2018 é um ano emblemático no coração do fã de Radiohead. Completos nove anos desde a última vinda da banda ao Brasil, muitos fãs que estavam presentes no show de 2009 decidiram ali, naquela ocasião, fazer música, arrancar ideias tortas do papel e dar forma e som a elas. O Radiohead é notadamente uma das principais influências artísticas da nossa época, especialmente para jovens artistas que hoje estão por volta dos 30. Pode-se dizer que é uma entidade do nosso zeitgeist, um farol reluzente no nosso imaginário musical.
É dessa admiração pela banda que os amigos Gabriel Martins, que assina o projeto Filler, e Helder Dutra, que inicia seu projeto-solo Frater Dutra, decidem reviver uma ideia que tiveram há quase uma década:
“A ideia da coletânea vem de 2009, quando o Radiohead veio ao Brasil pela primeira vez. Tentamos organizá-la pela comunidade do Orkut Radiohead Brasil (RHBR), mas na época não deu muito certo. Agora com a volta da banda ao Brasil a ideia foi revivida, somando ao fato de que muitos dos músicos que idealizaram o projeto hoje em dia são mais experientes, possuem carreiras e maior facilidade para gravação e produção.”, conta Gabriel, organizador do projeto. E segue: “Queríamos fazer o projeto com membros da comunidade, como o Gabriel Lana (Dead Ice) e o Felipe Neiva. Com a consolidação da ideia, decidimos convidar para o projeto outros músicos amigos que fizemos ao longo de nossas jornadas. Os critérios eram basicamente dois: a qualidade dos músicos e ser fã de Radiohead.”
Com artistas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, “RAINDOWN” é um apanhado multifacetado repleto de leituras muito distintas das canções da banda britânica. Das levadas suaves do violão de Dead Ice à versão krautrock da Goldenloki, a coletânea se inicia com o indie/pop da leitura de Frater Dutra, passa pelo clima tenso e sombrio de Funeral Wounds, e fecha com a versão totalmente instrumental do compositor carioca Martins.
Cada artista da coletânea se entende como fã e reconhece a força que o Radiohead teve em sua formação musical. Sobre essa influência, os músicos da Varney, banda de art rock do interior do Rio de Janeiro, comentam: “A mudança de paradigma causada pelo Radiohead nos anos 90 foi um dos fatores principais para admirarmos a banda. Saber que não precisamos colocar sempre os mesmos elementos numa música para que ela possa “soar correta” foi libertador’.
Victor Meira, músico das bandas Bratislava e Godasadog, racionaliza: “A mistura perfeita entre a música experimental e o pop acessível é um símbolo do Radiohead. Consequentemente, um ‘estado de graça’ perseguido por muitos artistas e compositores – eu, inclusive! Eles se reinventam e bancam as mudanças de rumo em sua estética musical.”
Rodrigo Lemos, músico e produtor que assina o projeto-solo Lemoskine, comenta sobre a sofisticação da banda: “Acredito que a banda nunca tenha falhado em me presentear com novas sensações e pitadas de – muitos – outros gêneros dentro do seu pop sofisticado. Até as empreitadas jazzísticas-forrozeiras-ravemaníacas; todas elas me conquistam pelo risco… Característica que considero fundamental na Música”. André Graciotti, do projeto cellardor, completa: “Eu adorava a ideia de que a cada novo lançamento eles pareciam nunca se repetir e sempre subvertiam qualquer expectativa”
Já os paulistanos da Goldenloki entendem a banda por um viés bem interessante: “A partir do momento que compreendemos a relação do Radiohead com o movimento do krautrock alemão dos 1970, vimos um peso muito maior na banda. Depois do Kid A, começaram a modernizar o motorik das levadas à la Jaki Liebezeit (baterista do Can) de forma muito original, sem soar datado. A cada álbum tinham pitadas dessa marca e quando saiu o A Moon Shaped Pool, a música que bateu de primeira foi “Ful Stop”, justamente por ter essa cara.”
