Cinema: “Homem-Aranha no Aranhaverso” é uma ode especular ao aracnídeo 

Texto por Adriano Mello Costa

Com grandes poderes vêm grandes…, não, não, espera aí. Já deu né? Deu mesmo, convenhamos. Depois da origem de Peter Parker ser contada e recontada diversas e diversas vezes, as coisas ficaram meio enfadonhas, não tem jeito. Mas em “Homem-Aranha no Aranhaverso” (“Spider-Man: Into the Spider-Verse”), longa de animação (indicado ao Oscar 2019 na categoria) que estreou nos EUA no final de 2018 e aqui no Brasil em 10 de janeiro de 2019, isso é encarado de maneira diferente, sendo esse apenas um dos incontáveis acertos da produção.

O filme (com custo de US$ 90 milhões e renda acumulada até agora na casa dos US$ 300 milhões… e contando) é uma parceria da Sony com a Marvel e funciona como a introdução de Miles Morales (o Homem-Aranha negro e latino) no cinema. Miles Morales foi criado por Brian Michael Bendis e Sara Pichelli e estreou no universo Ultimate (uma realidade paralela) da editora em 2011, ou seja, o personagem tem menos de 10 anos e já tem destaque relevante, hoje inserido na realidade principal e constantemente cativando leitores e fãs ao redor do mundo.

Levar a história do Aranhaverso para as telas não era tarefa das mais fáceis, fazer funcionar a trama dos quadrinhos na telona onde inúmeras versões do personagem se reúnem, utilizando as prerrogativas do multiverso era algo hercúleo, bem hercúleo. Porém, os diretores Bob Persichetti (“Gato de Botas”), Peter Ramsey (“A Origem dos Guardiões”) e Rodney Rothman (“Ajuste de Contas”) conseguiram o feito apoiados no roteiro de Rothamn com Phil Lord (“Uma Aventura Lego”), que concebe também a história geral.

Miles Morales vive em uma realidade onde o Homem-Aranha carrega os padrões que todos conhecem, concebidos lá atrás por Stan Lee e Steve Ditko. Heroico, destemido e cheio de piadinhas na manga, Peter Parker já salvou o mundo e a cidade de Nova York algumas vezes, contudo, é novamente posto à prova quando o Rei do Crime planeja ligar uma máquina que pode estraçalhar com a cidade ao invadir outras realidades. Ao buscar impedir isso, Peter sucumbe.

Miles, que foi picado recentemente por uma aranha e então ganhou os poderes, precisa assumir o encargo de impedir que a máquina seja novamente ligada. E não está só para isso. A engenhoca que havia sido iniciada brevemente antes trouxe para essa realidade algumas versões do herói, sendo uma impetuosa Gwen Stacy, um outro Peter Parker acabado e desiludido, o Homem-Aranha Noir direto dos anos 30, a jovem nipo-americana Peni Parker e o extraordinário Porco-Aranha (esqueça os Simpsons).

“Homem-Aranha no Aranhaverso” acaba sendo uma história de origem na essência – mesmo que isso não seja o ponto principal. É uma animação com muito, muito mesmo de quadrinhos, abraçando estes de maneira exemplar (via os balões de conversa, onomatopeias e homenagens a cenas clássicas), além de exibir diversos estilos de animações como o anime e um mais cartunesco, como os Looney Tunes. Na dublagem, nomes como Mahershala Ali dublando o tio de Miles, Nicolas Cage como o Homem-Aranha Noir e Liev Schreiber como o Rei do Crime.

O filme é uma ode especular ao aracnídeo e em consequência aos quadrinhos e as histórias de super-heróis. É lírico, divertido, inspirador, representativo e emocionante. Espalhando trocentas referências pelo caminho sem soar pedante, o roteiro apresenta o néctar do amigão da vizinhança em várias e estimulantes cores e com destaque para todos os personagens inseridos. Uma coesão que chega a assustar e nutre no peito a vontade de assistir de novo e mais uma vez.

P.S: As cenas pós-créditos são simplesmente sensacionais.

– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br

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