entrevista por Marcos Paulino
O paulistano Bruno Martini, 25 anos, é filho de Gino Martini, integrante da banda Double You, que fez bastante sucesso no início dos anos 90 com uma regravação da música “Please Don’t Go”, de KC and the Sunshine Band. Ainda criança, Bruno acompanhava seu pai pelos estúdios e shows da vida. Tomou gosto pela coisa e decidiu seguir a carreira artística.
Mesmo assim, foi estudar engenharia civil e, enquanto estava na faculdade, criou com Mayra Arduini a College 11, que se tornou a primeira dupla contratada da Walt Disney Records fora dos Estados Unidos. A banda lançou dois álbuns de estúdio, sendo que um deles foi a trilha sonora da série “Que Talento!”, que os dois estrelaram no Disney Channel entre 2014 e 2016. Depois disso, Bruno iniciou sua carreira solo como DJ e produtor.
Marcos Lobo Zeballos, ou apenas Zeeba, 25 anos, nasceu na norte-americana San Diego, mas veio para o Brasil, país de seus pais, ainda bebê. Morou em São Paulo até os 19 anos, quando retornou aos EUA para estudar música em Los Angeles. Lá, tocou guitarra na banda Bonavox, que chegou a se apresentar no festival South by Southwest e abriu uma turnê de Allen Stone. Em 2015, já em carreira solo, lançou o EP “So Complicated”, indicado ao Grammy Amplifier, prêmio que havia conquistado com sua banda.
Amigos desde a adolescência, Bruno e Zeeba imaginaram que trabalhar juntos seria uma ideia interessante. Estavam certos. Há dois anos, contando com o reforço do DJ Alok, lançaram “Hear Me Now”, canção que se tornou sucesso mundial. Depois veio “Never Let Me Go”, que não deixou por menos, explodindo no YouTube, no Spotify e em outros tantos serviços de música por aí. E, no final de janeiro, Bruno e Zeeba apresentaram “With Me”, que também vem alcançando números impressionantes nas plataformas digitais. Ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell, a dupla resumiu toda essa história e revelou seus projetos para os próximos meses.
Bruno, o quanto ser filho de um pai que fez sucesso com a música te influenciou a seguir o mesmo caminho?
Bruno – Total. Quando eu tinha 8 anos, meu pai me deu um violão e eu frequentava os estúdios dele, ele produzia muita gente. Respirei muita música minha vida inteira, e sempre ouvi todos os estilos. Com 13 anos, fiz minha primeira banda, que tocava rocks clássicos como Deep Purple e Led Zeppelin. Depois conheci a Mayra e escrevemos músicas que chegaram até a Disney, na Califórnia. Fui o primeiro brasileiro a assinar contrato com eles. Fiz músicas pra filmes, seriados. Mas sempre tive uma veia puxada pra música eletrônica, que era o estilo com o qual meu pai trabalhava. Comecei a discotecar muito cedo. Então conheci o Zeeba, com quem fiz “Hear Me Now”, junto com o Alok. Depois veio “Never Let Me Go”, e esse foi o start da minha carreira nesse mundo em que sempre quis viver.
O que você trouxe pra sua carreira solo da experiência com a College 11?
Bruno – A experiência que tive na Disney foi incrível. Trabalhei numa das maiores empresas de entretenimento do mundo e eles sempre deram todo suporte. Nunca tinha trabalhando em televisão, por exemplo, e pude fazer dois anos de coaching de atuação. Tenho saudades de atuar e quero voltar a fazer isso um dia. Aprendi muito nesse período que passei na Disney e sou grato pela oportunidade que eles me deram.
E você Zeeba, como foram os primeiros passos na vida artística?
Zeeba – Meu primeiro contato com violão foi aos 8 anos, porque eu queria, na verdade, tocar guitarra no show de talentos do colégio. Com 14 anos, montei minha primeira banda, quando comecei a escrever mesmo. A Mallu Magalhães estudou comigo, eu via ela fazendo músicas e disse: “Quero fazer isso também”. Minha primeira banda profissional foi quando voltei para os Estados Unidos, chamava Bonavox, e chegamos a ganhar o Grammy Amplifier, pra artistas independentes. Viajamos pelos EUA inteiros. Quando comecei meu projeto solo, já conhecia o Bruno, no momento em que ele estava saindo da Disney. Nos ajudamos bastante, criamos muito no estúdio. “Hear Me Now” foi realmente a porta de entrada pra sair tocando no mundo inteiro. Agora estou muito feliz com o lançamento de “With Me”, que é a continuação disso tudo.
Quando descobriram que, além de amigos, se dariam muito bem sendo parceiros como compositores?
Zeeba – Nossa amizade começou dentro do estúdio, sempre foi muito musical. Antes de “Hear Me Now”, teve muita história, a gente criou muita coisa que inclusive a gente nunca chegou a lançar. Então foi natural continuar fazendo outras coisas.
Bruno – A gente criou uma amizade além do profissional. É incrível trabalhar com um cara tão talentoso como o Zeeba.
“With Me”, o mais recente single, que também vem conseguindo ótimos resultados nas plataformas digitais, fala sobre sua relação com um amigo vítima de câncer. Foi difícil escrever essa canção?
