Resenhas por Leonardo Vinhas
“Weezer (Black Album)”, Weezer (Atlantic)
“Timbaland sabe o caminho para chegar no topo das paradas / Talvez se eu trabalhar com ele eu aperfeiçoe a arte”, cantava Rivers Cuomo em “Pork and Beans” (2008). Não chegou a tanto, mas quase: em 2009, Rivers e seus amigos cometeram uma canção com Lil’ Wayne, “Can’t Stop Partying”. Spoiler: não chegou nem perto do topo das paradas, e fez muito pouco pelo engrandecimento artístico das partes. O fato é que há anos o Weezer vem tentando se sintonizar com “o que a garotada ouve” (ironia intencional) – e não conseguindo. Mas 2019 trouxe o sucesso comercial e fracasso artístico de “Teal Album”, um meme que virou disco (de covers), e antes dele o sr. Cuomo já compunha com gente como Rami Yacoub (compositor de hits de Nick Minaj, Pink, One Direction, Demi Lovato, Madonna e outros), Josh Alexander (idem, para Lovato, JoJo e t.A.T.u.), Jonny Coffer (Fall Out Boy, Lykke Li, All Saints), Ammar Malik (Maroon 5) e outros para entregar o que se tornaria este “Black Album” (e para não dizer que só mirava o star system, chamou Laura Jane Grace, do Against Me!, para coescrever uma faixa também). Ter escalado esse time de engenheiros da linha de produção do pop massivo compensou? Bem… Ninguém pode acusar o Weezer de não tentar: “Living in L.A.” e “Zombie Bastards” são bobagenzinhas radiofônicas charmosas até, mas a maior parte do disco soa como seu pai tentando dar uma de descolado. Rivers completará 50 anos em 2010, mas parece obcecado em tentar se manter conectado com os mais jovens. Pelo menos, é bastante sincero quando reconhece que os vícios dessa era tecnológica o estão assoberbando – tema que aparece na bregosa “High As a Kite” e na esforçada “Too Many Thoughts In My Head”. Essa última, aliás, junto com “I´m Just Being Honest”, tira frutos simultaneamente das árvores do Green Day e do U2 – certamente não as melhores referências para o público jovem, mas que denota que Rivers não virou um caça-hit obsessivo. Mas o resto é de uma sem-gracice e uma falta de identidade constrangedoras, e que nesse não-caga-nem-desocupa-a-moita, o Weezer não faz mais do que manter seu status de baluarte da nostalgia nerd-indie.
Nota: 4
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“Bride of The Devil”, Electric Six (Metropolis Records)
Em termos de produtividade, o Electric Six é quase um Guided By Voices: é tanto disco que fica difícil até para o fã dedicado acompanhar (isso sem contar os projetos solos e paralelos). Com tanto disparo, é óbvio que nem toda bola entra na rede, e “Bride of The Devil” é um desses jogos truncados, com várias bolas na trave, um ou outro lance de destaque, nenhum vexame e nenhuma conquista histórica. “Mediano”, em resumo. Beeeeem mediano. O single de estreia já dava uma pista da estranheza: “Daddy’s Boy” abre com uma linha de baixo e uma guitarrinha tão Pixies que Joey Santiago e Kim Deal bem que podiam acionar seus advogados. Mas a cópia é das mais bem-feitinhas, e a letra sacana, que pula com os dois pés no peito do milionário mimado que virou presidente da nação mais poderosa do mundo, completa o bom ataque. O resto do disco vai nessa onda de indie rock noventista, com pouco do electro-disco-grunge-metal que fez a fama (infâmia?) dos autores de “Gay Bar”. Isso se deve ao fato de que o núcleo compositivo (o vocalista Dick Valentine, o tecladista Tait Nucleus? e o guitarrista Johnny Nashinal) se dispersou: Valentine dessa vez cuidou quase que exclusivamente das letras, Nashinal ficou praticamente alheio e coube a Nucleus? e ao baixista Rob Lower definir a sonoridade do disco. Se as influências do indie noventista colaboraram para entregar um álbum sem as características mais marcantes da banda, por outro lado ajudaram a entregar um produto final mais “curtível” que o antecessor “How Dare You?”. No fim, não importa tanto, porque logo mais aparece um disco novo, totalmente diferente, e a cara-de-pau desses trashers satanistas de araque logo volta.
Nota: 6
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“This Land”, Gary Clark Jr. (Warner)
Gary Clark voltou, e voltou puto! O negrão que surgiu apadrinhado por Eric Clapton mandou às favas o peso de ser uma “promessa da guitarra” e fez um disco raivoso, com um resultado sonoro que finalmente faz jus às suas ambições. “Blak and Blu” (2012), era uma estreia majoritariamente roqueira e muito boa, mas seu sucessor, “The Story of Sonny Boy Slim” (2015), derrapava feio em sua pretensão de ser o Prince dos anos 10. “This Land” corrige a rota, e isso se deve ao fato de Clark, agora com 35 anos, não ter mais pudores em soltar os cachorros tampouco em assumir suas influências. A faixa-título, inspirada por anos como alvo de atitudes racistas e por seu profundo asco dos anos Trump, é o jato de fúria mais visível, mas “I Walk Alone”, “Gotta Get Into Something” (assumidamente inspirada no punk rock) e “Low Down Rolling Stone” não brincam em serviço, atualizando o som de “Blak and Blu” com timbres mais contemporâneos, e indo um pouco além disso por não se restringir ao terreno seguro do blues rock. Menos virulentas, mas igualmente certeiras são seus flertes com soul e r&b, como “When I’m Gone”, “Feed the Babies” e “Feelin’ Like a Million”. Tem ainda “The Guitar Man”, que bebe direto na fonte de Wilson Pickett sem sujar a água, e mais um bom número de canções (são 17 faixas) em que o texano soa solto como nunca antes. Pode não ter entregado uma obra-prima, mas que “This Land” é um discão, não tenha dúvida.
Nota: 8.5
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– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell.