por Marcelo Costa
Diego Camargo é um apaixonado por rock progressivo. Tão apaixonado que em 2005 decidiu criar um blog para falar sobre o tema. Nascia o Progshine, que em 2008 deixou o Blogspot e mudou-se para uma plataforma oficial, e ficou no ar até 2012, quando Diego mudou-se para a Polônia, a trabalho. O novo emprego e a vida em um novo país dificultaram a manutenção do Progshine, e Diego resolveu dar um tempo. Porém, em 2013, nova tentativa: “Resolvi que o blog seria em Inglês, nascia o progshine.net, que durou dois anos com atividades diárias”, conta em entrevista por e-mail.
O retorno do Progshine em 2013, se não foi permanente, ao menos ajudou para que Diego investisse seu tempo em um novo projeto: a Progshine Records. “Aos poucos a ideia foi sendo inserida na minha cabeça, relançar discos no mundo digital que ainda não estavam disponíveis e também lançar novos trabalhos”, explica. De lá para são 16 lançamentos oficiais, e mais sete estão na agulha. Tem banda da República Dominicana (El Trio, “uma pérola perdida nesse mar de sons novos”), da Rússia (Orgia Pravednikov, que pela primeira vez teve seu material lançado fora do território comandado por Putin) e Alemanha (Ordo Ignis Dei, “que é completamente diferente de tudo sendo feito no Prog atual”).
Entre os destaques brasieliros, Diego recomenda “Canções de São Patrício”, de Rafael Senra, “um disco de música celta cantado em português”. Ele também se anima ao falar do Ultranova (Space Rock de Belém, PA), Kaoll (banda clássica de São Paulo) e o gaúcho Gérson Werlang, ex- Poços & Nuvens, que lançou “Sistema Solar”, seu segundo disco solo, em 2015 (além do lançamento virtual pela Progshine Records em 2017, o álbum ganhou uma bela edição em vinil pelo batalhador Selo 180). No rápido bate papo abaixo, Diego fala sobre sua paixão pelo rock progressivo, a vida na Polônia e o desejo de relançar os discos de “uma das bandas mais legais que já saiu de Santa Catarina”, a Pipodélica no Progshine Records. Confira.
https://progshine.wordpress.com/
Conheça todos os lançamentos do selo => https://progshinerecords.bandcamp.com/
O Progshine, no formato blog, já tem 13 anos, certo? Como surgiu a ideia de transformar o blog num selo? O que te motivou?
Realmente, a história do Progshine, pelo menos a marca, vem desde 2005, 13 anos. Comecei um blog há 13 anos para resenhar discos progressivos em português, já que até aquele momento eu nunca tinha visto um blog nesse estilo. Por dois anos mantive o blog através do Blogspot e tinha um público que eu não acreditava. Depois disso surgiu essa ideia de fazer uma coisa mais ‘profissional’, então em fevereiro de 2008 comecei o Progshine de novo, agora como progshine.com. Agora, além de resenhas tinha entrevistas, matérias e muitas notícias sobre bandas progressivas. Até aquele momento não havia nada do gênero, atualizado diariamente (ou quase), em português. O blog durou quatro anos nesse estilo. Quando me mudei pra Polônia em novembro de 2012, as coisas estavam pesadas pra mim, fazer o site sozinho exigia MUITO tempo e eu estava desgastado. Dei um tempo, mas não consegui ficar sem o blog, ai em 2013 resolvi que o blog seria em Inglês, nascia o progshine.net, que durou dois anos com atividades diárias. A partir de 2016, começou a me cansar, entre outras coisas, a dificuldade de encontrar parceiros pra escrever pro blog, encontrar leitores fieis e era uma dificuldade terrível em tentar criar uma comunidade ativa sobre o progressivo em Português. Em 2017 eu andava procurando informações sobre Rock Progressivo em Português e descobri que, mesmo depois de tantos anos da parada do Progshine, ainda não havia nada. Foi quando decidi tentar mais uma vez e reativei o Progshine no antigo domínio do WordPress. Mas as mesmas dificuldades ainda estavam lá, o engajamento não existia, encontrar pessoas pra colaborar com o blog era quase impossível, eu já não tinha mais tempo pra nada. Então nesse exato momento o eu considero o Progshine ‘morto’. Infelizmente. Agora, o selo, é uma ideia que apareceu no final de 2013. Eu queria comemorar um ano do blog em Inglês e comecei a organizar com diversas bandas uma coletânea virtual, e resolvi lançar sob o meu próprio selo, a Progshine Records. Aos poucos a ideia foi sendo inserida na minha cabeça, relançar discos no mundo digital que ainda não estavam disponíveis e também lançar novos trabalhos. Em 2015 lancei o Family Free Rock, mas considero que o selo começou de verdade em 2017 com o relançamento dos discos da banda cearense Trem Do Futuro. Desde então, em menos de um ano já lançamos/relançamos 16 títulos (apesar de já ter outros 7 títulos pra fevereiro).
