por Marcelo Costa
Começando por São Paulo, mais precisamente por São Miguel Arcanjo, casa da Cervogia, com a nona cerveja deles por aqui, e a terceira American Pale Ale: primeiro foi a AP 03, depois a AP 11 e agora chega a AP 12, com adição de polpa de Cambuci, numa parceria da cervejaria com o Instituto Manacá, organização sem fins lucrativos de fomento à conservação da natureza, no geral, e da Mata Atlântica, em especial. De coloração dourada com creme branco majestoso de bela formação e longa retenção, a Cervogia AP 12 exibe um aroma com percepção clara de Cambuci, que encanta no meio de um perfil levemente cítrico e maltado. Na boca, doçura maltada e intenso Cambuci ao lado de um leve cítrico no primeiro toque. A textura é suave com uma leve picância, mas que vai se tornando cremosa. Dai pra frente, uma bela APA frutadissima, com o Cambuci comandando a experiência. No final, doçura da fruta e um leve cítrico. Já o retrogosto acrescenta refrescancia, maltado e Cambuci. Ótima!
De São Miguel do Arcanjo para Várzea Paulista, casa da Dádiva, onde são fabricadas as cervejas da Tito Bier. Depois da Trotsky Red Ale, da Goethe Kolsh, da Rosa Altbier e da Thoreau APA, agora é a vez da Marx Red IPA, cuja receita une os maltes Pilsen, Maris Otter, Carared, Cristal Dark, Cristal 120 e Chateau Arome com os lúpulos Summit, Chinook e Citra. De coloração âmbar acastanhada com creme branco de boa formação e média alta retenção, a Tito Marx exibe um aroma com doçura caramelada e notas cítricas (laranja) em destaque sobre uma base maltada. Na boca, doçura caramelada com leve cítrico no primeiro toque seguida de amargor marcante (60 IBUs) e mais notas cítricas (mais laranja). A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente surge uma Caramel IPA mais amarga (e American IPA) do que a maioria encontrada no mercado brasileiro, e, por isso, melhor. No final, amarguinho leve e caramelo. No retrogosto, cítrico, caramelo e amargor suave. Boa.
De Várzea Paulista para Vista, na California (ainda que a cervejaria seja de North Carolina), onde são produzidas as cervejas da Mother Earth Brewing, para a terceira dos caras a passar por aqui (depois da Cali’ Creamin’ e da Sin Tax): Say When, uma West Coast IPA tradicional, de coloração âmbar caramelada e creme bege clarinho, quase branco, de boa formação e média alta retenção (com direito a rendas belgas ao redor da taça). No aroma, doçura caramelada e herbal (pinho) em primeiro plano, disputando a atenção do bebedor. Ainda é possível perceber leve acento cítrico (manga, toranja, laranja) no conjunto. Na boca, herbal (pinho) e cítrico (toranja) intensos no primeiro toque, seguido por doçura caramelada, frutado e amargor bem suave, mas presente. A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente surge um conjunto que equilibra muito bem a doçura maltada com as variáveis herbais e cítricas da lupulagem. No final, leve cítrico puxado para toranja. No retrogosto, herbalzinho (pinho) e cítrico (toranja).
Mantendo-se ainda nos Estados Unidos, mas agora no Michigan, casa da mítica Founders, com a Green Zebra, Gose com adição de melancia e sal marinho e produzida em edição limitada para o ArtPrize, uma competição de arte internacional independente que acontece no Estado. De coloração dourada ainda que levemente turva e creme branco de baixa formação e rápida dispersão, a Founders Green Zebra exibe um aroma incrível dominado por… melancia, claro. Há, ainda, leve doçura que remete tanto a trigo quanto a caramelo. Na boca, melancia rápida no primeiro toque e sal suave na sequencia, acompanhado de melancia e doçura (de trigo e caramelo). A textura é levemente frisante. Dai pra frente destaque a doçura da melancia e o sal marinho, que consegue se destacar no conjunto sem assustar o bebedor incauto. No final, acidez leve e salgadinho. No retrogosto, doçura de melancia, caramelo e leve sal. Delicinha.
