1por Marcelo Costa
A cervejaria DUM nasceu de forma caseira em Curitiba em julho de 2010 quando Luiz Felipe Camargo Araujo, Murilo Henrique Marecki Foltran e Julio Amorim Moutinho (da esquerda para a direita na foto acima) investem numa panela de 117 litros e produzem a primeira cerveja DUM, a John Wayne. No mesmo mês é feita a primeira brasagem da Petroleum. “Foi a nossa segunda receita, que exageramos ‘um pouco’ na quantidade de malte e demorou 12 horas pra filtrar”, eles contam no site oficial. O boca a boca em torno da excelência da DUM Petroleum correu solto no meio cervejeiro, e a mineira Wäls fez uma oferta de contrato para produzir a cerveja em grande escala. Logo a Petroleum se tornaria não só uma das melhores cervejas nacionais, mas também um ícone com direito a documentário.
Sim, documentário. Financiado por crowdfunding, o filme “O Petroleum é Nosso: A Ebulição da Cerveja Artesanal no Brasil” (2018), dirigido por Luiz Felipe é um importante registro da evolução da cena cervejeira artesanal no país. A DUM seguiu fazendo a sua Petroleum e também a Jan Kubis, a Grand Cru e Karel IV além de versões experimentais da Petroleum, que renderá cervejas incríveis maturadas em barris de madeiras diferentes, ou com adição de baunilha e, mais recentemente, chipotle. Em 2015 surge a Resistência Cervejeira de Curitiba, união de seis cervejarias (Pagan, F#%*ing Beer, Tormenta, Gauden e DUM) que produzem seus rótulos no mesmo local (a Gauden Bier) visando ampliar o portfólio e facilitar a distribuição.
Visando divulgar as novidades da Resistência Cervejeira, Luiz Felipe esteve em São Paulo em fevereiro para apresentar à imprensa sete rótulos que são lançamentos da turma (DUM Powstanie Warsawskie, DUM Petroleum Chipotle, DUM Baltik Porter, Tormente Gengibéra, F#%&ing Bier Bro, Pagan Valkyrie’s Bless Berries e Pagan Warriors of Scotland: conheça todos aqui), e aproveitou para falar sobre o lançamento do documentário “O Petroleum é Nosso: A Ebulição da Cerveja Artesanal no Brasil” (que você pode assistir na integra abaixo), do processo que a DUM está movendo sobre a Wäls alegando quebra de contrato, e do DUM DAY 2018. Confira.
Para começar seria legal que você falasse um pouco sobre a Resistência Cervejeira de Curitiba…
A Resistência Cervejeira surgiu em 2015 e é composta pelas cervejas que são produzidas dentro da Gauden Bier (no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba): são elas Pagan, F#%*ing Beer, Tormenta, Gauden e DUM. A ideia surgiu da necessidade de viabilizar a comercialização dessas cervejas, pois com todo o portfólio dessas cervejarias nós acabamos tendo um leque de opções bem grande para atender vários estilos, vários padrões de cervejas e diferentes níveis alcoólicos e de amargor, e conseguimos preços mais viáveis (apesar de toda carga de impostos) para atender o mercado.
Após um longo período de produção vocês estão liberando o documentário “O Petroleum é Nosso: A Ebulição da Cerveja Artesanal no Brasil”, que pode ser assistido no Youtube ou mesmo no vídeo acima, nesta entrevista, e que fala sobre a criação de uma das cervejas míticas não só do portfólio da DUM, mas do imaginário cervejeiro nacional. Como foi fazer o documentário?
A gente fez o filme através de financiamento coletivo, que foi aprovado em 2014. A partir desse momento, a ideia inicial, que era de fazer um filme mais de edição, acabou se transformando. Porque todo o material de arquivo que nós tínhamos era muito datado. Havia entrevistas no meio de festivais, festas cervejeiras, degustações, mas era todo um material que não permitia aprofundar analises de todo o mercado cervejeiro, de tudo que tinha acontecido antes e do que veio depois, e do futuro. E nós queríamos fazer essas análises. Sou formado em Cinema pela FAAP, de São Paulo, e desde sempre estava ali no meio captando esse material de vídeo. O processo então foi traçar um perfil das entrevistas, fazer um roteiro e planejar uma busca pelas principais pessoas que deveriam ser entrevistadas. E colocar tudo isso numa linha do tempo. Só por ai já estouramos o prazo inicial que tínhamos dado para o financiamento coletivo. Levou muito mais tempo do que a gente havia acordado.
