por Erick Cruxen
Hoje faz uma semana que zarpamos de São Paulo rumo a Europa partindo para nossa quinta turnê internacional. Fizemos apenas dois shows ainda (Duisburg e Colônia), mas já posso afirmar: nunca estivemos tão preparados e fizemos apresentações tão intensas por aqui. Não sei se são as músicas novas do álbum “Gehenna” (2016), o equipamento, nossa vivência, ou a soma de todos os fatores. Como de costume, estamos sendo absurdamente bem tratados na Alemanha: o pessoal das bandas de post rock, Kokomo e Magma Waves nos ofereceram estadia em seu QG, um estúdio/espaço de show maravilhoso, onde, além de dormir na primeira semana, pudemos ensaiar, principalmente com o percursa belga Tom Malmendier, que está substituindo o japa (Ricardo Hiroito), que não pôde vir devido ao trampo.
Mais um fator para o shows estarem empolgantes é que além da amizade e simpatia de Tom, as percussas estão em perfeita harmonia com a batera da Muriel, algo que temíamos, devido ao pouco tempo para ensaio. Pela segunda vez, o pessoal do Kokomo nos deu suporte, ainda nos ajudando com boa parte do equipamento, e com as nossas necessidades de logística. Pretendemos levá-los em breve para o Brasil, pois é uma banda sensacional. As duas apresentações (em Duisburg e Colônia) foram em locais não muito grandes, com um público que delirou no show, dançando, gritando, pedindo bis e comprando bastante merchandising do Labirinto (outro diferencial dessa tour: nunca tivemos tanta diversidade de material e com tamanha qualidade na nossa banquinha). Hoje acordamos no 79 Sound, local em Colônia, que tocamos ontem. Vamos aproveitar que temos day off, e levar uma das guitars que quebrou durante a apresentação, para um luthier em Duisburg. Próxima parada: Aalst, Bélgica.
Depois de Colônia tivemos uns dias de folga, algo que foi providencial, pois uma das guitarras caiu na loucura do show e rachou o headstock. O pessoal do Magma Waves nos indicou alguns luthiers para arrumá-la. No caminho de Colônia, indo para nosso QG (estúdio do Kokomo em Duisburg), passamos na Music Store, uma das maiores lojas de instrumentos do mundo. Quando estávamos conversando entre nós em português, um funcionário ouviu e brincou na mesma língua. Era o baiano Geu Ventura, nosso salvador, 16 anos na Alemanha, e dono de uma simpatia ímpar. Ele não só levou nossa guitarra para o luthier da loja arrumar como pediu o serviço como se fosse pra ele, diminuindo absurdamente o orçamento. Após separarmos nossas roupas em mochilas menores, para o restante da viagem, e com a guitarra em mãos, partimos em direção a Aalst na Bélgica. No caminho paramos em Gent, nas lojas de discos da Consouling Sounds e Dunk Records.
Chegamos no Cirque Mystic, um espaço de show situado em uma rua agitada e cheia de bares frequentados por estudantes locais. Muito bacana, no evento estavam três grandes amigos: a belga/brasileira Sophie, o belga Joris (um dos organizadores do Dunk Festival) e o guitarrista do Amenra Mathieu (que compôs em parceria conosco uma das músicas do disco “Gehenna”). O show foi muito intenso. Tocamos com os norte-americanos gente fina do Pray For Sound, banda muito boa de postrock de Boston, e que está em tour na Europa pra tocar no Dunk Festival. No dia posterior partimos em direção a Paris, onde tocamos novamente com o Pray For Sound e a banda francesa Lost in Kiev. A apresentação foi uma das mais legais da tour, até o momento: som incrível, bandas muito boas e público alucinado. O espaço de show, Batofar, é um barco ancorado em pleno Rio Sena, no coração de Paris, onde rola show, balada e restaurante. Que lugar sensacional! Após o show fomos para o hotel, pois teríamos que partir em uma viagem de dois dias de viagem. Próxima parada: Lisboa!
