Boteco: 7 países, 7 cervejas

por Marcelo Costa

Começando mais uma série países com uma cerveja da Åbro Bryggeri, cervejaria fundada em 1856 em Vimmerby, cidade de 8 mil habitantes na província histórica da Småland, a cerca de 3 horas de carro da capital Estocolmo. Homenageando a região, a Åbro Småland é uma Premium Lager que se empenha na tentativa de reprisar as receitas de Pilseners tchecas. De coloração âmbar caramelada com creme branco de boa formação e média retenção, a Småland exibe um aroma com predomínio de malte sugerindo cereais, caramelo, biscoito, feno e pão doce. Na boca, doçura caramelada no primeiro toque seguida de leve aceno herbal e amargor baixo. A textura é suave e levemente cremosa num conjunto que prima pela refrescancia, ainda que com um tiquinho mais de corpo do que as tchecas tradicionais. O final é doce e refrescante, percepção que retorna no retrogosto acrescida de pão doce e cereais. Gostosa.

Da Suécia para a Dinamarca com uma nova maluquice da Mikkeller a bater ponto por aqui, Not Just Another Wit, uma Witbier com água, maltes Pale e Amber, trigo, aveia em flocos, casca de laranja, semente de coentro e muito lúpulo (Goldings, Amarillo, Saaz e Cascade). O resultado é uma cerveja de coloração alaranjada com creme bege clarinho de boa formação e retenção. No nariz, nada de Witbier, mas sim uma paleta de aromas que remete a uma APA lupulada com forte presença cítrica (laranja, toranja e manga) e percepção de levedura. Na boca, o primeiro toque traz caramelo, toranja e levedura surpreendendo o bebedor que aguardava uma witbier tradicional (ainda que o título avise: Not Just Another Wit). Na sequencia, muito cítrico aconchegante e nenhum amargor. A textura é levemente frisante. Dai pra frente surge um conjunto bastante saboroso, com notas cítricas, condimentação e refrescancia. O final é frutado enquanto o retrogosto oferece toranja e manga. Boa, mas não é um wit.

Da Dinamarca para a Alemanha com a segunda clássica da Hofbräu a passar por aqui (antes foi a HB Original), a Münchner Weisse, uma German Hefeweizen cuja história remonta apenas ao ano de 1589. De coloração amarela bastante turva com creme branco de bela formação e média retenção, a Hofbräu Münchner Weisse exibe o aroma clássico do estilo com frutado intenso remetendo a banana e levedura sugestionando condimentação (semente de cravo). Na boca, banana chega primeiro, mas o cravo surge logo na sequencia revelando um conjunto clássico e caprichado. A textura é suave e levemente picante com amargor subsequente baixo abrindo as portas para uma cerveja que honra a história de um estilo que ela ajudou a propagar através dos séculos. O final é levemente doce e frutado. No retrogosto, mais banana, mais cravo numa baita German Hefeweizen.

Da Alemanha para a Itália com mais uma Birra del Borgo surgindo na área, a 14ª da turma de Borgorse a passar por aqui: Castagnale, uma Brown Ale que recebe adição de castanhas que são secas sobre a madeira de castanheiro durante alguns dias e posteriormente utilizadas na produção de malte com uma concentração de 50% de castanha e 50% de cevada. De coloração âmbar acastanhada com creme bege claro de boa formação e média alta retenção. No nariz, advinha: castanhas e nozes dominam a atenção do bebedor. Há, ainda, leve cítrico e um toque defumado bem discreto, mas interessante. Na boca, castanhas e nozes no primeiro toque, mas menos impactantes do que se espera pelo aroma, muito porque há acentuado frutado cítrico que aparece logo na sequencia, e caramela com laranja as frutas secas. A textura é suave e o amargor baixo, deixando que a castanha e a laranja se destaquem num conjunto interessante que finaliza… acastanhado. No retrogosto, mais castanhas, leve caramelo e laranja. Boa.

Da Itália para Belo Horizonte, casa da Wäls, uma cervejaria bastante presente aqui no site. Depois da ótima Session Citra e da mediana Session Willy, os mineiros aparecem agora com a Session Haze, em que o destaque não é o lúpulo, mas sim a presença da levedura Vermont – que, segundo o release da casa, potencializa o lúpulo. De coloração amarela turva, levemente juicy, com creme branco de boa formação e permanência, a Wäls Session Haze apresenta um aroma frutado cítrico discreto sugerindo maracujá com levedura perceptível acrescentando condimentação. Na boca, doçura e maracujá bem suaves e muito agradáveis. Na sequencia, percepção de levedura com leve condimentação e amargor bem baixinho (28 IBUs). A textura é levemente suave com um toque picante. O conjunto se baliza na sugestão de maracujá e na forte atuação da levedura, que combinam e conseguem construir uma ótima cerveja. O final é macio. No retrogosto, mais levedura do que maracujá finalizando uma bela cerveja.

