por Marcelo Costa
“A Esposa”, de Björn Runge (2017)
Glenn Close nunca ganhou um Oscar. Sua primeira indicação (como Melhor Atriz Coadjuvante) foi em 1982 (!) por “O Mundo Segundo Garp”, mas quem levou foi Jessica Lange por “Tootsie” (merecido, né). De lá para cá foram mais seis nominações: em 1984 e 1985 por “Os Amigos de Alex” e “The Natural”, em 1987 por “Atração Fatal” (ela perdeu para Cher em “Moonstruck” – sério), em 1989 por sua atuação no maravilhoso “Ligações Perigosas” (Jodie Foster levou por “Acusados”) e 2011 por “Albert Nobbs”. Com “A Esposa” ela soma sua 7ª indicação, e será meio difícil tirar a estatueta dourada dela (ainda que o resenhista prefira Olivia Colman em “A Favorita”), pois ela carrega totalmente sozinha a boa história inspirada no livro de “The Wife” (2003), de Meg Wolitzer, lutando contra um elenco deslocado e mal dirigido: Max Irons (filho de Jeremy Irons) entrega uma atuação patética como filho do casal e, nos flashbacks, Harry Lloyd interpreta um Joe Castleman (o marido jovem do personagem de Glenn Close) digno de novela das 19h da Rede Globo. Pisando sobre todos eles, inclusive um irreconhecível Christian Slater (como o biógrafo mala), Glenn Close brilha numa trama que começa quando o marido Joe (Jonathan Pryce) recebe o Prêmio Nobel de Literatura, e precisa ir a Estocolmo receber as honrarias. Sua esposa, Joan (Glenn), entra numa espiral de repensar as escolhas de sua vida, e a trama (meio Agatha Christie, ainda que um tiquinho óbvia) irá revelando aos poucos como o casal construiu seu passado (e seu presente). No fim das contas, um bom filme médio (muito melhor que “Bohemian Rhapsody”, o que não é difícil) feito para Glenn Close brilhar. Será que basta para levar o Oscar? Sei não… mas que vale vê-la brilhar na tela, sem dúvida.
Nota: 6
“Guerra Fria”, de Pawe? Pawlikowski (2018)
Em 2013, o realizador polonês Pawe? Aleksander Pawlikowski ganhou destaque mundial ao arrebatar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por sua 10ª produção, o lírico “Ida”, um filme em que uma jovem noviça prestes a confirmar os votos é “apresentada” à família que nunca teve, à John Coltrane e a si mesma. Além dessa estatueta, “Ida” foi indicado também por sua exuberante fotografia, perdendo para o ególatra “Birdman”. Corta para 2019: “Cold War”, seu novo filme, utiliza novamente a coloração P&B e a Proporção de Tela 1.33:1 buscando emular os filmes poloneses da época para contar a história de Zula (Joanna Kulig) e Wiktor (Tomasz Kot), um casal que se conhece numa escola de música na Polônia do pós-Segunda Guerra, e atravessa todo o período da Guerra Fria entre encontros e desencontros vivendo uma paixão intensa que, por fim, irá os arrebatar (e aos espectadores também). De canções folclóricas tradicionais, o grupo passará a difundir propaganda comunista, momento em que o pianista e maestro Wiktor aproveitará para pular fora do barco e partir para ser pianista de jazz em botecos enfumaçados em Paris. Zula deveria acompanha-lo na fuga, mas o medo a reterá… por um tempo. Entre idas e vindas, “Guerra Fria” irá mostrar como decisões do Estado podem interferir na vida das pessoas (no amor inclusive) tendo uma bela trilha sonora ao fundo e uma fotografia espetacular, conjunto que rendeu ao filme uma nova indicação de Pawel em Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Fotografia, além de uma surpreende e merecida indicação a Melhor Diretor. Aposta: ao contrário de 2014, “Guerra Fria” perde a primeira estatueta (de Melhor Filme Estrangeiro para “Roma”), mas garante a de Fotografia. Dedos cruzados porque Pawel e o cinema (polonês e mundial) merecem.
Nota: 9
“Vice”, de Adam McKay (2018)
Em 2016, Adam McKay ganhou um Oscar pelo roteiro (e uma indicação a Melhor Diretor) de “A Grande Aposta”, filme absolutamente genial que mergulhava cinicamente na crise financeira que assolou os Estados Unidos (e o mundo) em 2007/2008 amparado em grandes atuações de Christian Bale, Steve Carrel, Ryan Gosling e Brad Pitt. Os dois primeiros estão de volta em “Vice” acompanhados de Amy Adams e Sam Rockwell para rememorar a escalada de “sucesso” de Dick Cheney, o 46º vice-presidente dos EUA – durante o governo Bush, de janeiro de 2001 a janeiro de 2009. A história, porém, volta atrás no tempo para mostrar o período em que o politico trabalhou nos bastidores do governo Nixon e na “passagem” de seu cargo para Gerald Ford. Dai em diante, o roteiro lista as artimanhas que posicionaram Cheney como um dos homens mais fortes (e perigosos) do mundo, figura-chave no endurecimento da política externa americana e arquiteto da guerra do Iraque – mais especificamente na elaboração dos falsos argumentos sobre uma conexão entre o regime de Saddam Hussein e a Al-Qaeda, assim como a existência de armas de destruição em massa no Iraque, algo que nunca foi comprovado. Adam McKay repete o instigante modo operante que o consagrou em “A Grande Aposta”, com cinismo, comédia e sarcasmo distribuído em doses cavalares durante os 132 minutos da projeção (com direito a falso final, um jantar surpreendente e uma cena extra absolutamente impagável em meio aos créditos que explica o Brasil de 2018/2019 e sacaneia o próprio viés esquerdista do filme). “Vice” é daqueles filmes que você não pode fechar os olhos, pois corre o risco de perder algum ingrediente a mais que justifique o fato de Christian Bale ter dedicado seu Globo de Ouro de Melhor Ator ao… demônio, por inspira-lo tão bem. Com 8 indicações ao Oscar (incluindo Filme, Diretor, Roteiro e atores para Christian Bale, Amy Adams e Sam Rockwell), “Vice” só tem um “defeito”: é inteligente demais para as massas, fato que também jogou contra “A Grande Aposta”, mas é Cinema com C maiúsculo, grandioso, envolvente, provocador e divertido. Ok, já é tarde demais para falar (ou não), mas… fique de olho nos vice-presidentes. Eles podem ser bem perigosos…
Nota: 9.5
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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