entrevista por Homero Pivotto Jr.
Formado em 2003 em Buenos Aires, o quarteto Cruzas começou tocando pelo circuito underground da zona sul da capital argentina, mas logo mostraria apreço pela estrada em turnês nacionais enquanto os lançamentos progrediam: entre 2008 e 2012, o Cruzas lançou três EPs (“Viaje al Exilio”, “En Búsqueda” e “De Una Vida”); o quarto registro, “El Zimple”, ganhou as redes em 2013 e o final de 2017 viu o nascimento de “Volumen 5”, o primeiro álbum cheio, que também ganhou edição em vinil e está disponível no Bandcamp.
Em março deste ano, entre os dias 7 e 18, a Cruzas embarca em uma verdadeira cruzada para divulgar seu som pelo Sul do Brasil. O quarteto argentino cruza a fronteira e percorre, de carro, mais de mil e trezentos quilômetros para apresentar uma sequência de shows em Porto Alegre e cidades próximas. A feita marca a primeira gira internacional do conjunto e a bagagem vem recheada com o peso do som que caracteriza o grupo, um rockão de inclinações setentistas com cruzamento de doom metal e de blues.
Em um dia de semana, após o tradicional ensaio, Tacho (voz), Ale (guitarra), Leo (bateria) e Wilson (baixo) responderam às perguntas da entrevista a seguir, feita para divulgar a turnê em solo gaúcho que recebeu o carinhoso nome de “Guillotina Tour — Brasil 2018”. A história do quarteto, as influências e o porquê de tocar na área metropolitana da capital da antiga província de São Pedro do Rio Grande do Sul são alguns dos assuntos abordados.
Por favor, conte um pouco sobre a história da Cruzas: como se formou, a trajetória de 15 anos, os momentos mais importantes da carreira…
Ale e Tacho formaram a Cruzas em 2003. No começo, a banda tocou muito pelo circuito underground da zona sul da grande Buenos Aires. Em 2007, fizemos a primeira turnê nacional. Já entre 2008 e 2012, gravamos três EPs que são parte de uma trilogia (“Viaje al Exilio”, “En Búsqueda” e “De Una Vida”). Também passamos pela costa atlântica da Argentina. Em 2013, Wilson entrou para o baixo e gravamos o quarto EP, “El Zimple”, já com maturidade sonora. Além disso, tocamos pela capital federal e pelo interior da província. Em 2016, Leo assumiu a bateria e, em 2017, gravamos “Volumen 5”. Nesse mesmo ano abrimos o festival B.A Rock e continuamos tocando pelos bairros de Buenos Aires.
A banda é a atividade principal dos integrantes? Caso não, como dividem o tempo entre trabalhos ‘normais’, família e a dedicação à Cruzas?
Em geral, ensaiamos duas vezes por semana, depois de nossos trampos. Tentamos dedicar o maior tempo disponível que temos para tocar, ensaiar e organizar as coisas da banda.
Quais são as influências de cada integrante? E quais dessas bandas podem ser consideradas referências que ajudaram a moldar o som da Cruzas?
As influências individuais:
Tacho: Pappo’s Blues, Judas Priest, AC/DC, Pink Floyd e Spinetta.
Wilson: Melvins, Black Flag, Mudhoney e Ramones.
Leo: Soundgarden, NY Dolls, Wu Tang Clan e Rolling Stones.
Ale: Black Sabbath, Earth, Pentagram e Cathedral.
O som da Cruzas, como grupo, está moldado principalmente por Black Sabbath, Pappo’s Blues e o rock dos anos 90. Pelo menos acreditamos nisso! heheheh
Os membros da banda eram parte do mesmo cenário musical ou vieram de diferentes estilos, de backgrounds distintos?
Nos conhecemos de galeras distintas e de nos cruzarmos em shows e pela noite. Wilson toca em uma banda (Aire) que fez diversos shows com a gente. Já o Leo a gente conheceu indo curtir algumas gigs.
Como se definiu o som da banda? Desde o começo a ideia era fazer um rock pesado, misturando metal — principalmente o doom — e acrescentando elementos do blues?
Desde o princípio queríamos fazer stoner rock. Era 2003, Ale e Tacho vinham curtindo thrash local. Mas o mambo psicodélico sempre esteve presente. Atualmente, com a troca na formação, nos atiramos mais para o doom, o hardcore e as sonoridades mais alternativas.
No Brasil há uma onda de stoner e sons similares. E na Argentina, como está o cenário para esse tipo de música?
Existe uma cena bem grande, com muitas bandas e lugares para tocar. Desde o fim dos anos 90 existem vários grupos desse estilo. E ultimamente as novas gerações parecem ter essa influência.
Que bandas conhecem e gostam aqui do Brasil? E do sul do país, tem algum artista que curtam?
Do Brasil, tem Sepultura, Forgotten Boys, Os Mutantes, Ratos de Porão, Hermeto Pascoal, Fuzzfaces e Muzzarelas. Do sul, a Motor City Madness e a El Negro.
Parece haver um cuidado com a produção dos discos da Cruzas. Vocês realmente pensam em apresentar um trabalho bem feito? A intenção é mesmo primar por materiais com qualidade, e não apenas gravações feitas de qualquer jeito?
No último disco, e com o impulso da nova formação, tivemos essa possibilidade de gravar em um estúdio bom. Ficamos muito satisfeitos com o resultado. Nos pareceu que era uma boa lançar o disco em vinil. Antes, fizemos alguns EPs. O “Volumen 5” é o primeiro álbum completo.
“Volumen 5” é o primeiro que vocês disponibilizam em vinil? Por que gostam desse tipo de mídia física? O registro foi pago pela própria banda, de maneira independente, ou há algum selo envolvido?
Sim, é o primeiro nesse formato e foi feito 100% independente. As capas foram impressas em serigrafia, uma a uma (de um total de 300). É uma mídia que sempre gostamos e, dessa vez, tivemos a possibilidade de fazer exemplares. Até porque o som do disco novo está muito bom! O vinil tem mais corpo, realça as frequências e é único formato físico que teremos disponível.
O título “Volumen 5” remete ao clássico “Vol. 4”, do Black Sabbath. Sendo o quarteto inglês influência declarada da Cruzas, seria o nome do novo registro uma espécie de homenagem aos ídolos?
Sim, todos gostamos de Black Sabbath e é uma homenagem aos caras. “Vol. 4” é um disco emblemático deles, mas não sei se o nosso favorito. E, além disso, foi um jeito bacana de nomear nosso trampo, pois, depois de quatro EPs, ele é o quinto disco. Então, “Volumen 5”.
Essa é a primeira tour internacional da Cruzas. A opção pelo sul do Brasil foi pela proximidade geográfica com a Argentina ou há outras razões?
Conhecemos os amigos da El Negro, pois dividimos alguns shows na Argentina. Então, eles nos convidaram para ir tocar aí. Tacho esteve de férias pela cidade e conheceu a movimentação roqueira de Porto Alegre. Ele gostou bastante, pois a cidade é bem rock’n’roll.
Há planos de fazer giras em outros estados do Brasil ou mesmo em outros países?
Sim, temos essa ideia. Certamente este ano vamos tocar no Chile, México e Peru. Queremos apresentar o disco novo nesses lugares. Esperamos poder conhecer outras regiões do Brasil! Estamos com muita gana para mostrar o novo disco por aí.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista. Entrevista cedida pela Abstratti Produtora. A foto que abre o texto é de Hernan Parera / Divulgação