Fundado em 2007 na cidade de Guarulhos, o Carbônica é formado atualmente por Will (guitarra e vocal), Vini (baixo e sampler) e Alex (bateria) e, desde o início da sua trajetória, assumiu o compromisso com uma cena independente ativa e acessível, mantendo um olhar para a realidade urbana e periférica que reflete nas letras do disco: luta antifacista, problemas de manutenção das barragens de mineradoras, respeito a minorias e busca por uma cidade mais acessível se tornaram bandeiras da banda e se mostram mais atuais do que nunca no álbum de estreia, que reúne faixas dos EPs lançados nos últimos anos e cinco músicas inéditas.
“Nós acabamos de completar 10 anos de estrada e as 10 músicas desse álbum são o retrato dessa trajetória, que é fazer rock com tesão, se divertir e expor nossas verdades através do nosso trabalho artístico”, conta o guitarrista e vocalista Will. Tudo isso embalado por uma roupagem que vai do disco-punk ao drum and bass, do blues ao garage. Ao lado de outras bandas de Guarulhos, o Carbônica fundou o Projeto CLAM, que agora atua também como produtora e selo musical. A partir de 2009, passaram a realizar intervenções culturais em espaços urbanos, conhecidas como CLAMdestino.
Essas intervenções foram o combustível para o primeiro EP da banda, “Rock Puro e Sem Gelo” (2012). O trabalho trazia no título a filosofia do Carbônica e, na produção, a assinatura do californiano Brendan Duffey. Dois anos depois, o trio tinha conquistado uma base de fãs e experiência suficiente para garantir a produção de seu segundo EP, “Inflamável”. Após uma bem sucedida campanha de financiamento coletivo, foram arrecadados 114% da verba necessária. O compacto conta com quatro músicas gravadas e mixadas pelo próprio baterista da banda no Estúdio Casa CLAM e masterizadas por Brendan Duffey.
“Tivemos experiências bem bacanas nesse processo de gravações em vários estúdios e com vários artistas. No Norcal Studios tivemos a oportunidade de gravar com um californiano que já trabalhou com gente de peso da gringa e com quem aprendemos muito. E na Casa CLAM foi a hora de colocar na prática as coisas que acreditamos. Por lá, montamos um estúdio e criamos nosso selo CLAM Discos, onde também começamos a produzir e lançar outros artistas”, conta Will.
O segundo EP abriu as portas uma turnê pelo nordeste em 2015. Na passagem por Natal (RN), o som do Carbônica chamou atenção de Anderson Foca, fundador do renomado Festival DoSol e músico das bandas Camarones Orquestra Guitarrística, Orquestra Greiosa e Fetuttines, que convidou o trio a gravar o sucessor de “Inflamável” no estúdio DoSol com Yves Fernandes, que também é baterista da Camarones. “TR3S” foi lançado pelo selo DoSol e já demonstrava a evolução sonora da banda.
Agora, o grupo celebra a sua já rica trajetória sem deixar de olhar para o futuro. “Carbônica” é um retrato das mudanças e traumas vividos no Brasil nos últimos 10 anos, com letras que parecem proféticas e funcionam como alertas para o futuro. O álbum está disponível em todas as plataformas de música digital. A banda ainda fez uma tiragem artesanal em CD dos EPs “TR3S” e “Inflamável 3” e em fita cassete da coletânea “Carbônica”, que o baixista Vini comenta faixa a faixa logo abaixo:
Inflamável
Faixa que conta com BPM extremamente pulsante, com uma mensagem direta gritando que tudo deve ser feito de forma intensa, sem medo das consequências: “Inflamável, prefiro pegar fogo!”
Se a cidade parar
Misturando rock com drums and bass, a faixa apresenta o habitat metropolitano do Carbônica, com uma letra que é quase um conto. Nele, o protagonista pode ser qualquer um de nós que enfrenta os grandes problemas da cidade: “E não estranhe se a cidade parar”. Inspirada em história real, e trata de assunto muitas vezes tabu.
Sangue
Disco-punk com um solo em 8 bits, “Sangue” aborda corações duros e frustrados em um presente que enfim começa a discutir sobre igualdade de gêneros: “O meu sangue é tão vermelho, tão vermelho, quanto o seu!”
Agora Eu Te Bebo
Rock pulsante que mistura bebidas, corações enfurecidas e doses de ironia: “Como num rock puro e sem gelo, a noite inteira!”
Augusta
Post-garage lançada em 2015 pelo selo Do Sol, questiona se a famosa Rua Augusta, repleta de bares, boemia e música, continua a mesma. Com riffs e delay, a mensagem é que a rua perde seu brilho para a especulação imobiliária: “Augusta, você era só festa, mas agora só apartamento!”. Augusta também pode ser uma pessoa, não? Fica a provocação.
Você Quer Pecar
Um blues que vira um post-punk, esta faixa dançante discute o motivo das pessoas insistirem em se enganar: “Confesse, você quer pecar”
Lama
A faixa é praticamente em cima de um simples beat, pois aqui o foco total é a indignação em relação à eterna política de promessas não cumpridas, onde quem continua pagando pelas consequências somos todos nós: “Trabalha, sempre é longe pra caralho/E o metrô que nunca chega/Caiu no conto do vigário/Que ouviu na eleição”. Inspirada pelo crime em Mariana, que agora voltou acontecer. Qual será o próximo?
Loucura
Bateria bem marcada com baixo pulsante, esta faixa se inconforma com a loucura de hoje, onde pessoas só reclamam em casa e não fazem absolutamente nada: “Isto é Loucura!”
Quem Nunca
Esta faixa flerta com o pós-punk anos 80, abordando os limites invisíveis que a vida na cidade impõe: “Quem nunca viveu uma mentira?”
Até no Caos
Nossa faixa disco-punk, esta música mistura vários samples de recortes da cidade, vem com a mensagem que não importa quanto a vida é difícil, ela deve ser aproveitada ao máximo: “Até no caos, viver vai ser foda!”