Zeeba – Na verdade, a música fala sobre o poder que uma amizade tem na vida de todo mundo. E sobre como uma amizade forte pode superar qualquer tipo de problema. O tema câncer foi abordado depois, porque o Bruno passou por uma experiência familiar. Achamos que a música tinha tudo a ver e resolvemos abraçar essa causa e ajudar pessoas. O clipe veio pra alertar sobre uma doença que está cada vez mais frequente. O índice de pessoas com menos de 30 anos com câncer aumentou 30% por causa da comida e de outras coisas. Agora nos juntamos ao Instituto Vencer o Câncer e vamos doar o que pudermos e incentivar para que mais pessoas ajudem.
Bruno – Também quisemos passar nessa música sobre nossa amizade, em que sempre um apoiou muito o outro. Sempre demos todo suporte pros problemas das nossas vidas pessoais e profissionais. Quisemos mostrar quão importante é a amizade, não só em casos de doenças terminais, mas no nosso dia a dia.
Aliás, o que inspira vocês no momento de compor?
Bruno – A inspiração é muito relativa. Sou formado em engenharia civil e no curso a gente aprende que 4 mais 4 são 8 e ninguém vai me convencer que são 9. Na arte, é diferente. Não tem uma fórmula pras coisas acontecerem. Pra mim, o que agrega muito é ter a cabeça aberta. Sempre escutei e estudei todos os estilos. É importante saber por que existe aquele estilo, qual o motivo daquilo, como as pessoas se comportam com aquilo, pelo que elas lutam. Sempre absorvi o que vem de cada coisa e tento trazer pro meu som. E também conta muito a troca de energia com as pessoas que trabalham com você. Minha parceria com o Zeeba sempre teve uma energia muito boa, e por isso faz tanto sucesso. A gente nada mais é do que dois meninos dentro do estúdio querendo se divertir. A gente dá risada o tempo todo.
Zeeba – A gente precisa viver pra escrever. As inspirações vêm da nossa vida, da nossa rotina, das experiências que a gente tem.
Com “Hear Me Now”, vocês dois e o Alok se tornaram os artistas brasileiros mais ouvidos da história do Spotify. O que isso representa pra vocês?
Zeeba – É muito doido, porque foi nosso primeiro lançamento. É um trabalho muito honesto, muito verdadeiro. A gente acreditava muito na música, mas não tinha o foco de atingir um número. A gente só queria fazer uma música bonita, uma coisa legal.
Bruno – “Hear Me Now” é a música feita por um brasileiro mais ouvida na história do Spotify, já passou dos 300 milhões de streamings, e sou muito grato por isso. Graças a ela, fui tocar no mundo inteiro. E a galera cantava junto, não só ela, mas também “Sun Goes Down”, que fiz com a Isadora e da qual o Zeeba também participou, e “Never Let Me Go”. Mas o que mais me motiva é a música em si. Sou apaixonado por música, vivo dentro do estúdio, quero criar coisas diferentes e os desafios me motivam. O que me importa é saber que estou passando uma mensagem pro público e lançando um material de qualidade. É um trabalho honesto, porque aquele ali sou eu. O Bruno do clipe ou da foto é o mesmo que está com os amigos. Acredito que se você conseguir tocar a vida de uma só pessoa com aquela música, você já está fazendo um trabalho mais do que bem feito.
Você acredita que hoje são tão conhecidos no exterior quanto no Brasil? Ou mais?
Zeeba – Acho que a música é conhecida igualmente. A gente ainda precisa colocar mais a cara pra bater. Alguns países me conhecem, como a Itália, por ter feito bastante coisa na TV. Já tirei foto lá. Mas quando estou nos EUA, tiro mais fotos com os brasileiros. Acho que pelo fato de termos rodado muito por aqui. Mas a música ficou maior que todos nós.
Bruno – Na primeira vez que estive na Noruega, fui tocar num festival em Oslo. Quando toquei “Sun Goes Down”, estava lotado e todo mundo cantou a música. Foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira. Fico impressionado com a força das plataformas digitais.
Que projetos vocês têm engatilhados pra este ano?
Bruno – Estou lançando uma música com o Dennis DJ e o Vitin da banda Onze:20, que são super amigos meus. Fizemos uma mistura bem legal. Tem ainda outra música com dois DJs da Holanda, Sunnery James e Ryan Marciano, com vocais da Mayra, que sairá em março. Tenho também uma música com o DJ Carta, que é o maior DJ da China, outra com vocais da Mayra, que vamos lançar um pouco depois. E tem um álbum inteiro com o Timbaland pra lançar, parceria com vários artistas do mundo todo. Estou fazendo música com vários artistas do Brasil também, inclusive em português.
Zeeba – Em março, vou lançar uma música super legal, a “Too Late”. Neste ano, quero mostrar um pouco mais da minha identidade, quem é o Zeeba, porque já fiz muitas colaborações. Quero lançar um projeto com mais músicas minhas. O pessoal me pede música em português, então comecei a fazer uma com a Mallu Magalhães. Não consigo cantar em português, então estou fazendo músicas com pessoas que cantam. Estou sempre com um violão em todo lugar aonde vou, sempre fazendo música, então vai ter muita coisa nova.
– Marcos Paulino é jornalista editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)