por Marcelo Costa
“El Camino – A Breaking Bad Movie”, de Vince Gilligan (2019)
Criada por Vince Gilligan e com a primeira temporada exibida em 2008, a série “Breaking Bad” demorou a tomar forma. As duas primeiras temporadas são grandes bobagens que empilham clichês, opções de roteiro que vão de lugar nenhum a nenhum lugar e um tédio televiso intenso que faz surpreender que a série tenha chego a terceira temporada, se reerguido e, dai pra frente, se tornado um dos grandes momentos da cultura pop no século 21 – em contraste com as enfadonhas duas primeiras temporadas, a quinta (e última temporada) é espetacular, 16 episódios inspirados e absolutamente geniais. No bonde do saudosismo (e na busca por dinheiro fácil, sempre), a Netflix encomendou do criador Vince Gilligan um filme que se erguesse dos escombros do final matador da série – exibido em setembro de 2013 – e ele surgiu com este “El Camino”, que foca sua história no futuro do personagem Jesse Pinkman (Aaron Paul), que nos últimos minutos da série é libertado do cativeiro por Walter White (numa cena estupenda) e sai a toda do local pilotando um… Chevrolet El Camino (sem ouvir Black Keys)… enquanto as cortinas da série são baixadas ao som de sirenes da polícia. Dai pra frente, Jesse parte em busca de uma nova vida, e é isso que move “El Camino”, que mantém a força da fotografia da série, com alguns deslizes (será que não dava para esperar Jesse Plemons voltar ao peso do personagem Todd? Ele parece outra pessoa). No fiel da balança, “El Camino” parece um daqueles episódios de série repletos de gordura, cuja trama poderia ser resolvida na metade do tempo, mas o roteiro dá voltas e voltas deixando o desfecho para o próximo capitulo. Neste caso, o filme dá voltas e voltas, entrega ao menos uma cena antológica (cante conosco “Sharing The Night Together“) e, ao final, uma visão interessante do futuro de Jesse Pinkman, numa trama que soa absolutamente desnecessária para os fãs, e não acrescenta absolutamente nada ao arco narrativo da série, mas é bacaninha. É mais um caso de puro entretenimento para passar o tempo. Esperava-se mais…
Nota: 6
“Era Uma vez em… Hollywood”, de Quentin Tarantino (2019)
Nono filme de uma carreira prevista para acabar em dez obras (segundo planos do próprio diretor), “Once Upon a Time in Hollywood” é nada mais do que um longo exercício de estilo que finca os dois pés (e as duas mãos, troncos e membros) no revisionismo (tanto estilístico quanto, e principalmente, visual) saudosista. Assim como em “Os Oito Odiados” (2015), Tarantino poderia ter resolvido a história toda em 12 minutos, mas desfila vagarosamente por 2 horas e 41 minutos distribuindo citações de filmes, atores, carros e uma série de fragmentos que marcaram a memória do diretor quando ele tinham seis, sete anos, na virada dos anos 60 para os 70 (são mais de 150 referencias listadas aqui) e elevada a paixão na adolescência, quando trabalhou em uma locadora. Dito tudo isso, não há muito segredo: “Once Upon a Time in Hollywood” é um filme para dar orgasmos em fãs do cinema de Tarantino e incomodar todo o resto, já que todo o mise-en-scène que marca uma obra do diretor bate ponto aqui. E dá-lhe passagens lentas saboreadas como picolé que lambuza num dia de sol, falas nonsenses encharcadas de estilo e trechos autoexplicativos desnecessários (ainda que interessantes) que moldam uma visita a Los Angeles no período em que a gang de Charles Manson está causando na cidade. O foco da história é no ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), que está vendo sua carreira em Hollywood descer a ladeira, e em seu dublê (e faz tudo) Cliff Booth (Brad Pitt). Dalton é vizinho da atriz Sharon Tate (Margot Robbie), que está esperando um filho do cineasta Roman Polanski (Rafal Zawierucha). Nesse retorno saudoso ao passado, Tarantino cria ao menos duas passagens antológicas (uma delas sarreando Bruce Lee) enquanto reescreve fatos buscando um destino mais justo para um período tão denso da história (do cinema, dos Estados Unidos, do mundo). É longo e lento demais, mas quem tem pressa dentro de uma sala de cinema? Tarantino fez mais um filme tarantinesco e o resultado é um bom filme B de sua filmografia, que pode ser visto (em casa) cortando as unhas. É pecado esperar mais?
Nota: 7
“A Música da Minha Vida”, de Gurinder Chadha (2019)
Filme indie britânico baseado nas memórias do jornalista inglês de ascendência paquistanesa Sarfraz Manzoor, e registradas no livro “Greetings from Bury Park: Race, Religion and Rock N’ Roll”, lançado por ele em 2007, “Blinded by the Light” (no original) é uma declaração de amor a Bruce Springsteen, num contexto direto, e ao poder revolucionário da música, numa visão mais ampla. A trama retorna aos difíceis anos 80 com Margareth Thatcher como primeira ministra do Reino Unido. A família de Manzoor (aqui apresentada como Khan) vive em Luton, e seguindo seus preceitos, deseja encontrar uma parceira para o rapaz tanto quanto espera que ele siga uma profissão tradicional, como médico ou advogado. Javed (Sarfraz, interpretado por Viveik Kalra), porém, escreve poesias e também letras de música para uma banda de amigos e tem seu texto elogiado na escola, o que rende um estágio no jornal local, e o sonho de alçar voos mais altos… sozinho. Porém, os dogmas da família (e o desemprego do pai) começam a pesar sobre seus ombros, e é neste momento em que ele encontra a luz, ou melhor, Bruce Springsteen, numa fita cassete emprestada por um amigo de escola (que, assim como ele, também sofre racismo por seus pais também não serem ingleses – ainda que ele seja). Para Javed, Bruce traduz seus sentimentos, suas angustias e duvidas em canções como “Born To Run”, “The River”, “Badlands” e “Thunder Road”, e ancorado nelas, ele pretende enfrentar o mundo (começando por sua família). Produção agridoce, previsível e que apenas tateia temas espinhosos (como o racismo, religião e a extrema-direita britânica), “Blinded by the Light” carrega todos os cacoetes de uma produção independente, mas se destaca por sua bela trilha sonora (Bruce não apenas cedeu arrasadoras versões ao vivo raras como também uma canção inédita, “I’ll Stand By You”, que havia sido feita para um dos filmes de Harry Potter, mas ficou de fora) e sua força sonhadora, alcançando um resultado muito mais (hummm) honesto e interessante do que, digamos, “Yesterday”, “Rocketman” e “Bohemian Rhapsody”, mas ainda assim aquém (emocionalmente) de “Springsteen on Broadway” e “Springsteen & I“.
Nota: 7.5
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.
Era Uma Vez em Hollywood é maravilhoso. Sorriso de orelha a orelha durante todo o filme
Que alívio ler essas duas primeiras resenhas. Na mosca
Tarantino com certeza já escreveu o seu nome na historia do cinema, mas já esta se repetindo há um bom tempo, achei o filme nota 6,5.
Longe de ser um dos melhores do Tarantino, mas pelo menos não é ruim que nem Os Oito Odiados, então fica num agradável bonzinho; e as grandes atuações de DiCaprio e Pitt devem ser, no mínimo, indicadas ao Globo de Ouro.