Introdução por Diego Albuquerque
A Banda de Pífanos Caju Pinga Fogo nasceu de maneira totalmente despretensiosa em 2016 para uma apresentação na Festa Junina do Centro Acadêmico de Comunicação Social da Universidade Federal do Piauí. Os primeiros ensaios foram debaixo do cajueiro ao lado da Rádio Universitária, no campus da UFPI. Daquele momento em diante, começaram a aparecer shows em todos os cantos da cidade e eles não pararam mais de tocar.
Ao tentar fazer uma flauta a partir de PVC, Maguim do Pife (Pífano, rabeca e voz) começou a estudar instrumentos de sopro e chegou no pífano, um instrumento tipicamente brasileiro e nordestino, a proposta natural foi de enaltecer a cultura nordestina. Era necessário chegar ao som ancestral do pífano e dos instrumentos percussivos que se unem nas bandas tradicionais, porém com uma linguagem mais contemporânea.
A dançarina Rafaela Gomes (pratos, percussão e voz) foi a primeira pessoa a ter contato com o pífano através do Maguim e a paixão foi tão grande, que ela deixou um pouco de lado a dança e começou a tocar instrumentos tal quais os das bandas que ela tinha acabado de conhecer. Tauana Queiroz (zabumba, percussão e voz) era estudante de jornalismo quando foi convidada para a banda. Ela já fazia parte do trio pé de serra Fulô do Sertão e também se apaixonou pela percussão do pífano.
Leo Mesquita (pífano e voz) já tocava flauta quando participou de uma oficina de pífano com o Maguim. O encaixe foi tão perfeito, que foi natural a presença dele na banda. E Javé Montuchô (caixa, percussão e voz) já era conhecido na universidade por seu trabalho como baterista da banda de rock Alcaçuz, mas sempre foi muito interessado na mistura regionalizada do rock, como os piauenses Rock Moreira e Narguilé Hidromecânico, entre outros.
“Rosa dos Ventos”, o álbum, conta com 14 faixas autorais, que não se restringem apenas as sonoridades das tradicionais bandas de pífanos, mas que abraça todos os estilos do nordeste. “Nós partimos da ideia que o pífano não é um limite criativo, e sim muito versátil. No disco e no show provamos isso, pois tocamos os mais diversos ritmos. E a pesquisa não para. Podem vir outros ritmos, outros instrumentos, mais o Pífano sempre vai tá no meio”, explica Javê.
O álbum foi gravado no Estúdio Jardim Elétrico, em Teresina, em 2018, com produção do consagrado músico e produtor pernambucano Zé da Flauta. Todo o processo foi registrado numa web serie de cinco episódios (assista no final da página), que demonstra todo o caminho para chegada do disco e também apresenta um pouco mais os integrantes da banda e a história do pífano, um instrumento tão presente na cultura nordestina. Abaixo, os cinco integrantes comentam, faixa a faixa, o disco “Rosa dos Ventos”.
Faixa a faixa: “Rosa dos Ventos”
01. “A Saga do Caboco Rumo ao Vento”
Uma das poucas músicas instrumentais do disco, as percussões fazem uma dança entre as variações do arrasta pé, enquanto os pífanos são a expressão da miscigenação entre o branco e o índio (caboclo).
02. “Laço de Fita – Terror do Nordeste”
Sample com a toada de Mestre Manoel Luciano (do boi Terror do Nordeste). Gravada no Poti Velho, em Teresina. Áudio extraído do documentário “Laço de Fita”, de Paulo Cezar Saraceni, gravado em Janeiro de 1976.
03. “Barca Velha”
As barcas já foram o transporte mais usado para atravessar os rios que cortam a cidade e hoje ainda fazem da rotina de trabalhadores, estudantes e passageiros que transitam diariamente entre Timon e Teresina. A ciranda segue o curso da água e os pífanos compõem a parte metálica desse ritmo tão envolvente.
04. “Forró pra Pife Ver”
Uma festa no interior que reúne amigos no terreiro pra levantar poeira ao som do pífano. A composição mistura xaxado e o tradicional baião.
05. “Mestre Manoel Messias”
Vinheta com áudio extraído de entrevista do Mestre Manoel Messias concedida a Marcus Sousa (Maguim do Pife) em Maio de 2017.
06. “Dibuia o Milho”
Tudo começou quando Manoel Messias tocou de boca um frevo super agitado que compôs anos atrás. A música, com sua marcação intensa e floreios dançantes, ganhou vida no pife no mesmo instante e pouco tempo depois já fazia parte do repertório da Caju.
07. “Garrô Amô”
Um samba de matuto swingado onde os pífanos fazem as dobradinhas e a percussão agita no pagodão.
08. “Maria Marmeleira”
Rabeca e vocais cantam juntos nessa toada que tem como grande inspiração o cavalo marinho pernambucano. A levada é de cavalo marinho, mas tocada com percussão de banda de pife. Uma ótima mistura para fazer trupé!
09. “Maria da Inglaterra”
Trecho da música “Vivo no Mundo a Sofrer”, extraída do documentário “Laço de Fita” de Paulo Cezar Saraceni, gravado em Janeiro de 1976; e trecho de entrevista extraída do documentário “Maria da Inglaterra Entre Amigos” de José Dantas e Márcio Bigly, gravado em Dezembro de 2013.
10. “Toca Toca Pife”
Coro, canto e pífanos se juntam nesse samba de matuto. O resultado disso é uma pifada que dá pra cantar, dançar só e coladinho xamegando.
11. “Enquanto o Jegue Não Vem”
O jegue é o ônibus. A pifada, uma forma de matar o tempo. O xaxado entra na agonia de uma espera que parece nunca ter fim.
12. “Samba de Biu”
Biu é forró, é sambador, é o samba e é o pifeiro. E matuta é a levada onde os pífanos sambam.
13. “Marcha das Formigas”
Um exército de formigas marcha em direção ao piquenique na praça. Uma grande guerra foi travada e o resultado disso é essa pifada que mistura elementos rítmicos da marcha marcial e do xaxado.
14. “Zé Pião”
Feita pra girar, pular, cair e levantar. Todo mundo que entrar na farra desse arrasta pé gostoso, se transforma em Zé Pião!