por Herbert Moura
A história da música está cheia de artistas talentosos que, por algum motivo, acabam esquecidos ou se afastam da indústria. É o caso de Gomo, um fenômeno singular da música indie pop portuguesa da década passada, que com seu primeiro disco deixou o país inteiro cantando suas músicas com os vidros do carro abertos. Mas depois veio um segundo disco só em 2009, e desde aí Gomo nunca mais lançou outro trabalho.
De seu nome Paulo Gouveia, natural da cidade de Caldas da Rainha (situada a 90 quilômetros de Lisboa), Gomo lançou seu primeiro álbum, “Best Of”, em 2004. Todo cantado em inglês, o nome deste primeiro álbum mostrava que esse artista ia por um cânone diferente dos demais: quando todos lançam álbuns “Best Of” em fases avançadas de suas carreiras, muitas vezes como forma de conseguir uma renda extra com conteúdo já existente, Gomo preferiu dar este nome típico a seu disco de estreia. Afinal, aquele conjunto de músicas era o melhor que ele tinha para oferecer a seu público; então, por que não se chamar “Best Of”? Como ele próprio falou na época, era uma forma de brincar com ele mesmo.
E essa não era a única nota humorística de todo o projeto. Afinal, ele tinha participado de uma banda chamada Orange (“Laranja”); aí, quando começou trabalhando sozinho, fazia sentido que virasse o gomo dessa laranja.
Sua apresentação à indústria também foi bem fora do comum. Ele começou enviando seus trabalhos para rádios portuguesas em 2001, mas sem se identificar; apenas com uma nota agradecendo a inspiração e esperando que gostassem. Sua música virou famosa sem que ele mesmo percebesse. Mas em breve a fama chegou e ele começou trabalhando com Mário Barreiros, um dos produtores portugueses mais respeitados, que tinha trabalhado antes com os Silence Four, recordistas de vendas. O sucesso chegou quase como se Gouveia jogasse em cassinos e acertasse no jackpot.
Canções como “Feeling Alive” (assista ao clipe abaixo) pretendiam que as pessoas se sentissem bem consigo mesmas e com a vida. Gomo falou mais tarde que pretendia que sua música fosse ouvida por quem vê a vida de forma menos séria e mais alegre, e que pessoas sérias não iriam gostar dele. Em 2009, seu segundo álbum, “Nosy”, não teve a mesma recepção calorosa do primeiro, mas recebeu alguns elogios e rendeu um grande turnê pelo país. Em “Nosy”, Gomo apresenta não só uma nova estética musical como gráfica, em um trabalho que o músico considerou mais madura. O single “Final Stroke” (vídeo abaixo) dá uma ideia da evolução do músico.
Em 2009, Gomo foi escolhido para abrir os shows do Depeche Mode no país e visitou os Estados Unidos para shows e entrevistas (o álbum anterior havia rendido colaborações com marcas como Nike e iPod Nano), mas o disco não conseguiu o mesmo sucesso de “Best Of”, que permanece como o grande feito de Gomo para a nova música portuguesa. Paulo Gouveia fundou e, atualmente, é o “digital manager” da gravadora Moon Records. Mesmo se não está previsto que Gomo regresse às gravações e aos palcos, essa porta estará sempre aberta, pois ele continua bem ligado à indústria musical. Confira três clipes abaixo!