Resenhas por Adriano Mello Costa
“Heróis em Crise”, Tom King e Clay Mann (Panini Comics)
Tom King é hoje um dos melhores roteiristas das grandes editoras. São vários acertos na carreira: Batman, Senhor Milagre, Visão, O Xerife da Babilônia. Então quando ficou à frente de “Heróis em Crise”, a saga da DC publicada nos EUA entre novembro de 2018 e julho de 2019 que saiu aqui em 2019 pela Panini Comics em cinco edições, a expectativa era boa, também por conta do argumento geral que reside em heróis e vilões sendo atendidos por uma “instituição” para tratar de estresse pós-traumático e depressão. No entanto, dessa vez Tom King errou e errou feio. Começa até bem nas duas primeiras revistas, mas o negócio desanda de tal maneira que além de confusa e mal alinhada, a trama força a barra mais do que o normal. A arte de Clay Mann é no máximo correta e não ajuda em nada o resultado que é para lá de decepcionante.
Nota: 2
“A Nova Califórnia”, de Daniel Araujo (Independente)
Uma pequena e pacata cidade do interior rodeada por águas onde todos os habitantes se conhecem tem a suposta tranquilidade e paz reviradas do avesso quando um novo morador chega e fica trancado em casa a sós com experiências que ninguém sabe ao certo o que são. Quando essas incursões científicas pouco a pouco passam ao conhecimento da população, a ganância e a natureza mesquinha das pessoas tomam conta das ações de modo abrupto. “A Nova Califórnia” é uma adaptação em quadrinhos escrita e desenhada pelo Daniel Araujo em cima do clássico conto de 1910 do escritor Lima Barreto. A obra, que já ganhou várias releituras, recebeu em 2019 uma das melhores nessa versão, tanto no que concerne a arte quanto a condução do roteiro que demonstra com certo humor embutido como as pessoas trazem consigo um egoísmo e maldade que podem emergir em qualquer momento da pior forma.
Nota: 7
Instagram do autor: https://www.instagram.com/daraujop
“Os Olhos de Barthô”, Orlandeli (Gambatte)
Barthô é um cara grandão, forte, mas muito ingênuo e sem maldade no coração. Para ele tudo é bonito, todas as pessoas são legais e o mundo é um lugar sempre bacana de estar. Seu melhor amigo é Nicola que, ao contrário, é cheio de segundas intenções, pensamentos estapafúrdios e com uma visão de mundo mais cruel. Até que por conta disso, ao achar que está fazendo o bem, o protagonista se mete em uma grande roubada e vê a cabeça degringolar quando precisa lidar com o acontecido. É isso que vemos em “Os Olhos de Barthô”, do quadrinista Orlandeli, publicado de modo independente em 2019 com 97 páginas. Em mais um trabalho encantador e com uma arte exuberante o autor fala sobre bem e mal, sobre os nossos complicados dias atuais e sobre como o mundo pode ser sim um bom lugar. Nem que seja por um breve momento.
Nota: 7,5
Instagram do autor: https://www.instagram.com/orlandeli
“Apanhadores de Sapos”, Jeff Lemire (Editora Mino)
E Jeff Lemire conseguiu de novo. Já está até meio repetitivo elogiar o trabalho do canadense. Em “Apanhadores de Sapos”, que a editora Mino publicou no final de 2019 com 112 páginas em capa dura, ele arregimenta uma fábula fascinante a respeito do envelhecimento e das memórias que ficam (ou não) quando as coisas realmente se encaminham para o final. Em conjunto a isso, o autor versa de modo singelo e delicado sobre o poder que cada escolha tem no decorrer da nossa jornada no mundo e trata dos arrependimentos que nos perseguem durante o percurso. É outro grande trabalho de um autor que parece ter um baú inesgotável de grandes histórias para contar (ainda bem) e que aqui se dá o direito de apresentar uma arte um pouco mais experimental. Uma obra para ler, refletir, ler de novo e dar uma olhadinha para o lado, para aqueles que vivem perto.
Nota: 9
Instagram do autor: https://www.instagram.com/jefflemire
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!