por Marcelo Costa
Abrindo uma nova sequencia pela capital paulista, com uma New England IPA em growler produzida pela Goose Island Brewhouse, franquia da marca norte-americana localizada no Largo da Batata, que tem produção própria, como essa Summer Haze IPA, cuja receita combina os lúpulos Cashmere, Azacca, Citra, Mosaic, Loral e Equanot. De coloração amarela meio alaranjada, turva, e com creme branco de boa formação e retenção, a Goose Island Brewhouse SP Summer Haze IPA apresenta um aroma levemente cítrico, com sugestão de manga e laranja com delicado floral e sutil condimentação. Na boca, laranja no primeiro toque seguido de mais presença cítrica e de um amargor limpo, delicioso, que equilibra de maneira sutil o conjunto. A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente, um conjunto correto e saboroso, que valoriza notas cítricas de maneira agradabilíssima. No final, leve amargor e secura. No retrogosto, cítrico (manga e laranja) e refrescancia.
O segundo growler da Goose Island Brewhouse SP é a Potato Hell, uma Helles que homenageia o Largo da Batata, que abriga a cervejaria, e que por isso recebe batata na receita. De coloração dourada com creme branco de boa formação e média retenção, a Goose Island Brewhouse SP Potato Hell apresenta um aroma bastante tímido que traz notas florais que remetem ainda a casca de pão e doçura discreta. Na boca, doçura leve no primeiro toque seguida de discreto floral e de mais doçura maltada, média. O amargor é baixo, na casa dos 15 IBUs, e a textura é leve. Dai pra frente uma lager eficiente, que entrega doçura leve, floral e, principalmente, refrescancia. Não tem nada de “hell” aqui, mas é uma cerveja bem bebível. No final, doçurinha bem leve. No retrogosto, refrescancia. Ok, mas esquecível (porém num dia de calor deve ser a 8ª maravilha do mundo)…
De São Paulo para o Rio de Janeiro com duas cervejas da Sundog, sendo que a primeira delas, Hella, é uma recriação de um estilo bávaro antigo, o Dampfbier, cuja receita é produzida com malte de cevada e com levedura especial para cervejas de trigo (Weiss) em temperaturas mais altas que o tradicional. O resultado é uma cerveja âmbar acastanhada de creme branco de boa formação e retenção. No nariz, notas adocicadas que remetem a banana passa, caramelo, damasco e casca de pão doce. Há ainda leve percepção dos 9% de álcool. Na boca, doçura maltada saborosa seguida de remissão a caramelo, casca de pão doce, damasco e banana passa. Os 40 IBUs de amargor não marcaram presença, com a doçura dominando o perfil. A textura é suave e meladinha com discreta picância. Dai pra frente, uma cerveja bem alcoólica, mas interessante e docinha, para se tomar cuidado. No final, banana passa. No retrogosto, banana passa, damasco, casca de pão doce e calorzinho.
A segunda da Sundog é a Gods IPA, uma West Coast India Pale Ale que busca homenagear a cultura indígena nativa norte-americana através da adição de sálvia branca, milho, agave e sementes de peiote na receita. De coloração alaranjada turva, tal como um suco, e creme branco de boa formação e retenção, a Sundog Gods IPA apresenta um aroma que combina intensas notas maltadas com uma pancada frutada e discreta percepção de resina. Na boca, doçura maltada no primeiro toque seguida de forte pancada de frutado cítrico, remetendo a maracujá, com um toque leve de resina e amargor um tiquinho mais comportado do que espera dos 90 IBUs informados na lata (se chegar a 50 é muito – e, ainda assim, bastante). A textura é suave com discreta picância. Dai pra frente, uma West Coast maluquinha e bem interessante, com notas pouco usuais devido aos elementos agregados, ainda que a doçura maltada e o frutado cítrico se sobreponham no conjunto. No final, amarguinho. No retrogosto, leve resina, amarguinho e maracujá.
