por Marcelo Costa
O mineiro Octavio Cardozzo tem apenas 27 anos, mas já perambulou na música por diversos projetos, contando inclusive com uma participação no programa Ídolos, da Rede Record, e forte presença no carnaval de rua de Belo Horizonte. Em 2013 estreou solo com o single “Lembre-se de Mim”, e em 2016 foi a vez de “Vela Aberta”, debute do Projeto Alpercata. Agora ele lança seu primeiro álbum cheio, “Âmago”, em que assume a posição de crooner interpretando canções de Elisa Pretinha, Leopoldo Rezende, Gustavito e Luana Aires, entre outros.
“Neste disco eu quis cantar mais e compor menos”, conta Octavio Cardozzo. “Fiz um disco bem brasileiro, que remete aos grandes intérpretes da nossa música, como Ney, Bethânia e Elis. Por isso não incluí nenhuma música de minha autoria. O meu desejo era interpretar, criar uma narrativa ao longo do disco, com uma dramaturgia por trás, orgânica como alguns clássicos da MPB, mas ao mesmo tempo moderno e arrojado”, explica. “Âmago” conta com a presença de Luiz Gabriel Lopes (Graveola), Thales Silva (Minimalista), Marcelo Veronez e Alexandre Andrés.
Disponível para download gratuito em seu site oficial (http://www.ocardozzo.com),“Âmago” também pode ser ouvido na integra nas principais plataformas de streaming e no Youtube. O disco sai pelo selo Casazul, que também lançou “O Fazedor de Rios” (2015), de Luiz Gabriel Lopes; “Quilombo Oriental” (2015), de Gustavito e a Bicicleta; “A Toada Vem é Pelo Vento” (2012), de Luiza Brina e o Liquidificador, entre outros, com distribuição da Tratore. Abaixo, Octavio Cardozzo comenta faixa a faixa “Âmago” na integra.
FAIXA A FAIXA POR OCTAVIO CARDOZZO
Desinício (Leopoldo Rezende)
É uma canção que abre o disco fazendo uma análise da nossa sociedade atual, de como fazemos tudo correndo, sempre conectados, e pouco damos atenção ao que está ao redor, às pessoas que nos cercam. Por conta disso, nos tornamos pessoas egoístas, centradas em nós mesmos, em contraponto à construção deste disco, que foi totalmente colaborativa.
Parada Multicor (Gustavito/Luana Aires)
Aqui continuamos com a análise proposta na canção anterior, mas fazendo referência direta à “Marcha das Vadias” e à “Parada Gay”. É quase uma resposta à música anterior e ao momento político e social em que vivemos, no crescente do conservadorismo. Além disso, falamos aqui sobre as problematizações recorrentes do Facebook, à proposta da cura gay, terminando com a mensagem que realmente importa: acima disso tudo está o amor. O arranjo faz referência ao carnaval de rua de Belo Horizonte, que vem crescendo a cada ano, e no qual Octavio é ativista (participando dos blocos “Haja amor”, “Então brilha” e “Corte Devassa”). Há uma citação ao hino do bloco “Alcova Libertina”.
Anatomia (Phil) – Part. Especial de Marcelo Veronez
Seguindo na linha de Parada multicor, aqui continuamos ironizando e debochando do Brasil conservador. Tantas músicas existem objetificando o corpo feminino… Mas aqui falamos do corpo masculino. O arranjo também foi criado pensando nisso: o jazz é um dos meios musicais mais machistas no Brasil, e por isso o escolhemos.
Não Me Jogue Fora (Thales Silva) – Part. Especial de Minimalista
Nesta canção eu quis trazer um pouco da minha personalidade pro disco. Ouço desde criança que sou meio oito ou oitenta, de temperamento construído nos estremos. É uma canção de amor que ao mesmo tempo é agressiva e romântica. Aquela coisa “faça tudo comigo mas não me deixe”.
Uma Proposta (Tom Custódio da Luz)
Aqui temos uma continuação de Não me jogue fora, mas numa pegada pra dançar colado, uma declaração de amor super sensual.
De Praxe (Pedro Santos)
Essa canção representa a chegada ao âmago, que foi ficando cada vez mais próximo ao longo das músicas anteriores. Aqui é a desilusão com o mundo, com as pessoas, com os amores falados nas demais faixas. É o momento em que a gente coloca a cabeça no travesseiro e não vê alternativas, fica triste com as situações que não conseguimos mudar sozinhos. O arranjo faz referência ao “Clube da Esquina” e ao Milton Nascimento, meu grande ídolo.
Baleia (Phil)
Após a chegada ao âmago, vem uma tentativa de conexão com a essência, com o Brasil bruto, rural e árido. Conexão com a minha família, meus antepassados, e uma busca do conhecimento sobre de onde eu vim, do que me constituo. A letra faz referência ao livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e o arranjo ao samba-de-roda do recôncavo baiano, numa homenagem à Maria Bethânia e Dona Edith do Prato.
Silhueta (Elisa Pretinha)
Na canção anterior aconteceu essa conexão com o antepassado, mas em “Silhueta” eu me reconecto comigo mesmo, descubro aquilo que acredito que eu sou, ou o que temporariamente eu sou. O arranjo faz referência ao pagode dos anos 90, década em que eu nasci.
Estação Concreta (Leopoldo Rezende) – Part. Especial de Luiz Gabriel Lopes
Encerrando o disco, vem o contraponto à primeira música. Aqui é uma análise sobre a sociedade que queremos, que desejamos pra nós mesmos e pros que nos cercam. Uma sociedade de partilha e de união. Que apesar de tudo isso, há esperança e o amor sobrevive.