Texto por Renan Guerra
Foto e vídeo por Carime Elmor
Em 2017, logo que saiu “Letrux em Noite de Climão”, escrevi aqui no Scream & Yell que já era possível “ver uma resposta bastante positiva do público, o que deve certamente levar Letícia para muitas noites de climão por aí”. Um ano depois, a celebração de aniversário do disco de Letícia Novaes alça agora o álbum a categoria de pequeno clássico instantâneo por todas aquelas pessoas que encheram o Cine Joia para mais uma noite de climão.
Com uma capacidade de quase mil pessoas, o Cine Joia, no bairro da Liberdade, se abarrotou de gente na noite de 7 de julho aquecidas pelo jornalista Alexandre Matias (Trabalho Sujo), que comandava o DJ Set. Cerca de uma da manhã, sob pedidos do público, Letrux subiu ao palco para o que seria uma celebração memorável.
Logo de cara, o climão se instalou: a banda entrou no palco, Letícia demorou a surgir, o gelo seco subiu, e quando ela enfim pisou no palco, o microfone falhou! Não se ouvia a voz de Letrux, mas o público entoou em coro o início de “Vai Render”, canção que se encerra com os versos “eu não vou passar batida na festinha”; e foi isso mesmo que rolou: quase duas horas de show, muita performance e improvisação e um show que fica num espaço entre um concerto de rock e uma rave.
Letícia cantou o seu “Noite de Climão” na íntegra, até incluindo algumas das vinhetas especiais que se encontram na versão do Youtube do disco. A sua banda – Arthur Brangati, Martha V, Nathalia Carrera, Lourenço Dias de Vasconcellos e Thiago Rebello – é um elo de força, que cria versões ainda mais intensas das faixas e que se deixa levar pela energia poderosa de Letrux.
A cantora, aliás, encarna uma espécie de persona que fala, conta histórias, faz piadas astrológicas e declama poemas dolorosos (infelizmente, o zum zum zum do público era incômodo nos momentos em que Letícia declamava). De todo modo, a figura teatral e over de Letrux, como que saída de um filme de Almodóvar, é interessantíssima e cativante, do tipo que não se consegue tirar os olhos dela.
A participação da baiana Luedji Luna foi outro ponto alto do show: elas cantaram juntas “Banho de Folhas”, de Luedji, e a quente “Que Estrago”, de Letrux. Além disso, elas ainda tiveram a ousadia de reler “Ex-Factor”, da musa Lauryn Hill: a coragem valeu e as duas conseguiram trazer um vigor à brasileira ao clássico.
Além das canções autorais, Letícia também fez uma homenagem à Madonna, bem a moda Letrux, e ainda cantou a clássica “Porque Te Vas”, canção de José Luis Perales que se transformou em hit na voz da cantora espanhola Jeanette através da trilha sonora do filme “Cria Cuervos” (1976), de Carlos Saura (e conhecida no Brasil por um cover do Pato Fu nos anos 90), numa versão roqueira, trazendo um quê de kitsch ao show.
No final da noite, Letrux se deixou carregar pelas mãos dos fãs, passeando deitada pela plateia, como a coroação de uma estrela – uma deusa, uma louca, uma feiticeira. O show acabou sem bis, mas com palmas e gritos apaixonados de uma plateia heterogênea, que mostra a força do climão de Letícia. O clima geral ao final era de embasbacamento, do tipo “que furacão foi esse?”. Foi uma noite estranhíssima e geral sentiu.
É interessantíssimo como o trabalho de Letrux bateu forte em pessoas tão diversas e de forma tão intensa: o público cantava junto e alto, como mantras de salvação, como canções de amor para não enlouquecer. Como escreveu Carime Elmor em seu texto no Medium, “é um happening Letrux“, uma grande show e também uma grande experiência. O hype é real! Letrux em noite de climão é um dos melhores shows nacionais da atualidade. É festa, celebração, teatro, é cura coletiva. Só tenho a pedir que o climão de Letícia continue a fazer devotos!
– Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites A Escotilha. Escreve para o Scream & Yell desde 2014.
– Carime Elmor é jornalista da Tribuna de Minas e fazedora dos zines Malditas