Dos Estados Unidos para a Bélgica com uma poderosa Imperial Saison da De Struise Brouwers, a 15ª cerveja dos belgas a passar por aqui, desta vez em colaboração com a turma do Monks Cafe & Brewery, de Estocolmo (que também já tiveram três de seus blends desbravados aqui). Com 11% de graduação alcoólica, a De Struise Aestatis 2015 exibe uma coloração acobreada com creme bege claro de boa formação e média retenção, a De Struise Aestatis exibe ao nariz um aroma com bastante doçura caramelada embebida em álcool e condimentação sugerindo melaço e frutas escuras e cristalizadas. Na boca, a picância de álcool chega antes do que qualquer outra coisa no primeiro toque seguida de doçura caramelada, discreto amadeirado e mais (e mais e mais) álcool. A textura é inicialmente bastante picante (de álcool), depois vai se tornando licorosa (ainda que picante). Dai em diante, uma cerveja extrema que parece fugir ao alto padrão de qualidade da Struise, com álcool assertivo e incomodo, muito caramelo, mel e melaço, e um tiquinho de madeira e frutas. No final, mel e álcool. No retrogosto, álcool.
Mantendo-se na Bélgica (onde a cervejaria foi fundada e se localiza a matriz, ainda que essa cerveja seja produzida na fábrica da Carlsberg, na França) com mais uma Grimbergen a passar por aqui (após outras quatro num tour anterior): a Cuvée Blanche, uma Witbier muito mais para (a estadunidense) Blue Moon do que para (a belga) Hoegaarden. De coloração amarela com creme branco de boa formação e média retenção, a Grimbergen Cuvée Blanche apresenta um aroma com notas frutadas remetendo a banana e condimentação (semente de cravo) em destaque sobre uma base que ainda traz caramelo suave. Na boca, banana e condimentação no primeiro toque com leve acidez e refrescancia na sequencia (com os 6% de álcool deixando-a um tiquinho mais pesada do que deveria). A textura é suave e levemente picante. Dai pra frente surge uma Witbier a meio caminho pruma Blond Ale querendo ser Saison. O final é leve e picantezinho. No retrogosto, condimentação, banana e caramelo. Boazinha.
Da Bélgica para a Alemanha com minha primeira Brauhaus Riegele, cervejaria clássica de Augsburg fundada em 1386, que marca presença com sua tradicional Hefeweisse de coloração amarela e creme branco majestoso de excelente formação e longa retenção. No nariz, notas clássicas sugerindo frutado (banana), condimentação (semente de cravo) e doçura (trigo) além de um discreto e delicioso toque cítrico. Na boca, frutado sugerindo banana e laranja com predominância da primeira no primeiro toque seguido de condimentação suave e um toque mineral saboroso. A textura é cremosa com leve picância e, dai pra frente, surge um conjunto bem equilibrado nas qualidades de uma Hefeweisse, com banana enfim superior, mas a laranja dá um jeitinho que mostrar presença em meio ao cravo e ao trigo. No final, condimentação bem suave dando a letra. No retrogosto, mais trigo do que banana com uma pitada de cravo. Boa.
A segunda alemã é obra do mestre-cervejeiro Sebastien Sauer, responsável pela linha sensacional da Freigeist e também pela The Monarchy, que marca presença aqui com sua Kölsch, uma receita que busca recriar um estilo clássico da cidade de Colônia, produzido com direito a selo de autenticidade por cerca de 20 cervejarias locais, mas que nesta reinterpretação personal inclui dry-hopping e não passa pelo processo de filtragem tradicional do estilo. O resultado é uma cerveja de coloração (mais) dourada (que as versões tradicionais) com creme branco de boa formação e média alta retenção. No nariz, uma percepção agradabilíssima de malte e cereais com leve aceno herbal e sugestão de hortelã. Na boca, doçura e cereais no primeiro toque com leve amargor herbal na sequencia. A textura é cremosa e, dai pra frente, cereais e herbal se destacam em um conjunto que consegue trazer refrescancia sem abdicar do sabor. No final, doçurinha maltada e leve herbal apaixonante. Já o retrogosto reforça a sensação herbal. Muito boa!
