Resenhas por Adriano Mello Costa
“Lua do Lobo”, de Cullen Bunn, Jeremy Haun e Lee Loughridge (Panini)
Lançamento de 2017 da Panini Comics, “Lua do Lobo” (Wolf Moon, no original) recria o mito do lobisomem que passa a ser uma espécie de entidade que se transfere de corpo em corpo através dos tempos realizando atos horríveis nesse período em hospedeiros que escolhe meramente ao acaso e toma por possessão. Criação de Cullen Bunn com arte de Jeremy Haun e cores de Lee Loughridge, a história passou anos engavetada até que o selo Vertigo, da DC, bancou a aposta em seis edições publicadas no primeiro semestre de 2015 nos EUA. O trabalho recebeu elogios contundentes e desembarcou no Brasil em um encadernado de 162 páginas com direito a esboços como extras. O condutor da história é Dillon Chase que, quando estava possuído pela fera, causou danos mortais a diversas pessoas, inclusive algumas próximas e queridas. A maneira que busca para aliviar toda culpa que carrega consigo é caçar cegamente essa besta pelos quatro cantos do país e quando a grande chance surge, Dillon descobre que outros estão interessados na questão, o que dificulta muito mais as coisas. Com bom ritmo, arte funcional e cores bem adicionadas, “Lua do Lobo” é uma boa HQ, mas distante dos grandes elogios que recebeu.
Nota: 6
“O Sinal”, de Orlandelli (Jupati Books)
Afrânio sempre esperou que a vida lhe proporcionasse algo mais. Parado no quarto já no alto dos 40 e poucos anos e levando uma vida sem muita graça, continua esperando que em um dia qualquer por algum desmando do destino sua existência sofrerá uma drástica guinada e enfim será um protagonista no mundo. Quando sonhos estranhos começam a invadir as noites, Afrânio entende isso como a mensagem que aguardou por tanto tempo e passa a tomar atitudes que levarão as coisas por outro caminho. De início até que essas decisões remetem a coisas positivas, no entanto, depois tudo fica nublado. “O Sinal” é mais um bonito trabalho do quadrinista, cartunista e ilustrador Orlandelli (de “Grump” e “Chico Bento: Arvorada”). Com 96 páginas, “O Sinal” foi lançado na CCXP 2017 através da Jupati Books, selo da Marsupial Editora. Como de costume, Orlandelli mescla vida real e questões imaginárias para gerar uma história que pode ser entendida de outras formas e maneiras. Com o traço sempre agradável e a ótima maneira que direciona as cores, mantêm a sensibilidade ali escondida no meio do caos enquanto versa sobre a relação de cada um com as conquistas, anseios, ambições e decepções que norteiam a estrada que percorremos diariamente.
Nota: 7,5
“Castanha do Pará”, de Gidalti Jr. (Independente)
Recentemente envolvida em uma polêmica de censura por sua capa num Shopping em Belém, “Castanha do Pará” venceu o tradicional Prêmio Jabuti em 2017 (no ano que a premiação incluiu a categoria de quadrinhos entre os laureados). Produção independente do professor e artista visual Gidalti Jr. que foi financiada através de crowdfunding, “Castanha do Pará” tem 84 páginas, capa dura e formato grande (22,5 x 30,5cm). Nascido em Belo Horizonte, mas criado em Belém, o autor criou uma fábula suja e atual que pode ser visualizada em qualquer estado do país além do mercado do Ver-O-Peso, onde passa a maior parte da história. Castanha é um garoto que vive na rua, completamente marginalizado e sem suporte. Deixou a família para trás depois de uma tragédia praticamente anunciada e se vira entre as vielas do bairro da Cidade Velha. Com arte esplendorosa, toda pintada em aquarela e com as cores vibrantes tão presentes na cidade, o trabalho foi inspirado na obra “Adolescendo Solar”, de Luizan Pinheiro. A narração feita por uma vizinha em conversa com a polícia acrescenta tons de humor a um drama real que conta com o descaso do poder público para se alongar acintosamente nos últimos anos não somente na vida do imaginário Castanha com sua cabeça de urubu, mas também em inúmeros outros jovens arremessados a própria sorte por aí.
Nota: 8,5
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br