por Leonardo Vinhas
“Fiesta Nacional (MTV Unplugged)”, Los Autenticos Decadentes (PopArt)
Com 22 anos de carreira, Los Autenticos Decadentes são vacas sagradas do rock argentino – o que soa esquisito para nós, brasileiros, a quem a banda pode parecer mais um Asa de Água com teclados menos cafonas. Esse acústico da MTV é mais um disco para fundir a cabeça de quem não entende como “rock” a mistura de murga, cuarteto, zamba, cumbia, ska e até bolero praticada pela numerosa agremiação. Independentemente de rótulos, “Fiesta Nacional” honra seu título com uma musicalidade ímpar. Fica evidente porque o guitarrista Jorge Serrano é citado por nove entre dez de seus conterrâneos como um dos principais compositores populares da Argentina: despidos da cafonice de alguns arranjos de estúdio, e aproveitando o formato para chamar um porrilhão de convidados, a banda dá vivacidade a muitos de seus maiores sucessos, fazendo um show bonito de ver e de ouvir. As participações incluem a agremiação percussiva La Bomba de Tiempo, o folkstar chileno Gepe, Ruben Albarrán (vocalista do Café Tacuba), Ulises Bueno (ídolo do cuarteto, um ritmo popular cordobês), o músico tradicional Chaqueño Palavecino, o grupo vocal Afrosound Choir e a nova queridinha do pop argentino, Mon Laferte. Tem hora que simplesmente não dá para contar quanta gente está no palco, mas ao contrário de outros projetos do formato acústico, aqui a pluralidade funciona a favor da música. A verdade é que Los Autenticos Decadentes nunca soaram tão bem quanto nesse acústico, e só muito preconceito ou mau humor para impedir o desfrute dessa alegra celebração cancioneira.
Nota: 7
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“MTV Unplugged: El Desconecte”, Molotov (Universal)
O Molotov é outro veterano (23 anos de carreira) a aproveitar-se da vigência que o formato acústico ainda tem no cenário latino. O quarteto mexicano teve seu auge entre 1997 e 2007, e a partir daí, se assumiu “classic rock” e passou a viver do passado: “Aguas Malditas” é o único disco de inéditas que saiu após esse período. Esse álbum acústico não traz (quase) nada de novo e dificilmente vai angariar novos fãs, mas é fato que se esforçaram para entregar um produto fresco e vigente – uma variação da receita consagrada, é verdade, mas ainda assim uma bela variação. Colabora – e muito – para isso a presença de Money Mark, notório colaborador dos Beastie Boys, que assume teclados ou piano em quase todas as canções e alucina como um moleque fritado de 20 anos. Méritos, claro, também para a banda: Tito Fuentes, Paco Ayala, Randy Ebright e Micky Huidobro mantém o revezamento nos instrumentos (todos tocam baixo, guitarra e bateria e também cantam) e parecem empolgados como há muito não se via. Eles mostram disposição de pegar algumas de suas canções mais pesadas (como “Mátate Teté” e “DDT”) e repassá-las com sucesso em arranjos sem distorção. Há, também, (poucos) momentos mais lentos em quem fazem bonito, como el groove sombrio de “Hit Me”, da inédita “Dreamers” (ambas com a presença da rapper chilena Anita Tijoux) e de uma fiel “Voto Latino”. Outras não fogem muito da obviedade, mas o talento dos músicos e a qualidade do repertório colaboram para que isso não seja um grande problema.
Nota: 7
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“Discutible”, Babasónicos (Sony Music)
“Discutível”: já a partir do título, os Babasónicos questionam o papel da música – e principalmente, do ouvinte – nesses tempos de audição comandada por aplicativos. Não à toa a primeira faixa se chama “La Pregunta” e indaga sobre o papel da arte, levantando ainda a dúvida se os tempos atuais não estão ainda mais fechados e monopolizados que na era pré-digital. Essa temática se repete, com variações, ao longo das outras nove faixas, bem como a estética musical: um som esparso, no qual nem todos os integrantes precisam tocar (há faixas sem bateria, ou sem guitarra, sem baixo…) e arranjos esparsos emolduram as melodias da melhor estirpe babasónica. É quase uma volta às raízes da banda: antes de formarem os Babasónicos, quatro de seus integrantes (os três Diegos – Tuñon, Castellano e Rodríguez – e o vocalista Dárgelos) tocavam em projetos de inspiração tecnopop ou new romantic. Notam-se aqui essas influências, bem como as de New Order e da fase mais madura do Depeche Mode, mas não deixa de ter a cara da banda em nenhum momento – até porque também há espaço para canções conduzidas na guitarra, como a climática “Adiós em Pompeya”, o boogie “Cretino” e a quase power pop “Trans-Algo”. “Discutible” é um álbum provocante, com camadas que se revelam a cada nova audição, mas é também um disco pop, acessível e sem data de validade. Enfim, é o álbum que os Babasónicos precisavam fazer para provar que seu lado mais ousado e criativo não havia desaparecido após a morte do baixista Gabo Manelli em 2008.
Nota: 9
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– Leonardo Vinhas (@leovinhas) assina a seção Conexão Latina (aqui) no Scream & Yell. É o responsável pela produção e curadoria dos álbuns “Um Grito Que Se Espalha – Tributo a Walter Franco”, “Faixa Seis” e “Brasil Tambien És Latino” (artistas latinos gravando canções brasileiras), “Ainda Há Coração” (em tributo a Alceu Valença), “Caleidoscópio” (em homenagem aos Paralamas do Sucesso) e “Somos Todos Latinos” (com 16 artistas independentes brasileiros regravando temas pop e rock dos países de idioma espanhol).