Texto por Paulo Pontes
Um dos melhores discos de metal lançados até a metade de 2019, “The Atlantic” (AFM Records/Shinigami Records), do Evergrey, traz Tom S. Englund (vocal e guitarra), Johan Niemann (baixo), Rikard Zander (teclados), Henrik Danhage (guitarra) e Jonas Ekdahl (bateria) se superando e forjando o disco mais pesado, emotivo e visceral da carreira de quase 25 anos da banda. Daqueles que ouvimos de cabo a rabo, sem pular faixa, e que passam rapidinho.
“The Atlantic”, décimo primeiro disco de estúdio dos suecos, é a terceira parte de um trabalho iniciado em 2014, quando o Evergrey lançou “Hymns for the Broken”, passando por “The Storm Within” (2016). O vocalista e guitarrista Tom Englund — de um longe um dos melhores compositores da música pesada na atualidade — já deixou claro em entrevista que não se trata de uma trilogia, pois não consegue determinar quão longevo será um projeto que busca retratar, através de suas letras, experiências vividas em tempo real, durante a produção de cada disco.
Em entrevista à revista Roadie Crew, Englund declarou que o novo álbum “é sobre colocar os pés na água, entrar no seu barco, lançar-se ao mar e ir embora. Isto simboliza o último passo do processo de decisão”. A profundidade e o sentimento que são colocados em cada tema condizem com a definição do vocalista: “The Atlantic” funciona como uma travessia amedrontadora em um oceano de incertezas na busca do autoconhecimento, mas que simboliza o reconhecimento dos fatos que ocorrem no percurso.
A primeira faixa composta para “The Atlantic” foi justamente a escolhida para abrir o disco: “A Silent Arc”. Ela, de certa forma, dita o ritmo do trabalho, que mantém os elementos pelos quais a banda é conhecida, como, por exemplo, os refrãos grandiosos, as melodias marcantes, as dinâmicas nas mudanças de andamento, atmosferas bem variadas e toda a dramaticidade que envolve a sonoridade dos caras.
Logo após, “Weightless” vem muito mais direta, com um excelente riff de guitarra, sem muitas progressões — apesar de conter um trecho bem intrincado e quebrado antes do solo de guitarra no meio da música —, mas com uma melodia extremamente marcante. É uma faixa mais fácil de ser “digerida” até mesmo por ouvintes pouco acostumados com a sonoridade da banda. Virou videoclipe; escolha acertada. Destaque para o baterista Jonas Ekdahl, que também dá um show a parte em “A Secret Atlantis” e suas mudanças de andamento e variações rítmicas.
A entrega vocal de Tom Englund é sempre um fator determinante para o sucesso das canções do Evergrey, e aqui não é diferente. O cara coloca e transmite muita emoção em cada verso que canta. A cadenciada “End of Silence” é a prova disso. Vale ressaltar ainda as faixas “Departure” e “This Ocean”, que encerra um excelente disco de uma banda que merece ainda mais reconhecimento por todo seu trabalho. É claro que nem tudo são flores e a instrumental “The Tidal” é desnecessária, mas passa tão rápida que nem percebemos e a música que vem em seguida, “End of Silence”, é uma das melhores de todo o disco.
“The Atlantic” foi gravado entre junho e outubro de 2018 no Top Floor Studios e contou com mixagem e masterização sob os cuidados de Jacob Hansen (Epica e Amaranthe). Agora é só aguardar — com ansiedade — os shows da banda por aqui, no segundo semestre, e conferir como essas novas músicas do Evergrey soarão ao vivo. Mas tem tudo pra dar certo. Álbum e show imperdíveis! O Evergrey passará pelo Brasil nos dias 22, 23 e 24 de novembro — Rio de Janeiro (Teatro Rival), São Paulo (Carioca Club) e Limeira (Bar da Montanha), respectivamente —, me parece uma excelente oportunidade para escrever sobre um dos melhores discos de metal lançados até a metade de 2019.
– Paulo Pontes é colaborador do Whiplash, assina a Kontratak Kultural e escreve de rock, hard rock e metal no Scream & Yell. É autor do livro “A Arte de Narrar Vidas: histórias além dos biografados“.