por Marcelo Costa
Eles são de Austin, no Texas, e há 25 anos fazem um dos shows mais barulhentos do planeta. O Brasil já teve oportunidade de estar frente a frente com o …And You Will Know Us by the Trail of Dead, e ficar um pouquinho surdo também. Foi em 2001, quando oficialmente eles tocaram duas noites no Sesc Belenzinho, em São Paulo, e uma no Sesc São Carlos (extra-oficialmente consta que a banda seguiu tocando por botecos em troca de caixas de cerveja praticando shows ainda mais insanos).
Na época, a experiência em solo brasileiro mexeu com a banda texana. Ao atender o telefone alguns meses depois para conversar com o Scream & Yell (eles tocaram em dezembro de 2001 e foram entrevistados em março de 2002), Jason Reece (que se alterna entre bateria, guitarra e voz com o outro único membro da formação original de 1994, Conrad Kelly) nem esperou a primeira pergunta e já foi soltando um “eu amo o Brasil”, paixão que ele atualiza nessa entrevista: “Fomos expostos a tanta cultura… da comida à música… foi alucinante”.
Sem um disco novo desde 2014 (quando saiu “IX”), os texanos voltaram aos holofotes da música este ano quando decidiram trazer para o palco a integra de seus dois discos mais famosos, “Madonna” (1999) e “Source, Tags & Codes” (2002), casualmente os únicos dois discos deles lançados no Brasil. Na época do lançamento do “Source, Tags & Codes”, o Scream & Yell cravou: “Nada é mais poderoso que a simplicidade unida a paixão” (num texto que ainda os colocava com a principal banda daquele momento – a segunda era o White Stripes).
Na conversa abaixo, por e-mail, Jason Reece analisa a troca da independente Merge pela major Interscope quando do lançamento do terceiro disco, “Source, Tags & Codes”, fala rapidamente sobre o politizado disco “Lost Songs” (2012) e sobre ficar com o ouvindo zunindo toda noite. Com vocês, Trail of Dead…
Há 18 anos vocês tocavam em São Paulo! Eu estava lá e foram duas noites incríveis. Vocês lembram alguma coisa dessa passagem pelo Brasil? Logo depois, entrevistamos você para o Scream & Yell, e a primeira coisa que você disse foi “Eu amo o Brasil” (risos).
O Brasil deixou uma impressão intensa em nós e eu realmente sentia falta de tocar ai… Nós fomos expostos a tanta cultura… da comida à música… foi alucinante. Nós pudemos sentir a energia positiva e as pessoas estavam tão abertas para nós e para a nossa música barulhenta. Temos sorte de poder voltar.
Nessa nova turnê vocês estão tocando canções dos álbuns “Madonna” e “Source, Tags & Codes” (casualmente, os dois discos de vocês lançados no Brasil até hoje). Como é voltar a tocar as canções desses discos? Como elas estão soando hoje em dia ao vivo?
Esses discos continuam soando frescos, caóticos e explosivos, repletos de insanidade juvenil. Estamos nos sentindo muito bem em estar tocando eles 20 anos depois… Deus, como estamos velhos! Mas essa merda te mantém jovem pra caralho!
“Source, Tags & Codes” foi o primeiro álbum de vocês por um major, a Interscope (depois vieram “Worlds Apart” e “So Divided”). Como foi a experiência de sair da Merge, gravadora independente que lançou o “Madonna”, entrar numa grande gravadora, e voltar a ser independente novamente?
O contrato com a Interscope nos deu a chance de viver da nossa música e sair dos nossos empregos de 9h ás 17h. Todos nós tínhamos trabalhos de merda e a ideia de ser livre para fazer nossa música foi uma saída na época. Dito isto, estar em uma grande gravadora também teve seus problemas: nós tivemos que fazer algumas reuniões com Fred Durst (do Limp Bizkit)! Brincadeira. Na verdade, nossa filosofia sempre foi levar a nossa música ao máximo de pessoas sem perder a nossa visão. Esse era o desafio.
A “Special Edition” do álbum “Lost Songs” traz uma novela do Conrad Kelly e o disco gira em torno dos temas guerra, tirania e apatia. Como vocês veem esse momento particular do mundo, com o extremismo de direita levantando em várias nações (infelizmente, no Brasil também) e como isso tudo influencia o Trail of Dead?
“Lost Songs” foi planejado como nosso álbum mais político, com reflexões sobre o que estava acontecendo naquela época na Síria, reflexões sobre a guerra e o ódio, sobre toda corrupção policial que estava rolando na América e o fato de estarmos colados à tela do computador completamente apáticos. É tudo tão Game of Thrones!
Lembro que acordei no dia seguinte ao show de 2001 em São Paulo com o ouvido zunindo pela intensidade do barulho. Qual o segredo para manter a audição intacta tocando alto durante tanto tempo?
Meus ouvidos também ainda estão zumbindo desde aquele show e… eu não sei… é algo que eu tento não me preocupar e isso provavelmente soa muito tolo…
O disco mais recente de vocês, “IX”, é de 2014. Nos shows de São Paulo em 2001, o “Source, Tags & Codes” ainda não havia sido lançado, mas vocês tocaram ao menos três canções (até então inéditas) naqueles shows. Ouviremos algo novo dessa vez? E as covers, continuam rolando (naquele show tivemos U2 e Beatles, devido a morte de George Harrison)?
Quem sabe? Talvez? Eu espero que sim! Só sei que vamos dar o nosso melhor para entreter todo o público.
– Marcelo Costa (@screamyell) é editor do Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne.