entrevista por Marcos Paulino
Quando Nando Reis gravou “O Mundo É Bão, Sebastião” em 2001 (no álbum “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”, dos Titãs), o Sebastião da música, seu filho, tinha 7 anos. “Amo essa música, e cada vez ela faz mais sentido pra mim”, conta Sebastião, que hoje, aos 22 anos, segue os passos do pai, ao lado de seu irmão, Theo, na banda Dois Reis, cujo nome, óbvio, dispensa explicações. “Na minha família, a música sempre esteve presente”, avisa Sebastião em entrevista ao Mundo Plug, parceiro do Scream & Yell.
Sebastião e Theo estão lançando agora “Dois Reis”, seu primeiro disco cheio, basicamente um álbum de rock, mas com elementos de folk, pop e balada. E fortemente influenciado pela estética dos anos 70, o que fica evidenciado até no figurino da dupla. A banda tem Sebastião no violão e Theo nos vocais, acompanhados por Victor Barreto, na guitarra; Rafinha Wer, na bateria; Gabriel Gariba, no baixo; e Pedro De Lahoz, no teclado. “Desde o começo da banda, as pessoas nos cobravam para gravar, mas queríamos um bom primeiro disco”, diz Sebastião.
Sebastião já havia participado de algumas apresentações do Zafenate, antigo grupo de Theo, de quem veio a ideia de fazerem um projeto juntos cantando as músicas de Nando. Desde então, dedicaram-se a maturar o som próprio. O resultado pôde ser ouvido no Superstar, da TV Globo, em 2016. Uma das músicas que os irmãos apresentaram no reality foi a balada “Repartir”, incluída no disco de estreia, no qual, garante Sebastião, Nando deu poucos pitacos. “Ele sempre deixou a gente muito livre pra fazer as coisas do nosso jeito, mas claro que tem muita influência dele”, admite. Confira a seguir a entrevista na íntegra.
Em que momento você e o Theo, que tocaram em bandas diferentes, decidiram trabalhar juntos?
Na minha família, a música sempre esteve presente, então sempre tocamos juntos. Comecei a tocar violão com 8 anos, parei e voltei com 14. Aí montei uma banda e a música começou a ficar mais presente na minha vida. Comecei a fazer participações nos shows do Theo e passamos a ficar mais juntos, até pra ensaiar. Em 2013, indo pra Santos, o Theo deu a ideia de fazermos alguns shows tocando lados B do meu pai, músicas que a gente curte e ele não toca nos shows. Iriam ser só quatro shows, mas nesses quatro anos as coisas mudaram bastante. Começamos a compor e a pensar realmente numa banda autoral.
Tem o EP de 2015, mas um disco cheio demorou quatro anos para sair desde o início da banda. Por que foi necessário esse tempo todo?
Pra amadurecer o som, que queríamos que tivesse a nossa cara. Desde o começo da banda, as pessoas nos cobravam para gravar, mas queríamos um bom primeiro disco. Quando começamos, eu tinha 17 anos, então foi bom esse tempo. Entrei na faculdade de música, passei a estudar mais, amadureci não só meu som, mas como pessoa também. Nesse tempo, pudemos gravar o disco com calma e com a sonoridade que a gente estava buscando e achou.
A influência da década de 70 no trabalho de vocês ultrapassa a música e chega até a maneira de se vestir. De onde vem essa inspiração?
Das coisas que eu escutava com meu pai, do que ele me mostrou e me formou. As bandas dessa época têm uma sonoridade de que gosto muito, acho que é a década que mais curto na música, em relação a todos os estilos, rock, reggae, soul, MPB. Isso é o que a gente escuta mais, então fomos buscar pro nosso som também. Não como uma coisa datada, mas como uma influência daquilo que a gente gosta.
Óbvio que vai haver uma influência do Nando no trabalho de vocês, com dicas, orientações, palpites ou avaliações. Mas até que ponto ele participa efetivamente?
Muito pouco. Pra você ter uma ideia, começamos o processo de gravação em setembro do ano passado, e meu pai foi só duas vezes ao estúdio nesse período. Ele sempre deixou a gente muito livre pra fazer as coisas do nosso jeito, nunca impôs nada. A gente é que às vezes ia pedir a opinião dele. Mas claro que tem muita influência dele.
Várias faixas de “Dois Reis” lembram o som do Nando, até no modo de cantar. Elas tomaram essa forma naturalmente então?
Acho que é natural, sim. Aprendi muito com ele, assim como meu irmão. E o timbre de voz do Theo é parecido com o dele. Isso faz lembrar a música dele, realmente.
A família é uma referência que vocês assumem até no nome da banda. Ter uma pessoa famosa tão próxima ajudar a abrir portas, mas também gera comparações. O que você acha que pesa mais: o lado legal ou o lado chato disso?
O lado legal, com certeza. Como decidimos seguir o mesmo caminho do meu pai, que é uma referência na música brasileira, é normal as pessoas nos olharem com uma régua de comparação, não tem como fugir disso. Mas, por outro lado, sempre tivemos contato com a música, ela veio naturalmente até nós. Enfim, como em tudo, tem o lado bom e o lado ruim.
Como foi participar do “Superstar” e ter o trabalho de vocês comparado ao de outras bandas?
Gostei de ter participado, sempre quis ter essa experiência na TV, porque lidar com isso faz parte do trabalho como músico. É um pouco estranha essa história de competição, porque música não é isso, mas foi animal porque conheci várias bandas, fiz muitos amigos. Foi uma ótima experiência pra banda e pra eu poder crescer como pessoa.
Como vocês montaram os shows?
Tocamos basicamente as músicas do disco e mais algumas influências, como Secos e Molhados, Rita Lee da época do Tutti Fruti… Estamos programando o show de lançamento pra outubro.
Quantas vezes já te perguntaram se o mundo é bão, Sebastião?
[Risos] Todo dia me perguntam. Amo essa música, ela faz parte da minha vida. Estou lançando meu primeiro disco e cada vez ela faz mais sentido pra mim.
– Marcos Paulino é editor do site Mundo Plug (www.mundoplug.com)
A música de trabalho deles que está tocando na rádio é Nando Reis total (o que era esperado) mas pelo menos é boa, e atualmente isso já é um grande passo visto o pop rock atual recente que anda tocando por aí
Eu me surpreendi, viu. Não estava levando tão a sério, mas gostei do disco.
Também tô surpreso. O Zefenate era horroroso, mas o Dois Reis tem o que oferecer. Curioso para ver ao vivo.