“RAINDOWN” é um punhado de reinvenções, exercícios criativos sobre o trabalho de uma banda que inspira e encoraja o experimento, o novo, a mistura, a música que quer significar o seu tempo. E agora, depois de poder curtir mais uma vez a presença do Radiohead no Brasil, a coletânea é aquele gole de novidade depois de uma ressaca, pra curar as saudades e mostrar como as canções que amamos podem ser vistas e lidas de formas diferentes.
Tudo na coletânea foi feito pelo próprio grupo: é Chris Kuntz, da Goldenloki, quem assina a masterização das faixas. A obra que ilustra a capa é de Erik Baptista, que toca “Nude” no conjunto. O design gráfico foi feito por Victor Meira, assim como a assessoria de imprensa, que assina em conjunto com Daniel e Nathália Pandeló, da Build Up Media. E todas as decisões foram feitas em conjunto num turbulento – e surpreendentemente organizado – grupo de Whatsapp.
Tracklist:
01 – Frater Dutra – Give up the Ghost
02 – Lemoskine – The National Anthem
03 – Filler – Identikit
04 – Cellardoor – Where I End and You Begin
05 – Victor Meira – Daydreaming
06 – Varney – Motion Picture Soundtrack
07 – Erik Baptista e Matheus Fleming – Nude
08 – Jardim America – Decks Dark
09 – Dead Ice – Spectre
10 – Goldenloki – Ful Stop
11 – Funeral Wounds – Last Flowers
12 – Neiva – A Wolf at the Door
13 – Arlanda – Creep
14 – Arthur Martins – Airbag
01- Frater Dutra – Give up the Ghost (RJ): Frater Dutra é a persona de Helder Dutra (Rio de Janeiro/Brasil). Estudante de alquimia, Helder manipulou nos últimos 14 anos as teclas da Orchestra Binária até que sentiu necessidade de realizar sua opus magnum: transformar as anotações de seus diários de estudo em músicas do projeto Frater Dutra. Iniciado no Hermetismo através da obra Tábua de Esmeraldas, Helder é devoto de Jorge Ben. Seu trabalho traz influências também de trip-hop e electronic-rock. Atualmente está em fase de produção de seu primeiro trabalho sob a nova alcunha, com lançamento previsto para o segundo semestre.
02 – Lemoskine – National Anthem (PR): Lemoskine é o trabalho solo do músico e produtor Rodrigo Lemos. Ex-guitarrista e compositor d’A Banda Mais Bonita da Cidade, Lemos atua na cena independente desde a década passada, se envolvendo também com projetos de teatro e performance no Brasil e no exterior.
03 – Filler – Identikit (RJ): Iniciado em 2014 no Rio de Janeiro, Filler é o projeto solo do músico Gabriel Martins, de rock eletrônico e experimental. Em julho de 2016, lançou o clipe da música Falling Debris, que pertence ao álbum de estreia do projeto, Violence. O álbum foi gravado, produzido e masterizado no Kolera Home Studio, no Rio de janeiro, por Celo Oliveira, com uso de sintetizadores e loops para formar a identidade do projeto.
04 – cellardoor – Where I End and you Begin (SP): cellardoor é a “banda de um homem só” do músico e produtor André Graciotti, capixaba radicado em São Paulo. Situado entre o pop dark-romântico e texturas eletrônicas, Graciotti está sempre buscando canções pop que tenham valor de songwriting e complexidade emocional. Lançou os EPs Random Alarms (2013) e Changing Tides (2015) e colaborou com artistas independentes nacionais (Gimu, Godasadog) e internacionais (Factor Eight, Akina Mckenzie, Sinéad McCarthy).
05 – Victor Meira – Daydreaming (SP): Victor Meira é músico, compositor, escritor e voz da banda de rock alternativo Bratislava e do duo indie/eletrônico Godasadog. Nome forte da cena paulistana, Meira se consolidou como uma das novas vozes do underground brasileiro. Como artista solo, lançou o single “Ciço” em 2016, experimentando uma roupagem pop diferente do seu trabalho em bandas. A versão de “Daydreaming” para a coletânea RAINDOWN será seu segundo lançamento dentro da plataforma solo.