O que você destaca entre esses lançamentos?
Honestamente? Sei que é cliché a minha resposta, mas todo lançamento tem algo especial. É por isso mesmo que eu me interessei em lançar, em primeiro lugar. Gosto muito do Trem do Futuro, acho que é uma banda batalhadora, vinda de um lugar sem um pingo de tradição no Rock. Tem também os relançamentos da banda El Trio, que é da República Dominicana, e que acredito que é uma pérola perdida nesse mar de sons novos. Realmente um som único que passeia entre o Jazz Rock cheio de latinidades e o Rock Progressivo mais tradicional. Já o Rafael Senra é completamente único, o “Canções de São Patrício” é um disco de música celta cantado em português! Não tenho muito conhecimento sobre música celta, mas acredito que esse seja o único disco do gênero em língua portuguesa. O Ultranova é uma descoberta única, banda de Rock Progressivo instrumental num estilo mais ‘Space Rock’ vinda de Belém, outro lugar sem tradição no Rock. Tem o lançamento do Ordo Ignis Dei, banda alemã, que é completamente diferente de tudo sendo feito no Prog atual, completamente único e cheio de personalidade. O Kaoll é uma banda clássica de São Paulo e é um baita orgulho pra mim ter os caras no selo. O Gérson Werlang é um músico gaúcho e a gente relançou o segundo disco solo dele. Eu sou fã do trabalho dele desde o tempo que ele tocava com o Poços & Nuvens, então é outro orgulho ter ele no selo também. Os próximos lançamentos serão outra exclusividade. Vou relançar toda a discografia da banda russa Orgia Pravednikov. Será a primeira vez que o material da banda será lançado fora do território da língua russa (leia-se a antiga União Soviética). Sou fã deles desde 2005 então poder lançar a discografia deles através do meu selo é um negócio que me deixa igual criança com sorvete num dia quente (risos).
Como é a sua relação com a música por ai e os contatos com os artistas que você lança?
É sempre bem próxima. As pessoas geralmente não sabem disso, mas existe muita preparação e conversa antes de um trabalho ser liberado para um lançamento, mesmo quando já está tudo pronto, então você acaba ficando próximo dos músicos. Mas também, do outro lado, nem dá pra contar nos dedos quantas bandas contatei pra saber se existia interesse em relançar os discos e nunca deu em nada. Fiquei impressionado com a quantidade de bandas que lançou disco e que hoje em dia não tem mais nada, os músicos não tem mais o CD, os músicos não tem os arquivos originais, etc. Eu estava tentando relançar os discos de uma das bandas mais legais que já saiu de Santa Catarina, o Pipodélica, todos os membros da banda deram positivo, mas ninguém tem os arquivos em alta qualidade mais, ai fica difícil (risos e mais risos).
Atualmente você mora na Polônia. Como é a cena rock por ai?
Pois é, desde Novembro de 2012. Dizer que é outro mundo, literalmente, em relação ao Brasil nem começa a explicar as diferenças… Obviamente, a cultura e os costumes são completamente diferentes e é fascinante ver isso do meu ponto de vista: um cara que, apesar de ter morado em várias cidades diferentes no Brasil, nunca tinha saído do país. É uma experiência única, ainda mais agora que a gente teve um filho que agora tem sete meses. 🙂 A minha relação com a música polaca é forte, mesmo antes de vir pra cá eu já conhecia bandas da Polônia, e hoje em dia tento comprar o máximo que posso, especialmente os clássicos. A cena musical na Polônia é muito forte, existe música nas escolas, um número muito grande de crianças toca instrumento, existem diversas bandas novas. Infelizmente não consigo acompanhar muita coisa pois, além de não ter muito tempo pra acompanhar todos os novos lançamentos, também moro meio afastado do circuito de shows. Geralmente as cidades que recebem shows são Varsóvia, Pozna?, Wroc?aw, Gda?sk, Lublin, Cracóvia, e eu estou a pelo menos duas horas de distância da mais próxima, então fica difícil ir a muitos shows. Mas tento (risos).
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne