Três HQs: Thanos, Vader e Super-Ego

por Adriano Mello Costa

“Thanos: Revelação Infinita”, de Jim Starlin e Andy Smith (Panini Comics)
Jim Starlin é um dos maiores ases dos quadrinhos quando se fala em temas cósmicos e espaciais. Foi ele que criou Thanos, o Titã Louco, nos anos 70, e com ele produziu sagas memoráveis como “Desafio Infinito”. Mas o trabalho de Starlin vai além: ele criou também Dreadstar e fez trabalhos estupendos a frente do Capitão Marvel e “Morte em Família” e “Odisseia Cósmica” pela DC. São credenciais e tanto, temos que convir. Em 2014, o autor voltou para aquele que já declarou ser seu personagem favorito e concebeu “Thanos: Revelação Infinita”, onde é responsável pelo roteiro e pelos desenhos que contam com a arte-final de Andy Smith. A obra é inserida dentro de uma linha da Marvel chamada OGN (Original Graphic Novels) que apresenta histórias fechadas fora da cronologia normal, porém de acordo com bases já concebidas anteriormente de modo geral. Essa linha já teve os Vingadores e o Homem-Aranha nas primeiras edições e agora abre caminho para um dos vilões mais poderosos e insanos do universo. Jim Starlin exibe um Thanos meio cansado com tudo e que, aos poucos, nota uma inconformidade pairando no ar, algo que diz que as coisas não andam da maneira correta. Isso passa a lhe incomodar e acrescenta o ânimo que faltava para mandar o cansaço embora e sair singrando pelas estrelas atrás de respostas, sendo uma destas de fundamental importância. Como parceiro da missão está o ressuscitado Adam Warlock, um de seus maiores inimigos e o catálogo de personagens estelares da Marvel bate ponto com nomes como Surfista Prateado, Guardiões da Galáxia, Ronan, o Acusador e o Gladiador dos Shiar. “Thanos: Revelação Infinita” tem tudo que os fãs das aventuras espaciais gostam e se deliciam sob a batuta de um mestre desse cenário. Contudo, é uma obra menor do autor com Thanos se compararmos com o que ele já fez antes. Nem mesmo os mestres conseguem sempre a excelência.

Nota: 6

“Star Wars Darth Vader: Vader”, de Keiron Gillen e Salvador Larroca (Panini Comics)
Em 2015, a Marvel iniciou novas séries utilizando o universo de Star Wars. Para o britânico Keiron Gillen (Homem de Ferro) coube elaborar os roteiros com a missão de entrar na cabeça de um dos mais simbólicos vilões da cultura pop mundial: Darth Vader. Com a arte limpa e repleta de detalhes do espanhol Salvador Larroca (X-Men), a dupla contou parte da história da saga sob o ponto de vista do mais tenebroso dos Lordes Sith. Essa fase inicial já fora lançada aqui no Brasil pela Panini Comics em revistas mensais que, para quem perdeu, a editora reúne agora em um encadernado de capa cartonada com as seis primeiras edições originalmente lançadas nos EUA entre março e agosto de 2015, dando nova chance para quem não leu. São 152 páginas ambientadas logo após a destruição da Estrela da Morte e da batalha de Yavin retratada no primeiro filme da franquia em 1977. A Aliança Rebelde está animada com a inesperada vitória e Vader sofre pressão do Imperador Palpatine por conta disso e é inclusive remanejado para acatar ordens de terceiros. Nesse cenário e ainda buscando coisas pessoais que o Império não tem conhecimento como saber mais sobre o jovem responsável pelo revés e se inteirar de uma provável armadilha preparada contra si pelo próprio lado, Vader recruta uma arqueóloga criminosa chamada Aphra que traz consigo dois droides malucos e assassinos chamados Triple-0 e BT-1. “Star Wars Darth Vader: Vader” é alinhada diretamente com as demais revistas da mesma safra, mas pode ser lida normalmente sem conhecimento destas, o que é sempre bom. O desafio de Gillen e Larroca não era dos mais fáceis, pois tratar de algo desse tamanho é sempre delicado no que concerne ao recebimento dos fãs e ainda tentar ir além e agregar novos leitores. Porém, a dupla tira isso de letra e – mesmo que já se conheça como as coisas vão terminar – faz com que a jornada seja tão representativa quando o destino final.

Nota: 7,5

“Super-Ego – Assuntos de Família”, de Caio Oliveira e Lucas Marangon (Independente)
É raro hoje em dia encontrar algo dentro do metiê dos quadrinhos de heróis que já não tenha sido feito ou abordado outrora. Na verdade, é comum agraciarmos novas leituras de ideias já exploradas antes em grau menor ou maior, desde que bem realizadas e com novas nuances adicionadas. Porém, o quadrinhista piauiense Caio Oliveira conseguiu essa façanha em “Super-Ego”, HQ lançada no início de 2017. A obra já havia sido publicada virtualmente no Sequential Link (vale bem conhecer o site: http://www.sequentialink.com) e em versão impressa nos EUA pelo selo Magnetic Press. Para a edição nacional o autor recorreu ao financiamento coletivo e o sucesso da empreitada gerou uma publicação cuidadosa, repleta de extras e bônus como várias artes por nomes diversos dos quadrinhos. Com capa de Glenn Fabry (Preacher) a história do Dr. Eugene Goodman (que chama a si próprio de Dr. Ego) traz também as precisas cores de Lucas Marangon sobre a arte de Caio Oliveira. A abordagem central de “Super-Ego” é a seguinte: mesmo com todos os poderes que possuem e a imagem que transmitem para o público em geral, tanto heróis quanto vilões também sofrem (e muito) de angústia, medo, ansiedade, insegurança. Já vimos a premissa antes, lógico, mas não dentro de um consultório e visto pelo olhar do psicólogo que atende esses indivíduos. Caio Oliveira mostra a mesma pegada satírica e bem-humorada já vista em trabalhos seus como “Alan Moore, Mago Supremo” e “All Hipster Marvel” e destroça conceitos e clichês do mundo dos superseres. Até quando faz revelações na trama e envereda para o clássico embate do bem contra o mal faz isso de maneira inteligente e arrojada, despejando sem perdão complexos e frustrações pelo meio do caminho. Tanto a história quanto os bônus da edição (como as anotações do Dr. Ego sobre cada paciente) fazem de “Super-Ego” desde já um dos melhores lançamentos do ano em terras nacionais. Que venha uma sequência.

Nota: 9 (compre aqui)

– Adriano Mello Costa (siga @coisapop no Twitter) assina o blog de cultura Coisa Pop

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