Resenhas por Adriano Mello Costa
“Crononautas”, de Mark Millar, Sean Gordon Murphy e Matt Hollingsworth (Panini Books)
Olha essa escalação: Mark Millar (“Kick-Ass”) no roteiro e criação, Sean Gordon Murphy (“Punk Rock Jesus”) na arte e criação e o mestre Matt Hollingsworth responsável pelas cores. Não tem como dar errado, correto? Pois é, é difícil de acreditar, mas deu em “Crononautas”. E se deu! Lançado nos EUA em quatro edições entre março e junho de 2015, o compêndio ganhou edição nacional em 2018 pela Panini Books com capa dura, 120 páginas e tradução de Eric Novello. A história é uma ficção científica que não ambiciona detalhamento ou expandir conceitos, o que passa longe de ser um problema, diga-se aqui, porém a caracterização e condução da trama é rasa demais até para esse tipo de modelo, parecendo ter sido feita com pressa e com certa preguiça. Bancados pelo governo, os amigos Corbin Quinn e Danny Reilly conseguem desvendar a viagem do tempo e depois do sucesso das primeiras tentativas partem para uma missão tripulada. Seus trajes lhe permitem passear por qualquer momento da história e isso causa um problema danado depois que a dupla simplesmente resolve mandar o governo às favas e viver a própria vida. Para dizer que não tem nada que se salve, a arte de Sean Murphy rende bons momentos. E só.
Nota: 3
“Hell No!”, de Leo Finocchi (Balão Editorial)
Lúcio é um garoto no mínimo peculiar. Ele é filho do Diabo com uma humana. Sim, o Diabo mesmo. O próprio. Como ele é – por assim dizer – mestiço, tem que aguentar a convivência nada tranquila com os dois irmãos enquanto frequenta a escola que logicamente fica no inferno. Para complicar mais as coisas, seu melhor amigo é um pequeno demônio que curte Deus e só anda com a Bíblia. Esse é o mote de “Hell No!”, criação do quadrinista brasileiro Leo Finocchi (de “Nem Morto”) que já tem duas edições (uma de 2017 e outra de 2018), ambas viabilizadas através de financiamento coletivo em conjunto com a Balão Editorial. Cada uma tem 30 e poucas páginas e, com uma pegada bem jovem, tem no humor a grande força. A história é bem divertida explorando tanto a parte visual quanto piadas do cotidiano e quando os irmãos se colocam no meio de um diabólico (ok, não me controlei, foi mal) plano que visa destituir o Diabo do comando e são enviados a Terra para viver no meio dos humanos a coisa passa a render mais ainda. Publicado também de modo online no site Tapastic, “Hell No!” é uma aventura despretensiosa (no melhor sentido) e bem bacana.
Nota: 7 (site do autor: http://www.leonardofinocchi.com)
“Nada a Perder”, de Jeff Lemire (Editora Nemo)
Nascido em 1976, o canadense Jeff Lemire é provavelmente o quadrinista mais interessante da atualidade. Com grandes trabalhos autorais no currículo como a obra-prima “Condado de Essex”, exibe também passagens relevantes nas editoras maiores como DC, Marvel e Dark Horse. Tudo (ou quase tudo) que carrega o seu nome é digno de nota e não é diferente com “Nada a Perder” (Roughneck, no original), publicação nacional desse ano da editora Nemo com 272 páginas e tradução de Jim Anotsu. Com o habitual traço e dessa vez se utilizando de tons mais azuis aliados ao preto e branco, Lemire conta a história de Derek Ouelette, um ex-jogador profissional de hóquei que tinha um futuro promissor, mas que ferrou com tudo devido ao temperamento. Hoje vive na pequena cidade que nasceu, mora em um buraco e trabalha na cozinha de uma lanchonete. É um cara difícil, amargurado e violento que tem o álcool como melhor amigo. Um babaca brigão, em resumo. Porém, quando alguém que já parecia perdida reaparece, as coisas tomam um inesperado caminho. Explorando recursos já usados anteriormente como frio, neve, dor, arrependimento e culpa, o autor constrói um triste e silencioso balé que tem origens profundas e parece não oferecer nenhum tipo de redenção ou esperança.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br