por Marcelo Costa
Titulo italiano: In Guerra Per Amore, de Pierfrancesco Diliberto – PIF (2016)
Título no Brasil: “Em Guerra por Amor”
1943. O mundo todo está com olhos atentos à Europa, com a Segunda Guerra Mundial em pleno curso. Em Nova York, porém, o siciliano Arturo Giammarresi (o ator, diretor e roteirista Pif) só tem olhos para a bela Flora (Miriam Leone, a Miss Itália 2008), com quem mantém um romance secreto, afinal ela é neta do dono do restaurante chique em que ele trabalha, e o avô com jeitão de mafioso já prometeu a mão da garota para o filho de um futuro “sócio”. A única saída para Arturo é pedir a mão de Flora em casamento ao próprio pai da amada, mas há um pequeno percalço: Arturo é um pobre funcionário nos EUA e o pai de Flora está na Sicília. Porém, o cupido dá uma ajudinha ao nosso herói, que na tentativa de pronunciar “water” num bar diz “war”, faz amizade com um tenente do exército norte-americano, que está convocando soldados (principalmente aqueles que conheçam o território) para a invasão que os Estados Unidos pretendem fazer na Itália de Mussolini, começando pela Sicília, e ganha uma passagem para o Velho Mundo… e para a guerra. Com momentos cômicos deliciosos e uma fotografia caprichada que valoriza um dos cartões postais mais belos da Itália (a pequena cidade de Erice foi a principal locação do filme, que ainda teve cenas gravadas nas salinas de Trapani e na Scala dei Turchi), “Em Guerra Por Amor” engana divertidamente o espectador: começa como uma comédia pastelão tolinha para inserir dramas pontuais no meio e finalizar discutindo um tema assustador: o empoderamento da máfia siciliana durante o período de domínio do exército aliado. O discurso final do mafioso local é daqueles para se causar arrepios num filme que, nos primeiros segundos, oferece-se como uma “homenagem a Ettore Scola”, e cumpre a tarefa de divertir, enternecer e fazer refletir. No paraíso dos grandes cineastas, Scola sorri.
Nota: 7
Titulo italiano: L’ora Legale, de Ficarra e Picone (2017)
O grande sucesso de bilheteria na última temporada na Itália, “L’ora Legale”, dirigido pelo duo de comediantes Salvatore Ficarra e Valentino Picone, tem como foco uma pequena cidade siciliana, a imaginaria Pietrammare, às vésperas de uma nova eleição para prefeito, pleito que divide os moradores, incluindo dois irmãos: Salvatore (Ficarra), que apoia o atual prefeito, candidato a reeleição, ainda que acusado de irregularidades e corrupção em sua gestão, que abandonou a cidade e favoreceu amigos; e o irmão, Valentino (Picone), que faz campanha para o seu cunhado, o professor Pierpaolo Natoli (Vincenzo Amato), que quer promover uma nova gestão mudando os maus hábitos dos cidadãos. Entre os planos do professor estão instaurar a coleta seletiva e ciclovias na cidade tanto quanto multar (e se preciso, fechar) as fábricas da região que poluem o ambiente e derrubar as casas construídas ilegalmente na orla da praia (a cidade de Termini Imerese foi usada como locação). Tudo isto está no panfleto que distribui a população com seu plano de governo, caso vença, mas qual cidadão realmente lê os planos de um candidato antes de votar em lugar que for do mundo (Brexit taí pra provar)? O professor então é empossado prefeito, e começa uma série drástica de mudanças que melhora a cidade, mas não perdoa ninguém (nem o próprio cunhado). Assustados com a “indústria da multa” (se lembra desse termo, leitor?), o povo (que viveu durante séculos num mundo de pequenos delitos diários que não eram punidos) pede a renúncia do prefeito, que promete endurecer a briga. Fábula divertidamente cômica e tristemente real, “L’ora Legale” versa com inteligência sobre democracia e interesses para mostrar que grande parte das pessoas (italianas, brasileiras, paulistanas) não quer um mundo melhor para todos, mas sim honrar a Lei de Gérson: levar vantagem sozinha em tudo. Um ótimo filme para rir, refletir… e chorar.
Nota: 7
Titulo italiano: Qualcosa di Nuovo, de Cristina Comencini (2016)
Título no Brasil: “Algo de Novo”
Lucia e Maria são duas mulheres divorciadas na casa dos 40 e poucos anos, melhores amigas desde os 20 que mantém desde aquela época a rotina de tomar café juntas aos domingos, quando possível, para atualizar as conversas. Durante a semana, as duas não largam do celular enquanto uma (a pé no chão Lucia) tenta colocar ordem na vida da outra (a sonhadora Maria). Lucia é uma cantora de jazz que foi casada com um saxofonista genial, que não se mostrou tão genial no casamento, o que a frustrou com o amor, para o qual ela se diz fechada. Já Maria é mãe de dois filhos, e como o relacionamento com o pai deles não deu certo, ela segue o lema do divertido livro “Dez (Quase) Amores”, da gaúcha Claudia Tajes: “Enquanto o homem certo não aparece, me divirto com os errados”. Essa deliciosa oposição de personalidades move “Algo de Novo”, deliciosa comédia romântica da cineasta romana Cristina Comencini (de “Adoráveis Mentiras”, 1990; “Vá Onde Seu Coração Mandar”, 1997; “O Mais Belo Dia de Nossas Vidas”, 2002; e “Latin Lover”, 2015), que apimenta a história ao jogar um jovem de 19 anos nos braços das duas amigas de 40: Maria (Micaela Ramazzotti) sai uma noite de sábado para dançar, enche a cara, se envolve com Luca (Eduardo Valdarnini) e o leva pra casa. No domingo de manhã, acordada por Lucia (Paola Cortellesi) para o café tradicional, ela nem lembra o rosto do ficante, muito menos seu nome, e acha que ele já foi embora. Julgada pela amiga, que insiste para que ela tome jeito, Maria sai de casa para comprar pão e pensar. Nesse momento, Luca acorda, e tão bêbado quanto Maria na noite anterior, não se lembra direito com quem ficou, e acha que Lucia é a pessoa. Está formada a confusão. Esse triângulo shakespeariano (que Comencini havia escrito para o teatro como “La Scena”, e feito bastante sucesso) diverte o espectador com um roteiro esperto, boas atuações do trio central de atores, imagens de Roma e a pureza de olhar o amor intergeracional como ele deve ser: possível.
Nota: 7
– Marcelo Costa (@screamyell) edita o Scream & Yell e assina a Calmantes com Champagne