Saímos de Paris no outro dia após o show e partimos em direção a Lisboa, pois o show que faríamos em Bourdeaux foi cancelado. Eram pra ser mais de 12 horas seguidas até a capital de Portugal, mas o pessoal da organização do show e da banda Lost Kiev nos conseguiu uma hospedagem no meio do caminho, na casa do amável Jerome, um músico que morava em uma área montanhosa esplendorosa na França – por pouco não ficamos sem combustível, pois chegamos ao local após às 2 da matina. No outro dia rumamos para Lisboa, onde fizemos nossa apresentação no Sabotage, uma casa de shows antológica, onde já tocaram muitos artistas conhecidos, mas com um diminuto espaço de palco paras bandas, certamente o menor que pegamos em toda tour. Tocamos novamente encerrando o evento depois do Then They Flew, e foi uma bela apresentação, com o público pedindo bis e curtindo muito. Na plateia estavam amigos brasileiros e portugueses, alguns que trabalharam em um dos shows da nossa primeira tour na Europa.
ormimos no hotel em Lisboa e partimos no dia seguinte para a maravilhosa Porto, uma cidade sensacional, na qual sempre somos muito bem acolhidos. Tocamos no Cave 45, espaço de shows muito bacana, que nunca havíamos nos apresentado. Abrindo a noite teve o projeto de ambient/ drone Gossamers, e, logo após, o Labirinto subiu no palco. Foi um dos shows mais intensos e porradas da tour, uma grande sinergia com o público. Após o show demos uma entrevista, conversamos com o pessoal do festival Amplifest e fomos descansar, pois teríamos um dia inteiro de estrada: partimos e dormimos em Zaragoza, na Espanha, e no outro dia seguimos para Barcelona, onde nos apresentamos no Be Good, junto com a Astralia, banda de post rock catalã. Foi um grande show, com som e luz de primeira, e a casa lotada, um dos melhores da tour, certamente. Dormimos e no dia seguinte fomos em direção a Cordenons, na Italia. Tivemos um dia de estrada pernoitando em Piacenza, e no outro dia realizamos nosso oitavo show, agora com a abertura da banda Italiana, Thalos. Próxima parada: Romênia.
Após sairmos da Itália, percorremos 16 horas de estrada em direção à Cluj, na Romênia. Foi uma das paisagens mais bonitas de toda a turnê, mas também com as estradas mais perigosas. O trajeto era cheio de caminhões, um percurso lento passando por diversas cidades e vilarejos romenos com construções muito peculiares. Atravessamos boa parte da Transilvânia (florestas) e paramos para dormir em uma pequena cidade. No outro dia acordamos e fomos direto a Cluj. Pela primeira vez tocaríamos na Romênia, e percebemos desde o início que as pessoas eram muito simpáticas e mais extrovertidas. Fizemos uma das melhores apresentações da turnê, fechando a noite depois do Sky Swallows Challenger. O público foi maravilhoso, e o som estava primoroso. No outro dia, fomos em direção a Brno, na República Tcheca. Mais 9 horas de estrada e chegamos no Vegalité, um espaço de shows ativista/restaurante vegano no qual participamos de um evento beneficente. O show foi um dos mais imprevisíveis e surpreendentes, pois não imaginávamos qual seria a receptividade do público… e foi sensacional: sem palco e sem muita estrutura, mas empolgante, principalmente pelo público. Terminando a apresentação, fomos descansar, pois no dia seguinte iríamos para Bratislava, na Eslováquia, para fazer nosso terceiro show em três dias, e o último de toda turnê.
O nosso último show foi no festival Whoneedslyrics!?, em Bratislava, onde tocamos em 2015 também. Além do Labirinto tocaram a banda francesa Lost in Kiev (nossa segunda apresentação juntos), os lituanos do Autism e os russos do IKWC. O evento foi muito bacana, com um ótimo público que gritava e aplaudia durante todo nosso show. Havia muitas pessoas com camisetas antigas do Labirinto, muitos nos assistindo novamente, e outros se locomovendo até 12 horas vindos de outros países. Não existe nada mais recompensador para uma banda instrumental de pós metal brasileira do que todo esse carinho. No dia seguinte voltamos para Alemanha, em Duisburg, onde devolvemos o equipamento que os amigos do Kokomo haviam nos emprestado. Seremos eternamente gratos a eles por todo suporte que nos deram, pela segunda vez. Após subirmos as escadas do estúdio com parte do equipamento pela última vez, partimos em direção a Frankfurf, onde devolvermos a van para a empresa de locação, com outra parte do equipamento que usamos. Fomos para o hotel e arrumamos as malas, separando o que cada um levaria (guitarras, cabeçotes, pedais, discos, merchan do Labirinto e nossas coisas pessoais). No outro dia, Kiko e Felinto pegaram o avião para São Paulo, enquanto eu, Muriel e Hristos partimos para Berlim para encontrarmos com o dono da Pelagic Records, nosso selo. Aproveitamos para descansar e curtir um pouco a cidade das infinitas possibilidades. Foi muito gratificante e intensa essa última turnê. Seremos sempre gratos por conseguir realizar algo tão prazeroso para uma banda: conhecer lugares e pessoas maravilhosas e ainda poder mostrar para outros povos nossa música. Em breve tem mais.
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