entrevista por Marcos Paulino
A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos emitida pela ONU em 2000, pregando uma sociedade global mais justa e sustentável. Esse documento serviu de inspiração para que a banda Laranja Oliva, de Limeira, interior de São Paulo, norteasse a produção de seu segundo disco, que foi gravado entre agosto e setembro de 2017 e tem previsão de lançamento para janeiro de 2018. O álbum será viabilizado por meio de financiamento coletivo pelo site Catarse. O montante arrecadado – R$ 35 mil, espera a banda – será destinado para pagar a produção, gravação e distribuição de maneira sustentável do CD “Carta da Terra”.
Sérgio Moreira Jr. (vocalista), Gui Escafandro (guitarrista), Thiago Val (tecladista), Bruno Bertoni (baixista) e Victor Bertoni (baterista), que formam a Laranja Oliva, dizem que ideia é causar o menor impacto possível no meio ambiente com o processo de produção e divulgação do disco. Os danos que não puderem ser evitados serão revertidos, com iniciativas como, por exemplo, o plantio de árvores. “A nossa concepção de meio ambiente foi livre e poética”, conta Sérgio em entrevista ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell.
Formada em 2011, a Laranja Oliva estreou no mercado fonográfico com o álbum “Arroz, Feijão e Mistura”, de 2014, no qual já mostrava sua mistura de rock, funk, samba e jazz. No novo projeto, segundo Sérgio, o som ganhou um acento maior de rock, mas sem perder o ecletismo tão característico da banda. Na entrevista a seguir, o vocalista explica melhor o conceito por trás de “Carta da Terra” e avisa: “A ação mais legal (do nosso financiamento coletivo) é uma parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, através da qual a gente vai reflorestar uma área bem legal aqui de Limeira”. Saiba mais.
https://www.catarse.me/laranjaoliva
Como bateu na consciência a vontade de fazer um disco ambientalmente sustentável?
A gente vem produzindo esse disco desde o final do ano passado, quando decidimos morar juntos e centralizar as atividades da Laranja na nossa casa/escritório/estúdio. A ideia da sustentabilidade vem como resposta natural ao cenário em que vivemos. A gente refletiu e pesquisou muito antes de enquadrar o disco nesse conceito. Vivemos numa sociedade de consumo extremo, associamos nossa felicidade e a ideia de sucesso diretamente com a posse de bens materiais que se descartam numa frequência assustadora. Esse perfil socioeconômico está matando nossa casa e nossas relações interpessoais. Como artistas, nos sentimos na obrigação de fazer algo a respeito. O nome “Carta da Terra” faz referência à declaração de princípios éticos da ONU escrito por representantes de mais de 40 países, das mais diversas religiões, crenças, raças e idades. Mais de 100 mil pessoas foram ouvidas com o intuito de criar e manter uma sociedade global justa, pacífica e sustentável. Para nós, o “Carta da Terra” foi também uma forma de rever muita coisa, a maneira como vivemos, pensamos e atuamos no mundo. A gente está se reinventando musicalmente e socialmente num processo que ainda não acabou, e esperamos que não acabe tão cedo. Essa talvez seja a ideia principal, instigar uma reflexão socioeconômica e prezar pela harmonia entre todos os seres e o meio.
Essa ideia pode soar marqueteira para algumas pessoas?
Pode sim, ainda mais com o tema em alta. Não deixa de ser um marketing positivo, mas a gente tomou cuidado pra não cair no lance de marketing verde. Vimos empresas e projetos que abordam essa temática e na verdade não fazem efetivamente ações para que o processo seja sustentável mesmo. Mas estamos tranquilos quanto a isso, pois estamos fazendo um trabalho com muito carinho e cautela.
Quanto vocês esperam arrecadar para o lançamento do disco?
O nosso Catarse tem como meta R$ 35 mil. Gravamos num estúdio muito massa em São Paulo, o Family Mob, e as recompensas, por serem pensadas pra agredir o mínimo possível o meio ambiente, são mais caras que as habituais. O encarte do disco, por exemplo, fica quatro vezes mais caro do que o convencional de plástico; a camiseta de algodão orgânico é mais cara que a de algodão normal…
Tratar especificamente sobre um tema, como o meio ambiente, por exemplo, limita a criatividade?
Não foi o caso! A nossa concepção de meio ambiente foi livre e poética, num sentido de harmonia de todos os seres. Sensações, atitudes, que se refletem no modo de viver. A gente pegou como referência a Carta da Terra da ONU, por uma sociedade global justa, pacífica e sustentável. Isso nos deu a liberdade de também falar de amor de todas as formas, inclusive em relacionamentos pessoais.
Este disco vai soar eclético, musicalmente falando, como o primeiro?
O rock está mais presente neste, mas talvez o “Carta da Terra” seja ainda mais eclético que o outro. Porém, desta vez, conseguimos criar uma identidade muito presente. Mesmo as faixas sendo bem diferentes umas das outras, existe uma conversa interessante entre elas.
Como as pessoas poderão participar da concretização do disco?
Participando do Catarse, adquirindo as recompensas.
Quais contrapartidas a banda dará para quem investir?
As recompensas do Catarse estão interessantes. Vai ter o CD “Carta da Terra”, com encarte de papel ecológico e papel semente, camiseta de algodão orgânico com artes exclusivas dessa nova fase da banda, boné, dichavador de fibra de coco, grupo exclusivo com making-ofs, vídeos e áudios inéditos, além da audição prévia do disco e tatuagens do nosso amigo Guilherme de Carli com desenhos criados por ele. A gente também vai fazer uma luta na lama entre nós, e o Val vai tatuar o nome do pessoal que comprar a recompensa “Tattoo Val”. A ação mais legal é uma parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, através da qual a gente vai reflorestar uma área bem legal aqui de Limeira. Para cada disco vendido, é uma árvore plantada. E vai ter também o plantio de muda separado da campanha, se quiser só ajudar plantando uma árvore.
O que vocês estão programando para o lançamento, em janeiro?
O show de lançamento ainda estamos arquitetando, mas com certeza haverá as participações dos artistas que estão no disco e muitas outras. Vai ser uma baita festa linda.
Onde está o público da banda hoje? Ultrapassou as fronteiras da região?
Bom, a gente descobre através de plataformas tipo Spotify e YouTube quem ouve a banda e de onde vem essa galera. A maioria é realmente da região de Limeira e Campinas, além de São Paulo, São Carlos, Bauru. Mas temos views no Sul, Nordeste, Minas… E tem uma galera na Bolívia que nos ouve.
– Marcos Paulino é editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)