Resenhas por Adriano Mello Costa
“Dias Estranhos”, de Gabriel Calfa, Marcus Leopoldino e Diego Porto (Risco HQ’s Independentes)
“Dias Estranhos” é uma saga independente de quadrinhos que teve a primeira edição publicada na primavera de 2016. A segunda saiu em 2017 e a terceira em 2019, fechando assim o primeiro arco da história. O roteiro de Marcus Leopoldino conta a história de Jean, um cara atormentado por pesadelos incomuns que se vê dentro de uma trama sobrenatural que transita entre a vida real, a magia e a alucinação. A arte de Diego Porto é bem fora do usual e, além de respaldar o roteiro, consegue ir além e brilhar isoladamente devido em boa parcela de culpa as cores vibrantes e lisérgicas de Gabriel Calfa. “Dias Estranhos” foi o projeto inicial da Risco HQ’s Independentes, que já publicou outras histórias expandindo esse universo. É um trabalho repleto de qualidades e deixa a expectativa para o que virá na jornada de Jean e seus amigos Luana e César.
Nota: 7
“Mondo Urbano”, de Mateus Santolouco, Eduardo Medeiros e Rafael Albuquerque (Editora Mino)
Entre 2008 e 2009 os amigos Mateus Santolouco, Eduardo Medeiros e Rafael Albuquerque criaram uma história que tinha o rock como ponto central das diversas tramas que convergiam entre si durante as páginas, tramas de descoberta, romances, amizade e… coisas mais estranhas. Lançado como zine, o projeto reverberou bastante e ficou como um marco positivo na carreira dos autores que, após isso, traçaram caminhos sólidos nos quadrinhos sem deixar a amizade de lado. No final do ano passado, a editora Mino publicou uma galante edição comemorativa para os 10 anos de “Mondo Urbano” com 136 páginas, capa dura e extras bacanudos como making of e entrevistas. O trabalho ainda esbanja vitalidade e energia juvenil, aquela força que a juventude tem o poder de imprimir às coisas. Mesmo que uma ou outra coisa hoje tenha envelhecido um pouco mal e já não encaixe mais tão bem, a história ainda tem méritos e vigor.
Nota: 7,5
“Salseirada”, de Al Stefano (Zapata Edições)
Salseirada é uma chuva potente e ligeira, além de servir como sinônimo de conflito e briga. É também o nome do álbum que o ilustrador e quadrinista Al Stefano publicou em 2019 com 120 páginas pela Zapata Edições e apoio do PROAC-SP. O trabalho é um belo realismo mágico ambientado no coração do sertão nordestino. Os irmãos Salú e Zabé encontram ao acaso uma rabeca mágica que possui o poder de fazer chover. Os personagens são inspirados em grandes artistas pernambucanos já falecidos: Mestre Salú e Zabé da Loca. Enquanto os dois com a ajuda de Mutum – o outro integrante do trio musical – saem por lugares devastados pela seca tocando e dando vida e esperança aos moradores, viram alvo de um poderoso coronel que busca o instrumento para utilizar em fins nada nobres. Unindo aventura, folclore, humor e crítica social, o autor faz em “Salseirada” um trabalho lírico e empolgante.
Nota: 8,5
“Três Buracos”, de Shiko (Editora Mino)
Poucos artistas nacionais hoje são tão relevantes como o paraibano Shiko que nos últimos anos despeja grande obra atrás de grande obra, isso sem contar a construção de posters, murais, telas e afins. Seu trabalho mais recente é “Três Buracos”, publicado em 2019 pela editora Mino com capa dura e 128 páginas onde apresenta novamente pleno domínio do ofício que exerce. Com arte de alto nível configurada de modo distinto para cada momento da história, roteiro bem construído e amarrado sem obviedades, “Três Buracos” apresenta uma crítica social pulsando forte ao fundo. Dividido em três partes conta a história de Tânia, sua companheira Cleonice e seu irmão Canhoto que em uma cidade quase fantasma localizada no sertão do Nordeste procuram uma maneira de ajustar a vida de vez no meio de obsessões, desconfianças e uma dose quase invisível de esperança escondida. Outro imenso acerto da parceira entre o autor e a editora.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!