Entrevista: Patricia Marx

entrevista por Renan Guerra

Patricia Max tem muita história, muito passado, mas prefere mirar o futuro, o agora e, por isso mesmo, “Nova”, seu 13º álbum, é um trabalho cuidadoso que flerta com o pop, na mesma medida em que usa e abusa de experimentações, tudo de forma bastante coesa, mostrando a força de uma autora de pulso firme e que sabe o que quer.

Depois de mais de 30 anos de carreira e com mais de três milhões de discos vendidos, Patricia escolhe seguir a fluxo da neo-soul e da música eletrônica que ela já vinha vasculhando desde o início dos anos 2000. “Nova” é o resultado mais completo dessa busca, apresentando a voz límpida e certeira da cantora de forma liberta e bastante confortável.

São 14 faixas produzidas pela própria Patricia ao lado de Herbert Medeiros e lançadas pelo LAB 344. O disco também conta com participações do produtor norte-americano Paul Pesco, que toca baixo acústico e teclados em “Dentro em seu Lugar”; e do rapper francês Lou Piensa na faixa “Don’t Break My Heart”, um dos momentos mais pop do disco.

Muitas das faixas de “Nova” são assinadas pela própria Patricia, de forma solo ou em parcerias. Além disso, o repertório ainda conta com regravações da ótima “Dança do Tempo”, de Jorge Ailton, e também de “Luz Numa Lágrima”, do amigo Jair Oliveira. No bate papo abaixo ela fala sobre suas escolhas artísticas, a produção do disco e sobre sua história na música. Confira.

“Nova” é um disco que aposta em sonoridades não tão pops e diretas. Você sente que esse é um disco inteiramente autoral, de como você acredita na sua música?
Sim. Desde o álbum lançado em 2004 (“Nu Soul”) que eu não lançava um álbum autoral com tanta liberdade, musicalmente e conceitualmente falando. Depois que estive em Londres, entre 2001 e 2003, a convite do 4hero (grupo de música eletrônica contemporânea UK/Jamaica), onde gravei a faixa “Unique”, em parceria de letra e melodia, no álbum chamado “Creating Patterns” de 2001, nunca mais fui a mesma pessoa. Conhecer Londres e o trabalho deles foi um divisor de águas para mim em termos de liberdade artística. Foi conhecer os códigos harmônicos, aquela tristeza com esperança que tem na música deles, junto com o minimalismo que sempre acreditei e admirei no jazz. Trabalhar com Marc Mac e Dego foi uma escola pós-moderna. Conviver com os produtores, ir à Dollis Hills para gravar no estúdio deles, e vivenciar um ambiente de música saindo pelos poros. Em 2002 fui morar em Londres, e lá gravei o primeiro álbum dirigido e produzido por mim, com parcerias do meu ex-marido e produtor, Bruno E., e o 4hero.

Agora “Nova” surge produzido em parceria com o Herbert Medeiros. Como foi esse trabalho conjunto?
Herbert conhece os acordes que gosto, ele saca rápido o que você está falando, há uma grande afinidade entre nós. É um cara sensível, sofisticado e muitíssimo talentoso. Um gentleman. É incrível quando estamos compondo. O trabalho com ele é virginiano. Ou seja, detalhado, focado e minucioso (risos). Conheci o Herbert através do cantor e produtor Filiph Neo, que produziu comigo o álbum “Trinta” (2013), ao lado de outros dois produtores, Sorry Drummer e Bruno E. Herbert foi diretor musical e tecladista do DVD ‘Trinta ao Vivo” e também rearranjou e coproduziu comigo os quatro singles que foram lançados nas plataformas digitais: as releituras de “Te Cuida Meu Bem (Sextape Parte 1)”, “Destino”, “Tigresa” e “Tapete Mágico”.

Eu percebo que “Nova” oscila entre momentos mais pop e outros mais experimentais, de forma bem intercalada. Essa foi uma ambientação planejada durante a produção do disco?
Sim, totalmente.

Você fala que o título “Nova” tem a ver com o ciclo de uma estrela: nascimento, explosão, impermanência. Você poderia explicar mais sobre esse conceito?
Esse conceito de impermanência aprendi com o budismo, nos meus quase 18 anos de contato com essa filosofia. Quando descobri o budismo, em 2001, foi como voltar para casa e estar aonde eu sempre senti que deveria estar, reencarnacionista. Meu primeiro contato e aula foi justamente sobre morte e impermanência. Foi um choque de consciência, um outro jeito de ver as coisas. A morte nos ensina muito, nos ensina a viver de forma mais significativa. Você sabe que um dia, todos nós vamos morrer, que essa é única garantia que temos nesta vida. Então, o que vale realmente a pena? Você para pra pensar. E nessa época, eu tinha acabado de ter meu filho Arthur.

