entrevista por Renan Guerra
Com coração metade hippie, metade punk, o Festival Morrostock chega sua 11ª edição em 2017. Com três dias de shows, espetáculos teatrais e oficinas, o evento bebe da fonte histórica de Woodstock para reavivar as experiências de liberdade, vida em comunidade e contato com a natureza de forma direta.
Este ano o Morrostock acontecerá na cidade Santa Maria, no Balneário Ouro Verde, de 1 a 3 de dezembro (ingressos à venda aqui), tendo como atração principal a banda Os Mutantes, ao lado de um line-up que inclui francisco, el hombre, Bloco da Laje, Mulamba, Cuscobayo, Selvagens à Procura de Lei, Ventre, Estrela Leminski e Téo Ruiz, My Magical Glowing Lens, Colleen Green e El Sonidero, entre outros.
Conversamos com Paulo Zé Barcellos, um dos idealizadores do evento, numa das Noites Morrostock, evento realizado em diversas cidades do Rio Grande do Sul durante o ano, trazendo diversos artistas da cena nacional para o interior gaúcho. Em nosso papo rápido, Paulo Zé falou sobre as expectativas para a edição deste ano e os detalhes sobre a produção de um evento desse porte:
Como é produzir um festival de música no Brasil? Sabemos que já há complicação mesmo nos grandes centros, então produzir um festival de música no interior deve ser ainda mais complicado, não?
Claro, existem muitas complicações mesmo para se fazer festivais no Brasil, porém cada festival é um festival, cada um tem suas características mais peculiares, seus perrengues de produção. O que tenho sentido no Morrostock é que, com o passar dos anos, até chegarmos à décima edição, a gente sempre meio que buscou uma, como é que eu vou te dizer, a gente fez muito mais festivais que eles se pagaram pela bilheteria e pela copa, pela praça de alimentação, do que por fomento ou edital ou lei, nesse sentido. Quando tu faz um festival nesses moldes e que tu depende disso pra pagar o festival, tu tem que criar um conceito, criar um diálogo, tem que criar uma história muito maior em volta dele, porque tu cria um público que vira potencializador, ele continua indo em algumas edições e quando ele para de ir, ele deixou várias pessoas potencializadas que também estão indo. Então, a dificuldade de criar esse conceito, é muito importante. E aí tem essas dificuldades de festivais como o Morro, que é em áreas rurais: as estradas não são as melhores possíveis e tem que encarar tormenta, chuva, vento e uma série de outros problemas que um festival mais em zona central, numa estrutura, ou numa parte do país que não chove tanto – aqui no Sul tem muita chuva, muito vento, muita tormenta. O desafio das intempéries da região geográfica onde tu está fazendo o festival, não só no Brasil como em qualquer lugar. Mas existe uma oferta muito grande de bandas…
Sim, e você entende que esse tipo de festival é um espaço importante para essas bandas que às vezes não tem tanto espaço para tocar? Tanto que vocês fizeram um edital de seleção para artistas que teve mais de 400 inscrições, então as pessoas entendem o Morrostock como um espaço que elas curtem tocar…
Mais que isso, elas vêem a visibilidade que o festival pode dar, por que é o público que migra pra lá, é um público de muitas cidades, então é um belo lugar para ti executar a tua música, com um som profissional, pois é um festival que preza por condições mais legais pros artistas – dentro das nossas possibilidades, obviamente. Essa oferta de bandas está bem grande que teríamos que fazer mais festivais para comportar. Elas vêem essa possibilidade de sair desse festival e ir pra outro festival, com muitos isso acontece. Tu vai tocando em festivais, tu vai aumentando o público, então por isso também é importante pras bandas virem. E também o Morro poder estar incentivando essa cena mais regional, do Rio Grande do Sul, e tentando colocar essas bandas num melhor posicionamento perante o mercado nacional, de outros festivais, mais para o Norte do país. Que essa migração do Sul pro Norte está menor, claro, a gente é o último estado, então todos os outros estados tem que vir, não dá pra gente só ir, é lógico que vai ser sempre menor, mas ela está muito baixa de bandas saindo pra outros festivais maiores, tipo Do Sol, Bananada. O Bananada botou um [do Sul], mas era um showcase. DoSol não sei se terá algum, Cerrado não tem nenhum, o Mada não tô lembrado se tem alguma coisa. E o Sul, mudando de assunto agora rapidamente, está meio que se tornando um celeiro desses festivais em área rural né? Já são vários, tem vários outros que são pouco conhecidos e é uma característica que vem se firmando aqui na região: Rio Grande do Sul, Santa Catarina… é aquela coisa do Psicodália que é o grandão; depois o Morro pegou um público que ia no Psicodália, mas não vai mais porque agora é muito caro; outro público igual está indo no Psicodália, todos têm seu público. E tem também uma galera que pode não estar mais indo no Morro, mas tem uma galera nova chegando, essa galera está indo no Grito da Terra, então os festivais também vão se retroalimentando, além das bandas.
Nessa edição vocês trarão Os Mutantes pro Festival que acontecerá em dezembro, quais as expectativas para o evento desse ano?
A expectativa é que a gente consiga colocar 2.500 pessoas lá dentro e que as 2.500 pessoas saiam de lá felizes da vida, que a gente consiga fazer um festival organizado, coeso, dentro da proposta e do conceito que é o Morrostock, procurando tratar o público da melhor maneira que a gente puder: tentar no máximo evitar filas – apesar de que sempre vai ter –, agilizar vários pontos de comida, vários pontos de bebida, alinhar bem a coisa, banheiros secos, se precisar vamos botar banheiro químico, banho quente, banho frio. Toda uma programação bem legal e que a gente consiga colocar entre 2000, 2500 pessoas lá, que seria o nosso objetivo, nosso ideal, por isso também a gente chamou Mutantes e está unindo com todas as outras bandas que a gente está anunciando.
– Renan Guerra é jornalista e colabora com o sites A Escotilha. Escreve para o Scream & Yell desde 2014.