. Já conversei com eles e uma das dificuldades que apontam é o entendimento da língua, bem como o fato da logística ser cara. As gravadoras brasileiras lançavam poucos discos portugueses e, contrariamente, as editoras lusitanas eram mais interessadas na divulgação dos discos brasileiros. Eu sou razoavelmente conhecido em Portugal devido a essa razão. Acho delicioso escutar o sotaque português e ouvir o Jorge Palma cantando, mas é difícil para quem não tem familiaridade. Julgo que isso seria atenuado com mais atuações. Devido às várias parcerias que ele tem feito, António Zambujo já canta com pouco sotaque e está habilitado a ter mais público no Brasil.
Você já atuou ao lado de músicos portugueses como Pedro Abrunhosa, Sérgio Godinho, Clã e Jorge Palma. O que recorda de especial nessas experiências?
A primeira experiência de palco que eu tive com um músico português foi com o Pedro Abrunhosa. Decorreu no Centro Cultural de São Paulo, em 1998. Eu tinha acabado de lançar o meu primeiro disco (“Por Onde Andará Stephen Fry?”) e conhecia o álbum dele “Viagens” (1994) de ponta a cabeça. Sabia as músicas todas, tanto que cantamos “Socorro” e “É Preciso Ter Calma” e depois o Pedro regressou ao palco e cantou comigo “Heavy Metal do Senhor”. Desde aí ficámos próximos e sempre que eu vou a Portugal ele vai assistir aos meus shows. No ano 2000, o Sérgio Godinho estava de férias com a família em Salvador da Bahia e assistiu a um concerto em que eu promovia o álbum “Vô Imbolá” (1999). No final, ele falou comigo (eu já o conhecia de nome) e fiquei muito encantado com a simplicidade da sua abordagem. Disse que tinha adorado a atuação e acrescentou que gostaria de fazer uma colaboração. Em 2001 o Sérgio convidou-me para cantar com ele na Festa do Avante e tratou-se do meu primeiro concerto massivo em Portugal. Foi mesmo interessante e abriu-me diversas portas. A partir desse momento realizei mais shows por lá. Aqui no Brasil fiz uma dobradinha especial em 2009, no SESC Pompeia, com os Clã, que teve a participação do Arnaldo Antunes e, se me recordo, a Fernanda Takai também colaborou. Depois atuei com o Jorge Palma no Rock In Rio Lisboa 2010 e também gostei muito.
Grande parte do conhecimento sobre a música portuguesa no Brasil advém do fado ou do folclore. Para si, o que falta à nova música portuguesa, no segmento pop, rock e hip-hop, para ter maior visibilidade junto do público brasileiro?
Eu desconheço as intenções desses músicos. Mas, se o objetivo é fazer uma carreira no Brasil, eles deveriam vir cá mais vezes, como se fosse um investimento pessoal. No caso de um brasileiro tocar em Portugal existe uma demanda, os produtores mobilizam-se investem, arriscam e gastam dinheiro. Aqui é diferente. Isso aconteceu apenas com o Madredeus, que foi um fenômeno de mercado e artístico em simultâneo. Poucas pessoas conhecem os Deolinda, mas se eles quiserem aparecer e criar o hábito de atuar no Brasil (uma vez por ano ou de dois em dois anos), naturalmente irão conquistar mais público. O brasileiro apesar de ser refratário, também é muito receptivo. Somos um povo meio estranho, um pouco bipolar (risos), porque ao mesmo tempo que mostramos o nosso lado amoroso, também revelamos uma faceta fascista e agora estamos vendo isso claramente.
Para além do Live de 10 de Julho, no seu canal do Instagram, você pretende tocar os temas de “Canções d´Além-Mar” futuramente ao vivo?
Nessa Live, em que o Pedro Abrunhosa participou, toquei metade do repertório no violão. E irei fazer mais uma colaboração com outro compositor. Claro que é um périplo pequeno, mas não deixa de ser interessante. Quando esse surto pandémico acalmar, pretendo tocar algumas dessas canções, sem fazer um show específico, porque poderia ser indigesto para a assistência. Por isso, juntarei essas músicas ao meu cancioneiro. No ano passado, lancei dois discos autorais: “O Amor no Caos – Vol.1” e “O Amor no Caos – Vol.2”. Ainda estou em turnê com esses trabalhos e tive de interromper o tour, no entanto a ideia passa por atrelar esse repertório às músicas portuguesas e começar a popularizá-las. Eu sinto que algumas seleções, como “Bairro do Amor” ou “Canção do Engate” podem soar muito óbvias. Mas, eu sempre pensei na outra via, ou seja, mostrar ao público brasileiro essa produção. O António Variações tem outras canções incríveis, como “Anjo da Guarda”, “O Corpo É Que Paga”, “É Pra Amanhã”… Mesmo assim, foi incontornável a escolha da “Canção do Engate”, já que é um clássico e comove a gente. No caso do Fausto, optei por um lado b (“Ali Está A Cidade”), que poucas pessoas conhecem. Consequentemente, eu introduzi esse equilíbrio para não maçar ninguém. O objetivo foi fazer um disco, mas se conseguir estabelecer uma ponte ficarei muito recompensado.