06 – Varney – Motion Picture Soundtrack (SP): Varney e? uma banda de Art Rock de Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. Com um EP homônimo de 2013 e o álbum “Fantasma”, de 2016 (inspirado pelo poema “Tabacaria” de Álvaro de Campos/Fernando Pessoa e pelo niilismo) a banda se destacou no cenário underground nacional. A Varney visita a filosofia, a rispidez das guitarras, as melodias vocais e instrumentais em suas músicas. Atualmente, a banda se prepara para lançar um novo EP e um novo álbum.
07 – Erik Baptista (Estrada) – Nude (MG): Erik Baptista é um cantautor/multi instrumentista de Belo Horizonte, porta voz e fundador do finado Estrada (que teve sua trajetória de 2011 a 2015, com vários eps e singles lançados no decorrer desse período). Atualmente trabalha na produção de seu primeiro disco solo, intitulado MU(n)DO que será lançado no segundo semestre de 2018.
08 – Jardim America – Decks Dark (RJ): A Jardim America foi formada em 2015, primeiramente como um projeto do vocalista Lucas Glicério. Conforme o trabalho foi amadurecendo, o projeto-solo virou banda, com a entrada de Pedro Stelling (guitarra), PC (baixo/voz) e Mariano Barros (Bateria). A estreia da banda foi com o EP “Rosa”, 2016.
09 – Dead Ice – Spectre (SP): Dead Ice é o projeto musical de Gabriel Lana, músico de Diadema (SP). Nos últimos oito anos produziu quatro álbuns: Scatterbrain (2010), Traits (2013), Cosmos (2015) e Humans (2017). Suas influências passam pelo rock psicodélico da MGMT ao electronic-rock britânico da Radiohead. Em 2018 a Dead Ice está em fase de pós-produção de seu novo trabalho, Floating Feathers, que será lançado pelo selo Paracelso Records.
10 – Goldenloki – Full Stop (SP): Goldenloki é um quinteto de rock-kraut-noise de São Paulo-SP formado por Otto Dardenne (voz e guitarra) Chris Kuntz (guitarra) Yann Dardenne (Baixo e voz) Leo Arruda (Bateria) e Thales Castanheira (guitarra). A banda se destaca por mesclar dinâmicas e batidas repetitivas nas composições cancioneiras minimalistas.
11 – Funeral Wounds – Last Flowers (EUA)
12 – Neiva – Wolf at the Door (RJ) NEIVA é o projeto do cantor/ compositor/ produtor/ multi-instrumentista Felipe Neiva (São Gonçalo – RJ). Iniciou seu processo criativo em 2010, gravando suas músicas com um típico microfone de bate-papo dos anos 2000 em seu próprio quarto. Hoje o músico se aventura por caminhos mais expansivos, que pretendem dissolver as fronteiras entre o pop e o experimental.
13 – Arlanda – Creep (MG): Formada pelo músico mineiro multi instrumentista Matheus Pinheiro, em 2014, Arlanda propõe uma abrodagem filosófica sobre a fria vida pós-moderna. Com um som que vai do alternativo ao post-rock, repleto de sintetizadores, guitarras pesadas e paisagens sonoras, sua música é um convite a quem procura uma orientação, um acaso, uma estrela em meio a esta sociedade doente e infeliz. Arlanda tem três EPs lançados: destino (2014), cinesia (2015) e contato (2017).
14 – Martins – Airbag (RJ): Martins é o projeto musical do artista multimeios Arthur Henrique Martins (Rio de Janeiro). Em fevereiro de 2018 lançou o single “Sal, Mercúrio e Enxofre”. Suas principais influências orbitam entre os planetas Madlib, Matt Martians, Marcos Valle e Solange Knowles. Atualmente dirige o selo carioca Paracelso Records e está em fase de produção de seu primeiro álbum.
Ouça também “BR Rainbows”, tributo brasileiro ao álbum “In Rainbows”, do Radiohead
Muito orgulho! Anos e anos lendo o Marcelo e agora tendo esse projeto publicado!