Do Rio de Janeiro para Minas Gerais com duas cervejas da Zalaz, de Paraisópolis. A primeira é uma colab dos mineiros com a turma da Infected Brewing, cervejaria cigana de Santos, no Estado de São Paulo, que integra a linha Da Fazenda ao Copo da Zalaz, que conta com diversas outras colabs. Esta é uma Saison maturada e refermentada em barricas de madeira por sete meses com adição de leveduras selvagens e refermentação na garrafa. De coloração amarela translucida com creme branco de baixa formação e curta retenção, a Zalaz & Infected Da Fazenda ao Copo apresenta um aroma com percepção sutil de barril, levedura selvagem gritando por atenção e boas sugestões frutadas (coco, banana, laranja e maçã) mais percepção suave de acidez. Na boca, porém, a doçura frutada (puxada para laranja) chega antes no primeiro toque para, no segundo seguinte, ser atropelado por acidez, levedura e amadeirado, sendo o último bastante sutil. A acidez continua dando as cartas na sequencia, e a textura é pinicante. Dai pra frente, uma dança interessante entre levedura selvagem sugerindo acidez intensa, percepções discretas de frutas e doçura baixa. No final, madeira e casca de laranja. No retrogosto, adstringência leve, casca de laranja, acidez e maçã. Delicia.
A segunda Zalaz é a Gamboa, uma English Barleywine que foi envelhecida durante 14 meses em barril de cachaça (de 15 anos!) e que descansou por mais três meses na garrafa, tendo sido envasada do mesmo jeito que foi retirada do barril, sem carbonatação. De coloração acastanhada com praticamente nenhuma formação de creme (devido à falta de carbonatação), a Zalaz Gamboa apresenta um aroma espetacular que junta doçura caramelada (remetendo ainda a marmelada) com percepção deliciosa de cachaça, de amadeirado e coco. Há, ainda, reminiscências de Vinho do Porto e de baunilha. Na boca, doçura caramelada leve no primeiro toque seguida de um conjunto perfeitamente equilibrado, com sugestões de marmelada, coco, madeira e cachaça, e com 10% de álcool imperceptíveis na boca, ainda que presentes intensamente no aroma. Não há amargor, a textura é suave e, impressionantemente, com pouca percepção de álcool. Dai pra frente, cachaça, marmelada, coco e felicidade. No final, carameladinho e barrica. No retrogosto, cachaça apaixonante, marmelada e calor. <3
De Minas Gerais para São Paulo, primeiro com o segundo lançamento do All Beers Conspiracy, braço responsável pelas cervejas do All Beers, mídia cervejeira premiada sediada em Campos do Jordão que produziu essa e a próxima receita em Ribeirão Preto, na cervejaria Invicta. A Tell Me Your Troubles & Doubts (com título que homenageia o filme “Breakfast Club” e a música “Don’t You (Forget About Me)”, do Simple Minds) é uma Session IPA com dry-hopping dos lúpulos Mosaic e El Dorado. De coloração dourada com creme branco espesso de ótima formação e retenção, a All Beers Conspiracy Tell Me Your Troubles & Doubts apresenta um aroma com deliciosas notas herbais remetendo levemente a pinho. Há, ainda, um leve floral. Na boca, herbal caprichado no primeiro toque seguido de leve doçura mais uma pegada discreta de pinho. O amargor é eficiente, 40 IBUs muito bem colocados. Já a textura é leve. Dai pra frente, uma Session IPA refrescante, herbal e levíssima, como o estilo pede. No final, herbal. No retrogosto, refrescancia e pinho.