Recuando a 1997 e mais concretamente ao disco “Por Onde Andará Stephen Fry?”, destaco a faixa “Heavy Metal do Senhor”, porque sempre achei que a temática estava envolta numa metáfora. Pode-me explicar qual é o âmbito da canção?
Boa pergunta! Recentemente, um amigo disse-me: “Pôxa”! Você foi profético nessa canção”. O mundo inteiro já está pirando com o heavy metal do senhor (risos). É um tema muito presente na cultura nordestina, no cordel e no repente, que retrata a luta de deus e o diabo. Isso resultou também no título do disco de 1979 “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu”, de Zé Ramalho. Universalmente, é uma questão recorrente, porque a briga entre o bem e o mal está no imaginário humano. Eu quis fazer uma alegoria, em que atualizava o assunto e enquadrava-o no mundo do showbizz. A dada altura deus fica com a bola toda e estamos presenciando a ideia, num quase totalitarismo religioso do bem. Mas, na verdade, de bem não tem nada e o diabo com o seu charme romântico está perdendo espaço (risos).
Como você avalia o papel do artista brasileiro em face da atual conjuntura social e política do Brasil?
É um momento muito difícil para todos. Atualmente, a cultura está muito demonizada aqui no Brasil. Por um lado, a maior parte dos artistas está ligada à esquerda e isso é inevitável. Por outro lado, as pessoas que estão no poder trabalham para um público mais conservador, que não atribui à cultura o valor que nós damos: algo de absoluto, edificante e relacionado com a cidadania. Eles encaram isso com desconfiança. O sentimento que o brasileiro tem pelos estrangeiros é de vergonha e constrangimento. Nós temos uma promessa social e de futuro tão brilhante e nunca conseguimos concretizá-la. E ainda por cima agora estamos retrocedendo. A nossa democracia tem 30 anos e quando sentíamos que iriamos estabelecer um patamar razoável no cenário político acabamos por recuar 100 anos. Eu conversei com um poeta e compositor português, Tiago Torres da Silva, que gravou um disco no Brasil, em que eu participei, e ele ficou chocado com a situação, porque os brasileiros não têm vocação para isso. Pode parecer um cliché, mas trata-se do país do futebol, da música, do cinema, de uma certa alegria e afetividade muito claras e subitamente transformamo-nos nessa nação obscura. É uma incógnita que tem inquietado todos nós e imagino que vocês em Portugal olham para este panorama com o mesmo espanto.
No momento, sente-se mais próximo da melancolia do álbum “O Amor no Caos – Vol.2 (2019)” ou do teor político do EP “Escória” (2020)?
Sinto-me no meio do caminho (risos). A melancolia está presente na minha música e um amigo meu que escutou o disco “Canções d´Além-Mar” disse-me: “Zeca, você escolheu canções bem tristes”. A minha escolha acabou recaindo nessas músicas, porque eu também sou triste. É igualmente um traço da música portuguesa, mesmo o rock e o pop têm um pouco dessa alma lusitana e não tem como tirar.
Gostaria de deixar uma mensagem aos leitores do Scream & Yell?
Os tempos estão estranhos no mundo. Portugal está numa situação política mais estável. Mas, o planeta está em convulsão e o cenário é meio apocalíptico. A música, para além de ser um refúgio da alma, dos sentimentos e das emoções, pode funcionar também como instrumento de transformação e operar pequenos milagres na consciência das pessoas. O seu poder de penetração é imediato (mais do que qualquer arte). Para suportarmos o caos desse cenário que estamos vivendo de agitação social e política, do fluxo de imigrantes e refugiados, que está fazendo com que o mundo ganhe outra feição, bem como o crescimento da extrema-direita e a sua ascensão global, só com poesia, música e atitude é que poderemos superar todas essas contrariedades. Acho que temos de nos posicionar e a música popular pode ser a grande ferramenta para fazermos uma verdadeira transformação.
– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui.
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