Introdução por Renan Guerra
Faixa a faixa por Laura Petit
“Monstera Deliciosa” (2017), disco de estreia de Laura Petit, versava sobre o feminino, sobre ser mulher em um mundo machista, sobre (r)existir nesse espaço dominado por homens, mas tudo tinha uma graça, uma ironia, um jogo de cena muito pessoal da artista. “Pelada por Esporte”, seu novo disco, chega agora expandido a lente de Laura para os relacionamentos: se existir sozinha já é uma aventura, o que dirá se relacionar e se apaixonar por aí.
Brasiliense radicada em Curitiba, Petit tem 26 anos e trás um background de quem foi bailarina da infância a adolescência. A dança, assim como suas outras construções artísticas, se almagamam às suas experiências musicais e culminam em um som feito para dançar. Se havia algo de melancolia cool em determinados momentos de seu disco de estreia, isso ficou pra trás, pois “Pelada por esporte” é espaço de festa, de celebração do corpo e da carne, espaço de descobrimento.
Amor, desejo e sexo se misturam em canções ainda mais pop, que flertam com gêneros diversos, mergulhando na amplitude da MPB. Com participação das cantoras Marina Sena, da banda Rosa Neon, e Uyara Torrente, d’A Banda Mais Bonita da Cidade, “Pelada por esporte” foi produzido por Eduardo Rozeira e tem ar leve, que contrasta com a poesia complexa e vertiginosa da jovem cantora e compositora. Para ajudar o ouvinte a navegar pelo universo do novo disco, Laura Petit preparou, com exclusividade para o Scream & Yell, um faixa a faixa de “Pelada por Esporte”. Confira:
Faixa-a-faixa, por Laura Petit:
01. Namorado
Essa foi uma das minhas primeiras composições depois do primeiro álbum em um período de grande comprometimento com minhas leituras. “Namorado” fala do amor não correspondido de forma carnal e irônica.
02. Lamento Sobre Tela
Essa é uma das faixas mais contemplativas do disco. Ainda assim, e mesmo com as referências de lo-fi, considero uma música pop, que fala do amor de uma forma mais doce. É um olhar sobre o que deixamos pra trás nas pessoas, nas histórias que vivemos, e como elas carregam essa bagagem nas novas relações.
03. Muriçoca
Fala daquelas relações pouco saudáveis, em que a gente se sente vazio, murcho, sugado. Fala do filtro e da cura depois de relações assim. Apesar do tema denso, é uma música divertida e dançante.
04. Lobo Meu
Talvez essa seja a faixa mais maluca. É até difícil de falar sobre ela, porque em cada trecho da canção a divagação é diferente. Ela tem vários momentos, passa por várias estéticas. É um pouco do delírio que eu canto no refrão, e passa de novo pelo nonsense de “Quadril é Osso”. Mas acho que, de forma geral, é um olhar sobre o amor mais parecido com as referências do “Monstera Deliciosa”.
05. Bonito
É uma história de deslumbre, da paixão e seus sintomas. É também uma história de frustração, irônica e debochada, de se descobrir por quem de fato nos apaixonamos. Apesar de ser uma canção um tanto azeda, é também carinhosa. A lembrança nostálgica traz doçura à memória dura.
06. Picadinha
Talvez a faixa mais dançante do disco, é um deboche sobre uma relação puramente carnal, em que as duas partes jogam para se conquistar, se seduzir. Assim como em “Namorado”, associa pessoas a comidas, brincando com os diferentes desejos que podemos ter. A Marina Sena foi incrível nessa participação. Eu a conheci através do Rosa Neon, e fiquei encantada por ela, sua performance, seu timbre. E Picadinha me pareceu a música certa para convidá-la. Ela tem uma performance dançante e quente que funcionaria lindamente. Achei que nossas vozes funcionaram super bem juntas
07. Vulgar
Escrevi depois de uma temporada de quase um ano morando no Rio. Além dos deslumbres que provoca em todos nós, o Rio é muito sedutor e mexeu muito comigo. As roupas, os desejos, até o jeito de caminhar mudaram nessa fase carioca, talvez por conta do encanto que eu sempre tive pela cidade e pelo seu carnaval. Ao me mudar pra lá, eu vivia um pouco desse encantamento a cada dia. Apesar de ser essencialmente uma música muito festiva, vejo nela uma melancolia, que também habita a cidade, o carnaval em certa medida, e a minha saudade de lá.
08. Quadril é Osso
Essa é uma composição mais antiga e já lançada no meu segundo EP, “Manacá Dente Saudade”, em 2015. Essa versão, quatro anos mais madura, carrega novas referências que traduzem mais de como me sinto como artista. Talvez essa seja a única música dos meus primeiros álbuns que tem uma interseção maior com o que faço hoje. É uma música que começa romântica e termina dramática, até mesmo nonsense.
09. Bandalheiras
Assim como em “Namorado”, a literatura também me influenciava muito à época. Eu havia recém-lido “Rita Lee: uma autobiografia” e “Terra das Mulheres”, da Charlotte Perkins Gilman, duas obras que me voltaram à narrativa da força da mulher. Foi uma composição deliciosa e difícil que me custou o rompimento de bloqueios internos, como o medo de me expor ao falar de assuntos tão íntimos mas também tão importantes. A ideia de cantar junto com a Uyara já passeava dentro de mim antes mesmo de Bandalheiras. Assim que olhei pra música pronta, a ideia da parceria com a Uya me voltou à mente. A Uyara é uma artista potente, tem uma força imensa ao interpretar e performar.
10. Vou de Táxi
A gente já sabia desde o começo que queria fazer uma versão no disco. Passamos por várias ideias e a que mais fazia sentido era “Vou de Táxi”. A gente queria um hit de alguma das tantas divas dos anos 90, uma música bem pop pra desconstruir. No fim, essa foi perfeita. Tem essa carga divertida, debochada, irônica do disco.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz