por Marcelo Jeneci
Porque sou de Guaianazes, bairro da periferia da cidade de São Paulo, construído por trabalhadores do Brasil profundo que espalham afeto, resistência, dança, dores, cores e cultura. Lá, recebi a chama e o chamado pra romper com música o escuro do futuro. Trago na alquimia desse álbum, “Guaia“, a rua onde cresci, o agreste de Pernambuco e a grande metrópole que se fundiram em mim.
Chamei Pedro Bernardes, produtor de música eletrônica, sinfônica e imagética para produzir o disco comigo e traduzir minha história em um novo território sônico. Nessa busca, encontramos Lux Ferreira, produtor musical e programador que coproduz, aperfeiçoa e dá contorno ao todo.
O disco todo é praticamente tocado por mim, gravado por Lux e regido por Pedro. E potencializado pelas pontuais participações de Lucas dos Prazeres na percussão, mestre Adelson Silva na bateria de frevo, Robinho Tavares no baixo de “Vem Vem”, e a Filarmônica de São Petesburgo nas cordas de “O Seu Amor Sou Eu”.
O intervalo de seis anos entre o último álbum (“De Graça”, 2013) e esse revelou em mim uma desconstrução muito necessária na passagem entre velho e novo, menino e homem e toda precocidade que me habitava de ter começado tão novo desde os sete anos a tocar. Por poder lidar com esse desconhecido que todos temem tanto e nós chamamos de mistério necessário, na hora da criação em trio, eu, Pedro e Lux nos entregamos e foi isso que construiu sonoridades como a de “Redenção”.
O processo de imersão do disco foi de um ano, mas as afluentes já vinham em grande ritmo em todos esses tempos de intervalo. Hoje estou presente e em co-criação com novos autores e amigos que constroem imagem, cenário e clipe, como foi o caso do primeiro filme feito por Chloë de Carvalho de “Aí Sim” e da capa com ensaios em Guaianazes e em minha casa no Rio assinados pela Lucia Koranyi.
Chegar ao estúdio do Mario Caldato em Los Angeles e ficar ao lado dele em toda mixagem foi o fecho necessário ao disco e a mim como músico e profissional. O Mário, além de enorme, é um professor e amigo que o disco me deu.
Faixa a Faixa, por Marcelo Jeneci
01) Emergencial
Melodia: Marcelo Jeneci
Letra: Paulo Neves, Mana Bernardes, Marcelo Jeneci e José Miguel Wisnik
O canto indígena que abre o disco é da cantora IKASHAWHU, da tribo YAWANAWA, na sequência sigo dizendo “É EMERGENCIAL A GENTE SE CONECTAR COM A TERRA“. Gravei a canção em 432hz, afinação que gera uma ressonância mais aberta dos harmônicos de maneira mais alinhada com o som produzido pelo próprio movimento do espaço e dos planetas, diferente da afinação convencional usada que é 440hz.
02) Oxente
Melodia: Marcelo Jeneci
Letra: Chico Cesar e Marcelo Jeneci
Sobre o que a nossa mão alcança e a incomum pergunta dentro de todos nós.
03) Vem Vem
Melodia: Marcelo Jeneci e Pedro Bernardes
Letra: Rute Casoy e Marcelo Jeneci
Sedução tropical com consciência do território do outro. Faço dueto com a encantadora Maya, uma nova estrela da música brasileira que queremos que seja ouvida. E celebro as bandas de Pífano de Caruaru com a participação de Joao do Piff, Marcos do Piff e Zé Gago.
04) O Seu Amor Sou Eu
Melodia: Marcelo Jeneci
Letra: Luiz Tatit e Marcelo Jeneci
Declaração amorosa regida pelo batimento cardíaco que atravessa a música toda e ao fim emergem as cordas da Filarmônica de São Petesburgo para o último grito.
05) Melodia da Noite
Melodia e Letra: Marcelo Jeneci
Sobre fogo, tesão e paixão.
06) Aí Sim
Melodia: Marcelo Jeneci
Letra: Arnaldo Antunes
Transformação.
07) Redenção
Melodia e Letra: Marcelo Jeneci
Letra autobiográfica que trata do conflito entre dogmas cristãos e a força do engajamento de seguir. A sonoridade une canto gregoriano, bateria de frevo e guitarra western, ilustrando o conflito.
08) Saudade do Meu Pai
Melodia e Letra: Marcelo Jeneci
Minha infância, nosso pai, nossa mãe.
09) Palavra Amor
Melodia: Marcelo Jeneci
Letra: Arnaldo Antunes
Sobre se entregar verdadeiramente ao amor.
10) Ritos
Melodia: Marcelo Jeneci
Encerro o disco que traz o pulso dançante dos sintetizadores com “Ritos”, uma melodia sem letra gravada com sanfona, piano e voz, que faz parte de uma série de “mantras-pop” inéditos que compus nesses últimos anos. “Ritos” sintetiza o abrigar que busco nas melodias. Música pra mim é abrigo.
Sem a Laura Lavieri,fica faltando alguma coisa!mas o disco é ótimo.
Gratidão por essa obra maravilhosa. Desde que lançou, só ouço esse album. Sinto tudo do meu jeito, obrigada por ser artista <3
Não me canso de ouvir. Lindo como tudo que Jeneci faz. Sinto falta do álbum físico, mesmo em tempos de tudo tecnológico. Adoro ver, pegar, sentir o CD é uma paixão. Espero que seja lançado.