por Arthur Dapieve
Arthur Dapieve, 55 anos, casado, jornalista, RG nº tal, CPF nº tal, residente à rua tal, Rio de Janeiro, vem, por meio desta, comunicar à praça que acaba de publicar seu 12º livro, entre ficção e não ficção. Em “Do rock ao clássico – Cem crônicas afetivas sobre música” (editora Agir, 256 páginas, R$ 39,90) coleto textos escritos para o jornal O Globo entre 1993 e 2018.
No processo de selecioná-los dentre aproximadamente 1.200 colunas sobre assuntos diversos no caderno de cultura, dou fé também, cheguei a um primeiro grupo de 216 sobre música que talvez, quiçá, oxalá tivessem sobrevivido ao tempo. Como o trabalho assemelhou-se a um processo de autoconhecimento, achei adequado que, a convite do Scream & Yell, eu me entrevistasse a mim mesmo.
AD – Doeu?
AD – Às vezes. Lembrar, pela releitura da maior parte dos textos, o momento de tantos enamoramentos, de tantos amores à primeira audição, logo substituídos por outros, deu uma dorzinha, sim, aqui, ó.
AD – Deu para rir?
AD – Às vezes. De constrangimento. A gente não acerta todas, seja no tema seja no tom. Por quantas bandas de rock eu me enrabichei depois de uma única ouvida em pé, num listening post de uma loja de discos estrangeiras, e trouxe para cá, prometendo casa, comida, roupa lavada e amor eterno. Só para descobrir que era mais uma melhor-banda-de-todos-os-tempos-da-semana-passada. Alguém aí se lembra dos Wombats?!
AD – Eu me lembro.
AD – Você não conta.
AD – Nada de Wombats no livro, então?
AD – Você sabe que não. Mas há textos dedicados ao Clash, claro, a Bowie, Elvis Costello, Gin Blossoms, Suede, Radiohead… Aliás, dois sobre o Radiohead. Um imediatamente antes e outro imediatamente depois do show que fizeram na Praça da Apoteose, em 2009, na primeira passagem da banda pelo Brasil.
AD – Mas nem só de rock vive o homem, o título já entrega…
AD – Não, claro que não, nunca viveu. Nós começamos a ouvir música à vera pelo progressivo, lembra? Ali já havia jazz e clássicos. O rock internacional e nacional respondem por 2/5 do livro. Tem músicas populares, black music, eruditos.
AD – Você tem ouvido muito mais música clássica hoje, não?
AD – Você sabe que sim.
AD – Eu tenho de perguntar, pô, senão não é uma entrevista…
AD – Tá certo. É, tenho ouvido muito mais música clássica. Por quê? Sobretudo porque ela é foda de bonita, mas porque, desconfio também, ela me obriga a ouvi-la, ouvi-la de verdade, parar de fazer qualquer coisa mais e prestar atenção no que aqueles homens e mulheres extraordinários estão me dizendo. Funciona meio como um antídoto contra essa correria angustiante que se instalou em nossas vidas feito um malware.
AD – O rock também é capaz disso…
AD – Sim, mas cada vez menos. Daí falarmos em “os clássicos do rock”, quase sempre no passado… Nesse sentido, o Radiohead já nasceu clássico.
AD – Considerações finais.
AD – É melhor se sentir mal do que não sentir coisa nenhuma.
AD – Frank Zappa?
AD – Você sabe tudo.
– Arthur Dapieve é escritor, professor universitário e jornalista. Comentarista nos programas @EstudioI, da @GloboNews, e Redação Sportv, do @Sportv. Colunista da Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles. A foto que abre o texto é de Mànya Millen / Divulgação
Admiro muito. Curto suas opiniões sensatas sem ser prolixo.