resenhas por Adriano Mello Costa
“Exterminador – Volume 1”, Christopher Priest, Joe Bennett e Mark Morales (Panini)
O Exterminador (Deathstroke, no original) é um dos personagens mais bacanudos da DC Comics. Criado em 1980 pela dupla Marv Wolfman e George Pérez, ele começou como antagonista dos Titãs, contudo foi além. Vilão, mercenário inescrupuloso e assassino mortal, o Exterminador é respeitado e temido. O que o transforma em tão interessante é que, apesar de toda a vilania, vez ou outra ainda opera alguma coisa boa, dentro do seu distorcido senso de justiça. A Panini Comics coloca agora no mercado brasileiro um encadernado contendo a aclamada fase dentro do “Renascimento” da DC, que angariou indicação ao Prêmio Eisner. Com papel LWC, capa cartão, lombada quadrada e 140 páginas vemos o assassino entrando em uma espiral de traição atrás de traição para descobrir quem colocou a cabeça da sua filha a prêmio. Com roteiro de Christopher Priest (Lanterna Verde) e arte na mão de vários nomes como o brasileiro Joe Bennett (Arrow) e Mark Morales (Deadpool), a trama volta a diversos pontos da vida do personagem com o objetivo de contextualizar a aventura que desenvolve. A Panini lança várias publicações nesse formato, onde procura estabelecer um padrão gráfico que servirá para abarcar os personagens fora das revistas mensais com preços atrativos. Ideia bacana, mas que só sobreviverá se as histórias contadas forem boas, o que em se tratando da DC é sempre uma grande incógnita nos últimos anos, mesmo sendo inegável o avanço mais recente dessa fase. Reunindo edições lançadas nos EUA entre outubro e dezembro de 2016, “Exterminador – Volume I” rende bons momentos, principalmente quando foca no passado do protagonista, no entanto a trama que ocorre no presente com a presença ilustre de Batman e Robin é confusa, mesmo com o potencial que oferece. Esse fato, somado a passagem variada de artistas que prejudica a unidade, deixa a série apenas como mediana.
Nota: 6
“Chico Bento – Arvorada”, de Orlandeli (Panini)
Dentro das criações de Mauricio de Sousa, Chico Bento é a maior depois do quarteto de ferro do autor ( Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali), isso quando não ofusca um ou outro desse time. Criado em 1963, já tinha sido utilizado em uma edição do projeto Graphic MSP em 2013 por Gustavo Duarte em “Pavor Espaciar”. O trabalho tinha boa arte, mas era insossa e insípida no contexto geral, deixando bem a desejar. Agora em 2017 chegou a vez do paulista Orlandeli (de “Grump”) dar nova chance ao personagem e dessa vez o resultado atingido é completamente oposto. “Arvorada” tem 100 páginas, lançamento pela Panini Comics e apresenta o que Chico Bento tem de melhor: toda sua caipirice e bom coração ali entre as traquinagens e a inocência, a patetice e a molecagem, englobando tudo em uma história maior sobre coisas que não podemos deixar para depois sobre o risco de passarem e não termos mais, dos arrependimentos que podem surgir oriundos disso no futuro, de aproveitar ao máximo as pessoas quando elas ainda estão ao seu lado. Orlandeli, também nascido no interior, acerta em cheio ao contar essa história que apresenta a Vó Dita como personagem fundamental, além de incluir no texto outros nomes importantes como Zé Lelé e Rosinha. Quem nasceu e cresceu no interior, com avós presentes na caminhada, é impossível não sentir um leve aperto no coração na parte final. O visual de “Arvorada” está entre o que de melhor o Graphic MSP exibiu até agora ao lado de “Louco – Fuga”. A arte e a maneira encontrada por Orlandeli de relacionar as páginas não pode ser chamada de menos que bela, sendo que ainda assim, isso deve ser pouco. Leia, depois leia para o filho, sobrinho, o que for. E, se der, aproveite e compre ou empreste para o filho do vizinho ou do melhor amigo. Eles vão gostar.
Nota: 8
“Billie Holiday”, de José Muñoz e Carlos Sampayo (Editora Mino)
Entre tantas e tantas histórias trágicas no mundo da música a de Billie Holiday é uma das mais impactantes. A Lady Day (como ficou conhecida) foi uma das maiores vozes do jazz nos anos 30, 40 e 50, lançando dezenas de discos e falecendo precocemente aos 44 anos em 1959. Reverenciada (com muita razão) até hoje, nada foi fácil para ela. Filha de um casal adolescente, ela apanhava da família na infância, se prostituiu ainda garota para sobreviver, foi estuprada inúmeras vezes e presa outras tantas. Conheceu drogas e álcool desde cedo e levou os vícios durante a vida. Sofreu muito com o racismo e brigou contra ele do jeito que pode. Do outro lado de toda essa tragédia tinha o dom absoluto e magistral de cantar como poucas pessoas no mundo. Virou imortal dentro do jazz na mesma época de tantos monstros sagrados. A editora Mino, em mais um trabalho editorial brilhante, republica esse ano no país em capa dura a versão dessa história contada em quadrinhos pelos mestres argentinos José Muñoz (arte) e Carlos Sampayo (roteiro). Lançada originalmente como graphic novel nos anos 90, a história tem início em 1989, 30 anos após a morte da artista, quando um jornalista tem como missão elaborar um texto sobre esse fato, porém não conhece exatamente nada sobre o assunto. Ao ir pouco a pouco descobrindo a vida que retratará com palavras ele se depara com pinceladas fortes dos eventos resumimos acima. A arte em preto e branco com intenso realce nos contrastes é um personagem próprio da edição, um estilo já utilizado pelos autores em obras anteriores como na premiada “Alack Sinner”, que angariou fãs como Frank Miller que usou disso na estupenda “Sin City”. “Billie Holiday”, de Muñoz & Sampayo, e suas 80 páginas não tem a mínima condição de ficar fora da sua estante. Seria algo imperdoável.
Nota: 9
– Adriano Mello Costa assina o blog de cultura Coisa Pop: http://coisapop.blogspot.com.br