por Adriano Mello Costa
“Effluxion”, Telekinesis (Merge Records)
O Telekinesis é um projeto do músico e compositor Michael Benjamin Lerner que desde 2011 é conduzido individualmente por ele assumindo todos os instrumentos e vocais. Em fevereiro deste ano, Michael lançou o quinto disco do Telekinesis, “Effluxion”, com 10 músicas em 31 minutos, distribuído pela Merge Records com gravação e mixagem do próprio Lerner e masterização de Jeff Lipton (Magnetic Fields). É um trabalho com muita unidade que se aproxima de “12 Desperate Straight Lines” (2011) e se distancia da inconstância de “Dormarion” (2013) e dos timbres eletrônicos de “Ad Infinitum” (2015), registros antecessores bem medianos. O novo álbum começa com violões, uma bonita melodia e letra com toques de desesperança da faixa-título e vai até o pop espacial de “Out For Blood”, com teclados no comando e leves considerações sobre se encontrar e sobre o tempo. No meio disso temos diminutas joias como a cantarolável “Cut The Quick”, a doce “Running Like A River” e a viciante “Suburban Streetlight Drunk”. Mesclando indie pop e powerpop, o Telekinesis tem em “Effluxion” provavelmente o melhor álbum da carreira.
Nota: 7
“Interview Music”, Idlewild (Empty Words)
O último álbum de estúdio da banda escocesa Idlewild saiu em 2015 (“Everything Ever Written”). “Interview Music” vem suprir essa ausência de alguns anos com 13 músicas em 52 minutos e conta com mixagem e produção do competente Dave Eringa que esteve por trás do ótimo “The Remote Part”, de 2002. O Idlewild é uma daquelas raras bandas que dificilmente decepciona e novamente essa premissa se repete. Rod Jones (guitarra) e Roddy Woomble (vocal e letras) estão entre os melhores da sua geração e logo em “Dream Variations”, que abre o disco com a participação classuda de Laura Burheenn, isso fica evidente. A melodia, os vocais, a simplicidade do instrumental funcionando em torno da canção e a mudança de andamento são marcas bem características do grupo. Destaques maiores para a mais dançante “There’s a Place For Everything”, o indie rock de “Same Things Twice” e a bela “Lake Martinez” que encerra a experiência. Mesmo caindo um pouco de qualidade na segunda metade, “Interview Music” é para ser ouvido sem dosagem, um registro que faz bonito na discografia da banda.
Nota: 7
Leia mais:
– “Listen To Keep”, de Roddy Woomble: a missão de compor grandes canções (aqui)
– “A Sentimental Education”, de Rod Jones: folk e country-rock dos anos 60 (aqui)
– Idlewild retorna exalando barulho em “Make Another World” (aqui)
– “The Impossible Song & Other Songs”, Roddy Woomble: doses fartas de melancolia (aqui)
– “My Secret Is My Silence”, Roddy Woomble: obra prima de delicadeza (aqui)
– “The Remote Part”, Idlewild: um trator passando sobre uma formiga (aqui)
“Age Of Unreason”, Bad Religion (Epitah Records)
Vivemos tempos preocupantes, muito preocupantes. Nos EUA, no Brasil e em parte relevante do mundo as coisas caminham de maneira sombria. Alguns músicos, como sempre, buscam se posicionar, se opor a esses fatos e retratar esses tempos. E o punk, na sua essência mais pura e clara, apresenta isso através do Bad Religion e seu “Age Of Unreason”, lançado esse ano com 14 faixas pela Epitah Records. Eis uma banda punk de verdade que honra a história e o estilo e que depois de tantos e tantos anos ainda soa (muito) relevante. “My Sanity” (uma das músicas da temporada) e “Lose You Head” são perfeitas para quem está na corda bamba todo dia com notícias ruins e comentários nefastos invadindo a mente, “The Approach”, “Old Regime” e “Downfall” são excelentes e “Chaos From Within” e “Do The Paranoid Style” são para escutar em volume altíssimo. Com ótimas baterias de Jamie Miller, o trio de fundadores Jay Bentley, Brett Gurewitz e Greg Graffin lideram os outros dois guitarristas em um trabalho poderosíssimo que não pode de forma alguma ser desassociado das letras.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop ( http://coisapop.blogspot.com.br ) e colabora com o Scream & Yell desde 2009!