Do Brasil para Baarle-Hertog, cidade de menos de 3 mil habitantes na região da Antuérpia, na Bélgica, com a primeira cerveja da De Dochter van de Korenaar a marcar presença na lista: Charbon, uma Foreign Extra Stout cuja receita traz malte defumado além de duas adições de baunilha de Madagascar e Réunion, uma na fervura, outra na maturação. O resultado é uma cerveja de coloração marrom bastante escura com creme bege de ótima formação e longa retenção. No nariz, café suave em primeiro plano com baunilha na retaguarda – o defumado deve ter ficado na panela porque na taça não se percebe praticamente nada. Na boca, textura suave e doçura agradável de baunilha no primeiro toque e café surgindo na sequencia seguido por defumado discreto que poderia (pode!) muito ser da torra do malte (e não do malte defumado). Dai pra frente, um conjunto bem agradável, com a baunilha e o café combinando bem, mas o defumado fez falta. O final é amarguinho (de café) com baunilha, sugestões que retornam no retrogosto, aconchegante. Bem boa.

Da Bélgica para Portland, nos Estados Unidos, terra da Shipyard, que retorna ao Scream & Yell com uma Russian Imperial Stout da linha assinada pelo mestre cervejeiro Alan Pugsley cuja receita une maltes Pale, Crystal, Roasted Barley e Chocolate com os lúpulos Target, East Kent Goldings e Challenger. Na taça, a Shipyard Imperial Stout exibe uma coloração marrom quase preta com creme bege de boa formação e média retenção. No nariz, chocolate, café, baunilha e um defumado bem leve além de percepção suave dos 9.5% de álcool. Na boca, aconchego de chocolate no primeiro toque seguido de café bastante suave e sem amargor. A textura é suave e levemente sedosa (o álcool aparece mais facilmente sobre a língua) e o amargor médio, mas não se preocupe porque a maciez do conjunto irá oferecer suavidade, chocolate (mais ao leite do que amargo) e café suave. O final é macio e com leve baunilha. No retrogosto, chocolate ao leite. Bem boa.

Balanço
Os suecos quiseram fazer um Pilsener tcheca, mas conseguiram como resultado uma boa Premium Lager que tem um pezinho nas Kellers alemãs. Gostei. Já a Mikkeller Not Just Another Wit é uma ótima American Pale Ale que a cervejaria tenta vender como witbier. A função deles é vender, mas o resultado acaba confundindo o bebedor tradicional. Ainda assim, uma boa APA. A Hofbräu Münchner Weisse é uma clássica cerveja de trigo alemã. Toda vez que algum cervejeiro brasileiro tenta e tropeça no estilo, eu praguejo lembrando que uma baita Weisse como essa chega ao Brasil custando entre R$ 10 e R$ 14 e dificilmente uma nacional custará isso… e não entregará a mesma qualidade. Da Alemanha para a Itália com um experimento interessante da Birra Del Borgo, uma Brown Ale acastanhada com muita percepção de laranja. Doidinha, mas bacana. Já a Wäls Session Haze foi recebida com descredito (a Willy não bateu bem por aqui), mas surpreendeu e é uma baita cerveja na relação custo / benefício. A belga De Dochter van de Korenaar Charbon é uma Foreign Extra Stout bem macia, mas a promessa não cumprida de defumado fez falta. Já a Shipyard Imperial Stout é uma RIS elegante e macia. Delicinha.

Åbro Småland
– Produto: Premium Lager
– Nacionalidade: Suécia
– Graduação alcoólica: 5.2%
– Nota: 2,92/5

Mikkeller Not Just Another Wit
– Produto: American Witbier
– Nacionalidade: Dinamarca
– Graduação alcoólica: 7.6
– Nota: 3,38/5

Hofbräu Münchner Weisse
– Produto: German Hefeweizen
– Nacionalidade: Alemanha
– Graduação alcoólica: 5.1%
– Nota: 3,38/5

Birra del Borgo Castagnale
– Produto: Brown Ale
– Nacionalidade: Itália
– Graduação alcoólica: 6.5%
– Nota: 3,36/5

Wäls Session Haze
– Produto: Session IPA
– Nacionalidade: Brasil
– Graduação alcoólica: 4.4%
– Nota: 3,37/5

De Dochter van de Korenaar Charbon
– Produto: Foreign Extra Stout
– Nacionalidade: Bélgica
– Graduação alcoólica: 7%
– Nota: 3,48/5

Shipyard Imperial Stout
– Produto: Russian Imperial Stout
– Nacionalidade: EUA
– Graduação alcoólica: 9.5%
– Nota: 3,76/5

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