A segunda do All Beers Conspiracy (que foi a primeira que eles lançaram), produzida também na Invicta! (que será responsável por todas as cervejas da marca) em Ribeirão Preto, é a Phenomena, uma West Coast IPA que empresta seu nome de uma canção do álbum “Show Your Bones”, do Yeah Yeah Yeahs, e assim como a anterior conta com a arte de Shee. De coloração dourada com creme branco espesso de ótima formação e retenção, a All Beers Conspiracy Phenomema apresenta um aroma que combina doçura caramelada, intensa presença herbal, leve cítrico e discreta resina. Na boca, doçura caramelada rápida no primeiro toque seguida de uma pancada herbal sugerindo pinho, cítrico distante e um amargor considerável, 70 IBUs com leve resina, como o estilo transformou em mantra. A textura é leve com discreta picância. Dai pra frente, uma boa West Coast IPA que honra o estilo com amargor (ainda que não tão intenso), resina e herbal. No final, resinoso discreto. No retrogosto, doçura, herbal e amargor leve.
Retornando para a capital paulista com mais dois growlers, desta vez da Cervejaria Tarantino, que produz suas receitas em uma bela fábrica no bairro do Limão: o primeiro é um da ZN Lager, American Light Lager caprichada da casa, cuja receita combina lúpulos Magnun e Cascade com o malte pilsen. O resultado é uma cerveja de coloração dourada com creme branco de boa formação e retenção. No aroma, notas sutis herbais além de reminiscências de grãos e sugestão discreta de pão. Na boca, leve refrescancia herbal no primeiro toque que se abre para um conjunto com discreta doçura e uma sutil lembrança de grãos. O amargor é baixinho, 20 IBUs que parecem 2. Já a textura é levíssima, uma cerveja que não pesa, refresca e não oferece muita complicação ao bebedor, num resultado simplista, mas eficiente. No final, carameladinho e secura. No retrogosto, refrescancia e herbal sutil.
Fechando a série com o segundo growler da Cervejaria Tarantino, e um growler especial: IPA Ano 1 é uma colab dos paulistas com os norte-americanos da Stone Brewing desenvolvida especialmente para o primeiro aniversario da cervejaria do bairro do Limão, em 2019. A receita recebe adição de coco ralado e jambu. No dry hopping, lúpulos Amarillo e Mosaic EXP 472. De coloração dourada cristalina com creme branco de ótima formação e retenção, a Tarantino & Stone IPA Ano 1 apresenta um aroma com muita sugestão de frutas, principalmente manga, em destaque, mas também abacaxi, mais sutil. O coco também marca presença com intensidade e há, ainda, leve sugestão de anis aliada há um herbalzinho discreto. Na boca, doçura frutada no primeiro toque seguida de discreta picância, mais doçura e mais frutado. O amargor praticamente não existe (a casa diz que entrega 1 IBU, mas a sensação é de um pouco mais, uns 15, o que é praticamente igual). Já a textura é (apesar do coco e do jambu) leve. Dai pra frente, uma IPA diferente e muito saborosa e interessante, com o coco, o jambu e o dry-hopping trazendo muita personalidade ao conjunto. No final, doçurinha e coco. No retrogosto, coco, jambu e manga. Uma delícia.
Goose Island Brewhouse SP Summer Haze
– Produto: New England IPA
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 5.3%
– Nota: 3.50/5
Goose Island Brewhouse SP Potato Hell
– Produto: Helles
– Nacionalidade: São Paulo, SP
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 2.77/5
Sundog Hella
– Produto: Dampfbier
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 3.25/5
Sundog Gods IPA
– Produto: American IPA
– Nacionalidade: Rio de Janeiro, RJ
– Graduação alcoólica: 4.7%
– Nota: 3.32/5
Zalaz & Infected Da Fazenda ao Copo
– Produto: Saison Barrel Aged
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.1%
– Nota: 3.71/5
Zalaz Gamboa
– Produto: Barley Wine Barrel Aged
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 10%
– Nota: 4.54/5
All Beers Conspiracy Tell Me Your Troubles & Doubts
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3.44/5
All Beers Conspiracy Phenomena
– Produto: West Coast IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.44/5
Tarantino ZN Lager
– Produto: American Light Lager
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.2%
– Nota: 3.00/5
Tarantino & Stone IPA Ano Um
– Produto: India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3.70/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
– Leia sobre outras cervejas (aqui)