resenhas por Adriano Mello Costa
“Travelers – 1ª Temporada” (Netflix)
Com todas as cagadas que a humanidade – faz tanto ambientais quanto no próprio trato aos semelhantes – é de imaginar que o futuro distante não reserve nada muito bom para quem lá chegar, não é mesmo? Bom, é com essa imagem de futuro que a série “Travelers” trabalha. Produção original da Netflix com o canal canadense Showcase, “Travelers” teve a primeira temporada disponibilizada na plataforma em outubro de 2016 com 12 episódios (a segunda, também com 12 episódios, já está na plataforma). Criação de Brad Wright (do universo “Stargate”), a série traz como personagem principal o experiente Erick McCormack (de “Will & Grace”) como um agente do FBI chamado Grant MacLaren, mas que não é bem quem diz ser. Unindo policial, suspense e ficção científica, “Travelers” apresenta ao espectador uma trama onde o futuro está condenado e a forma de solução encontrada para ajustar isso é voltar no tempo para corrigir ou evitar os acontecimentos que levaram a esse colapso, de posse do conhecimento acumulado até então. Só que a maneira que esses viajantes retornam aos nossos dias não é fisicamente e sim tendo a memória suplantada em pessoas, segundos antes dessas falecerem. Isso faz com que não somente herdem a vida do hospedeiro e tenham que continuar com ela seja de que maneira for, como também tenham compartilhadas as memórias anteriores, o que é prerrogativa suficiente para gerar uma gama de conflitos elevada. A equipe que vem do futuro ostenta suas próprias particularidades com mentes entrando em um viciado em heroína e em uma mãe recente com problemas com o esposo policial. Com atuações apenas razoáveis e um enredo que não engrena, a primeira temporada de “Travelers” agrada quem gosta de ficção científica e afins, divertindo sem compromisso, mas para por aí.
Nota: 6
“Ozark – 1ª Temporada” (Netflix)
Marty Byrde (Jason Bateman) e Bruce Lidell (Josh Randall) tem uma bem-sucedida empresa de consultoria financeira em Chicago. O primeiro tem estilo calmo, é mais técnico e leva uma vida boa, mas sem grandes esbanjamentos. Já o segundo é expansivo, falador e gosta de exibir o dinheiro que ganha e se gabar disso. Por trás desse sucesso todo e a transformação de um pequeno empreendimento em algo maior está um dos maiores cartéis de droga do México, que tem seu dinheiro lavado e convertido em limpo pela empresa da dupla. Quando Lidell dá um passo maior que a perna e desvia grana dos mexicanos, Byrde entra em uma fria e (para ganhar tempo e se salvar) muda com a família de Illinois para o Missouri, na pacata região do lago que empresta o nome a série. Criada pela dupla Bill Dubuque e Mark Williams – que trabalharam juntos em filmes como “O Contador” e “Um Homem de Família” – “Ozark” tem 10 episódios na primeira temporada (uma segunda já foi confirmada) que foram disponibilizados de uma vez só no Netflix em julho de 2017. Mais um dos produtos originais da plataforma, a série rendeu comparações imediatas com “Breaking Bad”, mas envereda por outros caminhos e com atitudes bem diversas do personagem principal. Jason Bateman está surpreendente no papel, com uma performance que não estamos muito habituados a ver nos filmes em que estrela. Junto a ele como esposa está a sempre ótima Laura Linney, que tem importância direta no desenrolar da história. Com elenco de apoio bem utilizado e atuações consistentes, “Ozark” é uma daquelas séries que trazem a capacidade de prender o espectador na poltrona episódio após episódio com ótima fotografia, usando tons escuros e sombrios para dar o tom tenso, numa das melhores produções que debutaram em 2017.
Nota: 8
“Preacher – 1ª Temporada” (AMC)
“Preacher” é uma das histórias mais incríveis dos quadrinhos. Com roteiro de Garth Ennis, arte de Steve Dillon e capas de Glenn Fabry, foram 66 edições normais e mais 6 especiais (sim, 666), todas já publicadas aqui pela Panini. No primeiro semestre de 2016, uma série televisiva adaptando a obra estreou nos Estados Unidos em produção do canal AMC. Criada pelo astro Seth Rogen em parceria com Evan Goldberg e Sam Catlin, “Preacher” pretendia levar para a telinha o bizarro e estrondoso universo concebido por Ennis e Dillon com muita acidez, violência e humor negro. Tarefa nada fácil, diga-se, afinal como levar tudo para a televisão? O resultado pode ser conferir na plataforma digital Amazon Prime, onde a primeira temporada já está disponível (a segunda já acabou nos EUA, mas ainda não foi liberada). A saída para deixar a trama mais palatável foi suavizar um pouco temas e fatos, mudar a história parcialmente, inserir novos personagens coadjuvantes e estender por toda a temporada inicial o arco que se resolve logo de início nos quadrinhos. A história do pastor Jesse Custer (Dominic Cooper), que recebe uma entidade sobrenatural repleta de poderes chamada Gênesis e a partir disso se vê em guerra com o paraíso e outras coisas mais, realmente seria impossível de se ver na totalidade. Do lado da ex-namorada Tulip (Ruth Negga) e do amigo Cassidy (Joseph Gilgun em exuberante atuação), Custer tem que achar novamente (ou não) o lugar da sua fé na pacata Annville, no Texas. A decisão dos criadores foi deixar toda a temporada inicial na cidade, coisa que nos quadrinhos não ocorre. Contudo, apesar do ritmo lento para quem conhece a obra, tudo flui bem. As blasfêmias, personagens estranhos, ironias e maluquices aparecem em boa quantidade preparando terreno para que, na segunda temporada, a coisa aconteça para valer e se torne ainda mais feroz. Imperdível.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br