Uma das faixas, “Crystal 528hz”, explora essa frequência do título, que é tida como uma sonoridade de cura. Isso está relacionado à sua prática da meditação, porém, gostaria de saber como você lida com essas possibilidades místicas e se tem alguma crença.
De 2007 pra cá, tenho estudado sobre músicas binaurais, de solfeggio e também as frequências. Cada uma delas, em específicos hertz, trabalha com a vibração de cada emoção nossa, atuando como um remédio. Nosso corpo elétrico, etéreo e espiritual, emite frequências baixas, medias e altas. Dependendo do nosso estado mental e emocional, estamos na luz ou na escuridão, de zero a mil. Conheci a meditação com o budismo também. É meu jeito de tirar umas férias do mundo externo, de tudo o que acreditamos ser real, ou apenas poder me reabastecer, ficar em silêncio.

Você lançou um belo clipe para “You Showed Me How”. Tem perspectiva de lançar outros clipes do disco?
Vários!

Falando nessas questões estéticas, “Nova” tem uma capa linda, bem como belas fotos que também seguem o mesmo conceito. Qual é a sua preocupação com essa parte estética de um lançamento? Você também assume a frente e pensa em ideias, possibilidades, cria em torno disso?
Minha preocupação é ter uma integridade com o som, com o conceito do álbum, e que possa transmitir a outra metade do som em imagem. Um álbum passa por quatro fases: construção, criação, concepção. Depois, vem a fase de você falar sobre ele, em forma de palavras. Você tem que explicá-lo aos outros, em forma de entrevistas. É transpor o som em palavras. Depois apresenta-lo em forma de videoclipe, de uma maneira curta e simples. O que nem sempre é simples. Porque música, pra mim, são sensações. E, muitas vezes, você não encontra palavras para descrever aquele monte de coisas que você sentiu quando fez determinada música. Depois vem o show. É a hora que você transforma o álbum numa exposição crua, mas bela. Você está nu, entregue, exposto, rasgado, ali na frente de todo mundo. Eu amo fotografia, arte, colagens, design, moda, e isso tudo faz parte do meu olhar, do mundo também.

Você já falou algumas vezes que a sonoridade oitentista não é a sua praia, tanto que desde o início dos anos 2000 você flerta mais com a neo soul e outras possibilidades mais voltadas para black music e a música eletrônica. O que não sai de suas playlists?
Jazz e música clássica.

Você tem um grupo de fãs que te acompanha em todas as suas mudanças sonoras e artísticas, como você se relaciona com esse público?
Muito bem. Há muito respeito entre nós. Acho-os discretos. Gosto disso.

A mídia se refere muito a você falando do passado, da sua carreira infantil e de seu sucesso pop nos anos 80 e 90. Isso de alguma forma te incomoda?
Bastante. Considero isso uma forma de bullying, invalidando o meu presente tão bonito quanto. No fundo, tem uma galera bem desatualizada. Deve ter preguiça de pesquisar, de ouvir as coisas com mais calma. É a cultura de julgar, sem conhecer direito e achar fashion ser dos anos 80.

Além disso, vire e mexe você aparece na mídia por coisas que as pessoas teoricamente consideram “polêmicas”, como alguma foto sua no Instagram ou alguma outra coisa banal. Como você lida com isso hoje em dia, depois de tanto ter a sua vida exposta?
Não me arrependo de nada. Essa sou eu. Sou uma ótima pessoa.

Voltando a falar do novo disco, você já tem previsão de lançar um show relativo ao “Nova”?
Sim. Estou com muitas ideias malucas para este show. Não vejo a hora de testa-las!

– Renan Guerra é jornalista e escreve para o Scream & Yell desde 2014. Também colabora com o site A Escotilha.

3 thoughts on “Entrevista: Patricia Marx

  1. Amei A entrevista da Paty ela é muito verdadeira em tudo que fala é uma qualidade só que muitos não gostam de ouvir ,ela é uma artista completa !!Eu admiro desde a época do trem da alegria obrigada por vocês darem espaço a essa pessoa Linda !

    1. a Paty é linda e muito talentosa..
      adoro ela des dos tempos do trem da alegria…
      por isso ela se destacou e tá aí até hoge nos cativando com sua beleza e seu talento…
      a Paty é a estrela alfa da constelação..
      bjs.?

  2. eu não sei o porquê de patricia menosprezar tantoos anos 80 e 90 ela deveria agradecer pois foi atrvés do trem e da adolescência dela que ela conseguiu ser cantora hoje em dia vivi desse geito não gosta de ouvir falar do inicio dela se ela foi tão assédiada isso não justifica de ela desprezar o passado

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