entrevista por Ananda Zambi
Ex-Rapazes de Vida Fácil e Sex Beatles e autor e co-autor de grandes sucessos do pop rock brasileiro como “Não Sei Dançar”, gravada por Marina Lima, “Homem não Chora”, interpretada por Frejat, e “Natasha”, “Olhos Vermelhos”, “Quatro Vezes Você”, “Não Olhe pra Trás”, “Tudo Que Vai” e mais uma dezena de hits gravados pelo Capital Inicial (ele é o principal letrista da banda do álbum “Todos os Lados”, de 1989, até os dias atuais), Alvin lançou um disco solo em 1997 que é um pérola perdida do rock nacional anos 90, e agora, em 2020, estreia na literatura.
O suspense “O Veneno dos Pequenos Detalhes” conta a história de acontecimentos estranhos que surgem no ano de 2044 na capital federal e na vida de Otávio Silva, um deputado inexpressivo na Câmara. Apesar do pano de fundo político, a narrativa nada tem a ver com escândalos e corrupções: “É muito mais sobre o lado bom e ruim dos seres humanos”, revela Alvin. O artista, que também fez música nova com Marina e está começando a compor com Dinho Ouro Preto para o próximo projeto da banda brasiliense, começou a escrever “O Veneno dos Pequenos Detalhes” ano passado, aos poucos – “Meio Kerouac”, ele diz – e sem saber direito se ia terminar.
Ele terminou e decidiu disponibilizar o livro primeiramente em formato digital, de maneira independente. O lançamento físico vai depender do andamento do controle da pandemia no país. Nesta entrevista, Alvin fala sobre o sonho de escrever, o processo criativo e as diferenças de escrever um livro e escrever músicas, a falta de valorização dos compositores no Brasil, a distância das redes sociais e viagens. Conta que a chance de gravar um segundo disco solo é mínima e revela sua rotina em meio a pandemia: “Escuto música, vejo filmes e leio. Ficar sozinho em casa não me incomoda nem um pouco”, revela. Confira o papo.
De onde veio a ideia de escrever um livro?
Sempre tive a ambição. Sou leitor, e como um criativo seria um caminho natural, mas esperei até ter tempo e paciência pra escrever.
Esse é seu primeiro livro. Como foi o processo criativo? O que você notou de diferente entre escrever um livro e escrever letras de música?
A história vinha à cabeça enquanto escrevia, não tinha muita ideia de como ia terminar. Como uma música, ele foi se escrevendo sozinho através de mim.
Então teve alguma semelhança com o processo de fazer uma música?
Música é mais rápido, e como faço há muito tempo, é mais fácil e natural pra mim, e também tenho um melhor julgamento sobre se está bom ou não. Em livro sou novo, então não tenho um julgamento tão preciso. Quando acabei o livro, não tinha ideia se era bom ou ruim, mas resolvi encarar assim mesmo.
“O Veneno dos Pequenos Detalhes” conta a história de acontecimentos bizarros que mexem com a vida de um deputado inexpressivo em Brasília em 2044. O que te chama atenção no universo da capital federal e da política brasileira pra escrever uma história com esse pano de fundo?
Foi mais por observar a atual obsessão dos brasileiros por políticos. Poderia se passar em outro ambiente, como o meio musical ou empresarial. O foco não é político e corrupção financeira e Polícia Federal não são personagens. É muito mais sobre o lado bom e ruim dos seres humanos, sobre a humanidade em todos nós.
Saindo um pouco do assunto do livro… Você é um grande compositor do pop rock brasileiro. Já foi gravado por grandes artistas brasileiros, como Marina Lima, Frejat, Léo Jaime, Ritchie e Capital Inicial. E você já falou em uma entrevista antiga que “No Brasil, o autor é apenas um nome que consta no CD e raramente é lembrado por quem o compra”. Você acha que hoje em dia, em que o acesso à informação está muito mais fácil, isso ainda acontece? Se sim, te incomoda?
É mais fácil de encontrar quem é o compositor sim, mas para quem se interessa por isso. Em geral ninguém se interessa (risos). Isso não me incomoda nem um pouco, gosto do anonimato.
Mas também gosto de ser reconhecido e respeitado, principalmente pelos meus pares, meus colegas músicos.
O que você tem ouvido no momento? Quais são seu compositores favoritos atualmente?
Escuto muito rock inglês dos anos 60 e 70, coisa de velho (risos), principalmente em vinil, que coleciono. Meus compositores favoritos são os clássicos tipo Lennon McCartney, Bowie, etc.
Você tem músicas famosas na voz de outras pessoas, mas você gravou apenas um CD solo. Como fã, tenho que fazer essa pergunta: existe alguma possibilidade de você voltar a gravar, ou voltar a fazer shows?
A de gravar é mínima. Quanto a fazer shows, inexistente. Nunca gostei de estar no palco. Não sou um performer, nem um cantor.
Uma curiosidade: Nos dias de hoje as pessoas usam muito as redes sociais, e em tempos de quarentena, acabam usando mais ainda. Mas você não tem redes sociais. Então, como tem ocupado o tempo livre nesse distanciamento social?
Além de cuidar da casa, da saúde, etc., no começo terminei de revisar o livro. Fora isso, escuto música, vejo filmes e leio. Ficar sozinho em casa não me incomoda nem um pouco. Quanto a redes sociais, não gosto nem um pouco, só tenho zap porque é quase impossível viver sem atualmente.
Você já tem algum plano pra quando a pandemia acabar?
Ah, voltar a viajar! Coisa que mais gosto de fazer.
Pra onde você gosta de viajar? Que tipo de lugar?
Em geral vou às feiras de vinil de Amsterdã e Londres todo ano. Iria ao Japão de novo esse ano também, mas… A primeira viagem será para onde der quando acabar.
– Ananda Zambi (@anandazambi) é jornalista e editora do Nonada – jornalismo travessia. Nas horas vagas, também brinca de fazer música.”
Um dos meus álbuns favoritos. Comprei o disco em 2001. Na época, não conhecia o Alvin, o vi nas entrevistas do RiR. Achei ele parecido com o Stone gossard, do pearl jam. Aí, achei o disco e comprei. Esse álbum é um dos meus favoritos até hj. Letras, harmonias e timbres. Parabéns. Não sabia do livro. Vou buscar agora. Showwwww