Resenhas por Adriano Mello Costa
“Lembranças”, de Vitor Cafaggi e Lu Cafaggi (Graphic MSP / Panini Comics)
Enfim, chegou o momento dos irmãos Cafaggi se despedirem (pelo menos por enquanto) de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali. Depois de presentearem velhos e novos fãs com “Laços” e “Lições”, dois volumes também lançados dentro do projeto Graphic MSP, agora é a vez do último “L” aparecer e encerrar a trilogia. Lançado no final de 2017 pela Panini Comics com 100 páginas, “Lembranças” apresenta a turminha já se deparando com situações como convívio social, namoricos e aceitação entre os pares, onde a amizade é novamente a força condutora para solucionar os desafios que surgem. Entre a construção de uma nova casa da árvore e a ansiedade e esforço para ir a uma festa daquelas imperdíveis, os autores utilizam personagens do vasto universo criado por Mauricio de Sousa e deixam pelo caminho diversas referências para serem descobertas calmamente. Porém, com o mesmo tom geral das edições anteriores e a arte novamente sendo um dos pontos fortes, “Lembranças” fica aquém dos antecessores. A história, que foca em questões corriqueiras do crescimento das crianças, infelizmente não prende tanto quanto das outras vezes e parece que falta algo que dê aquele charme maior. Não chega a ser ruim, longe disso, mas os Cafaggi nos fizeram acostumar a se esperar sempre algo mais.
Nota: 6
Leia também:
– “Laços” consegue a proeza de fazer adultos sentirem uma prazerosa nostalgia no coração
– “Lições” é para preparar o lencinho, mas também para ficar com um sorriso bobo no rosto
– Entrevista: Sidney Gusman -> “Tem HQ para todos os públicos”
– Entrevista: Vitor Cafaggi -> “Eu adoro ver meus quadrinhos na banca!”
“O Planta – Um Bípede Entre Plantas”, de Gustavo Ravaglio (Independente)
“Os Contos do Planta” de 2015 chamou a atenção logo de entrada pela exuberante capa animada em 3D. O personagem era uma planta que queria mais da vida e com a ajuda de um cientista consegue isso com um corpo projetado para suas aventuras. A obra do escritor e ilustrador curitibano Gustavo Ravaglio era um campo fértil para metáforas sobre a vida real e convencia bastante. Em 2017, Gustavo partiu em uma desafiadora missão e o resultado foi “O Planta – Um Bípede Entre Plantas”, um livro que conta com o apoio de financiamento coletivo além de incentivo cultural governamental. O zelo pela apresentação da edição está ainda mais forte, com capa dura e tintas douradas mais 178 páginas em papel de textura especial, entre outros luxos. Todavia, isso por si só não se sustentaria caso o roteiro não fosse divertido e interessante, o que também é. O protagonista se perde em outro universo e tem que lidar com as mais estranhas figuras para voltar para casa. No decorrer disso – e sem ser piegas, o que é mais importante – se amplificam os questionamentos embutidos e as alegorias que estão escondidas ali no meio dessa jornada com tons de fantasia e ficção científica.
Nota: 8
“Future Quest”, de Jeff Parker (Panini Books)
A DC Comics fundiu-se com a Warner Bros em 1969 e assim que a Hanna Barbera foi adquirida pela Warner em 1996 (em uma fusão da empresa com Ted Turner, dono do Cartoon Network), a DC assumiu os personagens famosos da franquia, e com a morte de William Hanna (2001) e Joseph Barbera (2006), que atuavam como consultores, o estúdio HB deixou de existir fisicamente, mas sua biblioteca de personagens (clássicos que embalaram a infância de tantas pessoas) foi licenciada para novas produções. Nessa toada, a DC resolveu conceber novas histórias em quadrinhos desses personagens fazendo algo como um reboot. O primeiro desses trabalhos foi “Future Quest”, que saiu aqui em duas edições da Panini Books em 2017. Essas edições compilam em 12 revistas e 336 páginas o ano completo publicado nos EUA entre julho de 2016 e julho de 2017. Com roteiro a cargo de Jeff Parker (Shazam!) temos uma história que além de ter muita nostalgia e saudosismo embutidos, consegue a proeza de ir além e faz a aventura valer mesmo até para quem nunca ouviu falar de Space Ghost, Jonny Quest, Mightor, Homem-Pássaro, Herculóides e Os Impossíveis: aqui, a turma da ficção científica da Hanna-Barbera é convocada para cuidar do OMNIKRON, uma entidade poderosa que tem como intuito destruir o mundo. Mesmo usando uma premissa tão clichê em revistas de super-heróis, Jeff Parker consegue criar algo saboroso e viciante. A arte de Evan Shaner, Steve Rude, Ron Randall, Steve Lieber e Ariel Olivetti completam esse quadro em um dos trabalhos mais divertidos que a DC colocou no mercado nos últimos anos.
Nota: 8,5
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br