por Renan Guerra
Lá se vão quatro anos desde que a estreia de Jaloo foi lançada, o ótimo “#1”. Seu segundo álbum estava em vias de ser lançado desde o ano passado, mas chega somente agora aos ouvidos do público. Intitulado “ft” – abreviação de “featuring” –, o disco leva a sério o conceito das participações e todas as faixas contam com nomes parceiros. É um disco essencialmente de troca entre Jaloo e outros artistas, como o próprio explica no release de lançamento: “Cansei de estar dentro de mim mesmo o tempo todo, percebi que o quanto mais saia da minha cabeça, mais feliz ficava. Quando passei a ouvir o que os outros produtores tinham a dizer as ideias começaram a fluir melhor”.
É uma ousadia que em 11 músicas tenhamos 15 artistas envolvidos, no que poderia dar uma cara de compilação para o trabalho. De todo modo, há uma mão firme de Jaloo, que cria uma coesão e unidade ao álbum, passeando tanto por regionalismos e experimentações eletrônicas, porém com um acabamento extremamente pop e universal. “ft” é uma grata surpresa, pois é leve, romântico e dançante em boas medidas, com Jaloo se mostrando mais seguro e mais à vontade dentro do próprio universo que construiu.
A lista de “featurings’ que o paraense traz ao seu lado é de respeito, pois inclui nomes diversos que desenham um interessante panorama do cenário musical brasileiro. A abertura do disco fica por conta de “Dom”, ao lado de Karol Conká e o produtor Pedrowl. Karol é nome forte, que quase sempre rouba a cena em suas participações, mesmo assim aqui ela aparece a serviço da canção de Jaloo, em equilíbrio com a voz do cantor.
Já a sequência é um lindo encontro com Gaby Amarantos, em “Q.S.A.. Juntos eles fazem um dueto belo, com ares de forró, e um clima de romance, onde as vozes surgem límpidas e com a base fazendo apenas a cama. Essa parceria, aliás, é bastante simbólica, já que ambos os artistas eram apostas do saudoso produtor Carlos Eduardo Miranda.
“Céu Azul” é faixa já conhecida ao lado de sua parceira MC Tha, dona de um dos melhores discos desse ano, “Rito de Passá”, e com quem Jaloo tem dividido o palco repetidas vezes. Essa faixa talvez tenha os versos mais belos e fortes do disco, com a dupla a cantar “Vou avisar aos cachorros da rua / Que pro povo pobre, a vingança pode ser mel e prazer”. A seguinte, “Dói D+”, também já havia sido lançada como single e traz o produtor de rap Nave Beatz como parceiro. Já “Sem V.O.C.Ê.” reúne Céu e Diogo Strausz num dos melhores momentos do disco, em faixa romântica, com cara de rádio FM, que poderia muito bem ser hit de verão.
O DJ e produtor JLZ é o nome que acompanha “Atabaque Chora”. Já “Cira, Regina e Nana”, sucesso de Lucas Santanna, ganha releitura com a voz do próprio Lucas – a faixa já havia sigo gravada por Jaloo em 2013, no EP “Couve”. “Movimentá”, ao lado da drag queen Lia Clark, e “Eu Te Amei (Amo!)”, com Dona Onete e Manoel Cordeiro, marcam uma sequência matadora, sendo as duas pops e dançantes, prontas para serem tocadas em volume bem alto.
“Say Goodbye” também já foi single e tem a participação da DJ BadSista, com uma das letras mais melancólicas do disco, ao dizer “Eu não me sinto uma pessoa boa mais / Eu não me encontro, só me perco e tanto faz”. Depois disso, o fechamento do álbum fica por conta da curtinha “Último Recado”, ao lado de Charles Tixier, músico da banda Holger e parceiro de Luiza Lian em seus mais recentes projetos. O tom final é quase melancólico, mesmo assim não diminui o clima leve e apaixonado que toma conta de quase todo disco.
No final de todos esses encontros, é interessante notar como Jaloo se sobressai, tanto como letrista e produtor, como enquanto cantor, já que sua voz nunca esteve tão bem colocada, tão segura e bela. “ft” é um belo segundo disco, que prova que não estávamos errados quando lá em 2016 escrevemos que “Jaloo não é só uma das boas surpresas da cena paraense de tecnobrega, mas sim uma das boas promessas para a música inteligente brasileira”. Esse lançamento firma Jaloo como um dos nomes mais interessantes de sua geração e prova que o pop brasileiro tem muito a oferecer.
– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o Monkeybuzz.