por Cristiano Castilho
Um encontro. Não programado, mas esculpido nos alicerces sensíveis do que é incondicional e aparentemente invisível. Conforto mútuo que nos desafogue do caos em dias desabitados. A rendição natural a outros suportes e referências que possam, enfim, dar ecos plurais e eternos à criação intransferível. Neste projeto, neste abraço cordial, Isabella Lanave, Elisa Lucinda, Francisco Bley e Victor H. Turezo se uniram para enfrentar o caimento do mundo no esquecimento da distância.
Começa na palavra. O último texto do primeiro livro do poeta Victor, que tragou a solidão quando foi a Buenos Aires. Então, a música de Francisco. Uma pequena orquestra em Curitiba, a melodia ponderada mas também assertiva, diluída na incerteza das coisas. O vídeo de Isabella, realizado numa região que o tempo abandonou em Itajaí (SC), registra uma trajetória íntima e ao mesmo tempo terapêutica. Fátima é mãe de Isabella. Uma protagonista que chamaram bipolar, ensaiada por outros mundos, cuja interpretação é naturalista, sem maquiagem dentro ou fora da cabeça. E então, depois de insistências e desencontros, em Copacabana, no Rio, a conquista da voz rouca de vida de Elisa. Temperos do acaso: a gravação (de primeira) aconteceu no mesmo dia em que Victor lançava seu livro em São Paulo, depois de um longo período numa clínica psiquiátrica.
Foi assim. Um poeta, um músico, uma fotógrafa, uma cantora, uma mãe, o não pertencimento, as ditas doenças da cabeça. “e se me deitasse na tua distância” é um laço no meio da corda que balança. Este projeto coletivo reduz lonjuras por meio do afeto artístico, só possível devido à amizade absoluta. É, na tangência de outro poema de Victor, como se um pássaro perdido encontrasse outro e outro e mais um, e então formassem uma cena extraordinária no céu, visível mesmo no inverno porque é soma, não resumo.
* Isabella Lanave nasceu em 1994, em Curitiba. É fotógrafa e jornalista. Foi citada pela revista Time como uma das 34 fotojornalistas a serem seguidas pelo mundo, em 2017. O foco do seu trabalho hoje são questões relacionadas à saúde mental e de gênero.
* Victor H. Turezo nasceu em 1993, em Curitiba. É poeta e tradutor. Lançou “minha massa encefálica despenca como se de um desfiladeiro” (Patuá, 2017). Estuda Letras Português/Espanhol na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
* Francisco Bley nasceu em 1995, em Curitiba. É músico e compositor. Se interessa pelo interstício do erudito no popular, do digital no analógico e do compartilhado no sozinho.
* Elisa Lucinda nasceu em 1958, no Rio de Janeiro. É poetisa, cantora e atriz. Entre seus livros, destacam-se “A Fúria da Beleza” (Record, 2006) e “Vozes Guardadas” (Record, 2016). Foi premiada pela atuação no filme “A última Estação” (2012). Em 2008, fundou a Casa-Poema, instituição sócio-educativa que utiliza a poesia como método de formação.
* Fátima nasceu em 1965, em Santa Isabel do Ivaí. Estudou Artes Cênicas quando jovem na Pontifícia Universidade Católica do Paraná e é mãe de Isabella Lanave.