Da Alemanha para a Inglaterra (ainda que com inspiração belga: segundo o rótulo: Inspired by Belgium, Made in England) com a segunda cerveja do Iron Maiden a passar por aqui. Após a The Trooper Premium British Bitter agora é a vez da Trooper Hallowed Belgian Ale, que, assim como a anterior, é produzida pela cervejaria britânica Robinson’s. De coloração âmbar translucida e creme bege claro de boa formação e média retenção, a Trooper Hallowed exibe um aroma maltado, caramelado, com notas herbais e banana bastante presente. Há, ainda, leve sugestão de toffee, canela e de ameixa. Na boca, toffee, caramelo e ameixa chegam juntos no primeiro toque. Na sequencia, a doçura aumenta levemente até o amargor, baixo, dar um basta. A textura é levemente metálica, mas vai se tornando suave. Dai pra frente surge um conjunto que deseja ser belga, mas ainda assim carrega muito das Ilhas Britânicas em seu perfil melado e herbal. No final, toffee, herbal e mineral. No retrogosto, caramelo, canela e leve herbal. Boa!
Fechando a série com uma novidade da Fuller’s que chegou ao mercado em 2017: Frontier New Wave Craft Lager, tentativa do mestre cervejeiro da casa, Rob Topham, de ampliar os limites do estilo lager (e, também, de fazer uma cerveja altamente vendável, claro). De coloração muito mais para o dourado do que para o âmbar (em alguns lugares ela está classificada como Amber Lager, um erro) com creme branco de boa formação e média retenção, a Fuller’s Frontier New Wave Craft Lager exibe um aroma com fácil percepção de cereais, palha seca, grama e notas herbais além de leve caramelo. Na boca, doçura maltadinha com leve percepção de cereais no primeiro toque. A textura é suave e vai ficando meladinha. Dai pra frente, refrescancia, amargor bem baixinho, doçura média e cereais. No final, doçura e pinho suaves. No retrogosto, cereais, maltadinho, caramelo, e refrescancia. Uma cerveja ok!
Balanço
Minha nona Cervogia, a AP 12, com adição de Cambuci, é uma delicia! A fruta tem presença marcante no conjunto, sem, no entanto, desvirtua-lo. Excelente. Já a Tito Marx Red IPA é uma boa Caramel IPA, doce e amarguinha. A Mother Earth Brewing Say When é uma West Coast tradicional, ok para o estilo, mas que não traz tantas novidades. Diferente, a Founders Green Zebra consegue um excelente resultado com uma gose com sal marinho e melancia. Ficou um delicinha. Já decepção foi essa De Struise Aestatis, uma Imperial Saison de 11% que poderia facilmente se passar por uma Malt Liquor, com o álcool atrapalhando (e muito) a experiência. Melhora um tiquinho quando aquece, mas, ainda assim, decepção. A witbier da Grimbergen é quase um meio do caminho entre uma Kristall Weiss e uma Wit, com banana roubando o destaque que deveria ser do limão (ou da laranja). Boa, ainda assim. Já a Riegele Hefe é uma Weiss clássica, mas com um toque cítrico bem agradável. Ótima para variar. Já a Kölsch da The Monarchy é uma recriação tão caprichada que soa a melhor Kölsch que já bebi na vida. Uma delícia. Fechando na Inglaterra primeiro com a The Trooper Hallowed, uma Belgian Ale inglesa bem mineral, com doçura maltada e até uma bananinha. Fechando a série, a Fuller’s Frontier New Wave Craft Lager é uma Premium Lager bacaninha. Simples e eficiente.
Cervogia AP 12
– Estilo: American Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 5.5%
– Nota: 3,45/5
Tito Marx Red IPA
– Estilo: American India Pale Ale
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3,25/5
Mother Earth Brewing Say When
– Estilo: American India Pale Ale
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 7.5%
– Nota: 3,25/5
Founders Green Zebra
– Estilo: Gose
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 4.6%
– Nota: 3,44/5
De Struise Aestatis
– Estilo: Farmhouse Ale
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 11%
– Nota: 3,01/5
Grimbergen Cuvée Blanche
– Estilo: Witbier
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,04/5
Riegele Hefe Weisse
– Estilo: Hefeweizen
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5%
– Nota: 3,09/5
The Monarchy Kölsch
– Estilo: Kölsch
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 4.9%
– Nota: 3,49/5
The Trooper Hallowed
– Estilo: Belgian Ale
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 6%
– Nota: 3,03/5
Fuller’s Frontier New Wave Craft Lager
– Estilo: Premium Lager
– Nacionalidade: Inglaterra
– Graduação alcoólica: 4.5%
– Nota: 2,99/5
Leia também
– Top 2001 Cervejas, por Marcelo Costa (aqui)
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