Esses projetos costumam sempre levar um pouco mais de tempo do que o planejado…
Até porque a equipe era bastante enxuta. Muitas das coisas foram eu e o roteirista que ficamos dias e dias assistindo o filme, pensando, lendo, decupando. Contratamos uma pessoa só para fazer a transcrição das entrevistas para termos todas as entrevistas, páginas e mais páginas, de fácil acesso para procurar trechos por palavras chave. O roteiro foi montado baseado nessas entrevistas e é um roteiro bem solido, assinado por um roteirista profissional, o Fernando Marés de Souza, cuja profissão regular é escrever longa-metragem (e é meu amigo, ainda bem – risos). No fim das contas, “O Petroleum é Nosso: A Ebulição da Cerveja Artesanal no Brasil” consegue retratar a evolução do mercado cervejeiro a nossa volta. A nossa pretensão nunca foi contar a história da cerveja no Brasil, mas sim contar uma história que aconteceu em volta da gente. Porque a medida que nós fomos nos inserindo no mercado, a gente foi conhecendo outras pessoas, e elas foram entrando no filme. E o filme começa desde a história de descobrir como fazer cerveja em casa: Quem eram as pessoas que vendiam insumos? Como nós conseguíamos comprar insumos? Reunindo-se e comprando juntos, e dai nascem as ACervAs (Associação dos Cervejeiros Artesanais). Em Curitiba, esse local era a Bodebrown, que vendia tudo para o cervejeiro caseiro, e nesse momento do filme entra o Samuel Cavalcanti contando como a Bodebrown surgiu. Depois nós vamos para o Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau, 2010, o primeiro festival brasileiro dessa nova onda. Lá a gente conheceu o Marcelo Carneiro, da Cervejaria Colorado, e ele conta a história de como a Colorado surgiu. É um filme bem dinâmico nesse sentido. Conta a história com lógica basicamente desde 2007 e conseguimos perceber uma mudança no mercado.
Qual o ciclo que o filme abrange?
De 2007 a 2015, mais ou menos. São cerca de 60 entrevistados, foram muitas cervejarias do Brasil inteiro, muitas mesmo. Tem as histórias do surgimento da Baden Baden, da Eisenbahn, da Wäls, várias… tudo isso na tentativa de traçar um paralelo da história recente da cerveja artesanal no Brasil. Mas quando a gente estava com tudo praticamente definido, com as entrevistas feitas, houve a venda da Wäls para a Ambev. Percebemos que iriamos precisar repensar o filme um pouco mais. Até porque tomamos outra postura como empresa em relação a essa venda, e deixamos para revelar isso no filme: estamos processando a Wäls. Consideramos que a venda da Wäls para a Ambev é uma quebra de contrato da Wäls com a DUM e queremos que eles deixem de produzir a Petroleum. Além disso tem os diversos usos da fórmula sem dar o devido crédito à DUM e o repasse da fórmula a terceiros. É um processo que está rolando desde 2015. Isso está no filme porque achamos que seria a melhor forma de expor nossa opinião sobre essa história. É a parábola que o Pete Slosberg faz no filme, somos o Davi lutando contra Golias.
E vocês seguem investindo em diversos experimentos com DUM Petroleum, que agora chega em garrafa na versão Chipotle. Como vocês chegaram a essa receita?
Sempre curtimos brincar com a Petroleum, como se ela fosse o branco e a gente colocasse algo sobre ele (risos). Desde 2015, quando a gente já estava na produção do filme, resolvemos promover esses experimentos e fizemos 10 versões (diferentes!) da Petroleum. E de lá pra cá a gente já fez cerca de 20 versões, entre várias experimentais. A gente começou com as versões em barris de madeira: Carvalho Francês, Castanheira e Amburana, os três após maturar a cachaça Porto Morretes, considerada a melhor cachaça do Brasil. Além das três em garrafa, versão regular, temos a Petroleum Baunilha (com baunilha de Uganda!) e, agora, a Petroleum Chipotle, que acabou surgindo no verão. Fizemos um comercial brincando com essa história de cerveja refrescante para o carnaval, só que a nossa tem 12% de álcool e, ainda por cima, pimenta (risos).
E não é pouca pimenta (risos)…
A ideia da Petroleum Chipotle é agradar quem gosta de pimenta. A gente não espera que quem não goste de pimenta vá atrás de uma cerveja com pimenta. Então a pimenta não é sutil, ela está bem presente. A Chipotle já tem uma pegada mais forte e também traz um pouco do defumado. Porém, ao mesmo tempo em que ela tem uma pegada bem boa de pimenta, a gente também fez ela pensando no drinkability, então não pense que ela é só pimenta. É como diz a descrição no nosso site: “É para quem ama Petroleum e pimenta”.
Novidades sobre o DUM DAY 2018?
O DUM DAY é a celebração do nosso aniversário, a ocasião em que a gente faz uma festa e convida os nossos amigos que fazem cerveja. A ideia sempre é promover as cervejas que normalmente não vão pra Curitiba, sempre levar rótulos exclusivos, o que é cada vez mais difícil porque Curitiba tem uma cena de bares cervejeiros muito ampla, e as novidades sempre estão chegando. Mas vão surgir novas colaborativas (até temos algumas reuniões aqui em São Paulo). No DUM DAY trabalhamos com doses de 150 ml, cada pessoal recebe um copo na entrada que está incluso no ingresso, justamente para que as pessoas possam provar o maior número de rótulos – claro, se ela não quiser provar, ela pode ficar tomando o mesmo rótulo, cada um no seu direito. Não é open bar, assim a gente acha que é uma forma mais consciente de consumo (em 2017 foi de R$ 3 a R$ 15). Todas as cervejas são escolhidas por nós, nós juntamente com a Nazdaróvia é que organizamos todo o evento. O local está confirmado, será o mesmo das últimas três edições, o Museu Oscar Niemeyer. A data será 21 de julho. Sempre buscamos fazer na data mais próxima do aniversário da DUM, que é 20 de julho, e que também é o Dia do Amigo.
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne
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